Reverendo Amilton blinda na CPI autoridades do governo Bolsonaro

O religioso não convenceu os senadores sobre a forma rápida em que foi recebido no Ministério da Saúde para vender vacinas. Ele disse que não conhecer nenhuma autoridade do governo

O reverendo Amilton de Paula durante depoimento na CPI (Foto: Pedro França/Agência Senado)

Sem conhecer ninguém no governo Bolsonaro, o reverendo Amilton Gomes de Paula enviou um e-mail ao Ministério da Saúde para vender vacina no dia 22 de fevereiro, às 12h, e foi recebido no mesmo dia na pasta às 16h para tratar sobre o assunto. Embora não tenha recebido um retorno, o religioso seguiu para a sede do ministério quando foi recepcionado pelo então diretor do Departamento de Imunização, Laurício Monteiro Cruz.

Um depoimento que não convenceu ninguém na CPI. A fala do reverendo deixou claro que estava protegendo alguma autoridade do governo Bolsonaro que possibilitou a abertura de portas para que ele intermediasse a venda da vacina. Trata-se de um depoimento constrangedor.

Na ocasião, em que foi recebido em tempo recorde no ministério, o reverendo estava acompanhado do cabo da PM de Minas Gerais Luiz Paulo Dominguetti, preposto de Cristiano Carvalho, representante comercial da empresa Davati Medical Supply, que ofertava 400 milhões de doses da AstraZeneca.

Amilton disse que intermediava a venda da vacina movido por ações humanitárias, mas reconheceu que receberia em troca uma doação para Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), uma ONG que ele criou em 1999.

Laurício Cruz deu aval ao reverendo Amilton para negociar com a Davati a compra das vacinas, mesmo sabendo que nenhuma das empresas era representante oficial da AstraZeneca.

Amilton contou ainda com uma carta de recomendação do deputado federal Roberto de Lucena (Podemos-SP), autor de um projeto de lei que libera a compra de vacinas contra a Covid-19 pelas empresas privadas.

No ministério, o reverendo ainda se reuniu com o ex-secretário executivo Elcio Franco, o braço direito do ex-ministro Eduardo Pazuello, e o ex-diretor de Logística Roberto Dias.

No mesmo tempo em que garantia tratamento privilegiado para o reverendo, o governo Bolsonaro ignorava 101 emails da Pfzier com oferta de vacinas e três propostas do Instituto Butantan.

“Isso não está colando”

“Reverendo, com muita sinceridade? Não fecha a forma como o senhor chega ao Ministério da Saúde, porque, se eu agora receber dez prefeitos do meu Estado e for lá no Ministério da Saúde, não vou ser recebido porque eu tenho que marcar uma audiência, marcar um horário para ir. Vossa Excelência sai num Uber, num táxi, chega ao ministério e é recebido? Isso aí não cola, isso aí não está no script de ministério nenhum. Só se a pessoa tiver livre acesso na hora em que quiser, coisa que o senhor está dizendo que não tem relação. Então, isso aí não está colando”, criticou o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM).

“É inacreditável! Estamos diante de um enigma! Como o reverendo Amilton conseguiu agendar tão facilmente reunião no Ministério da Saúde e a Pfizer não? Qual era a prerrogativa?”, afirmou o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Bravata

Por orientação do advogado, o reverendo se declarou um bravateiro por ter usado o nome de Michelle Bolsonaro num diálogo com Dominguetti quando havia dito que a primeira-dama havia “entrado no circuito” das negociações da vacina.

Também entrou em contradição ao declarar que não conhecia nenhuma autoridade do governo. Questionado, revelou que foi filiado ao PSL e fez campanha a presidente para Bolsonaro. Também não lembrou da foto que tirou ao lado do senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 do presidente.

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