Coronel Helcio se cala na CPI diante dos escândalos na venda de vacina

Dirigente do Instituto Força Brasil (IFB), uma ONG que propagou fake news sobre Covid-19, o militar é suspeito de facilitar a negociação fraudulenta para a venda ao Ministério da Saúde de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca

Coronel Helcio Bruno durante depoimento na CPI (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado)

Sob proteção de habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para permanecer em silêncio nas questões que possam lhe incriminar, o coronel da reserva Helcio Bruno de Almeida fez uso desse direito por diversas vezes durante depoimento na CPI da Covid nesta terça-feira (10). Dirigente do Instituto Força Brasil (IFB), uma ONG que propagou fake news sobre Covid-19, o militar é suspeito de facilitar a negociação fraudulenta para a venda ao Ministério da Saúde de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca.

O vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), lamentou a postura do militar na CPI. “O Senhor Helcio provou que a ‘coragem’ dele e do Instituto Força Brasil se resume às redes sociais. Aqui ele se cala, enquanto nas redes propaga fake news, atenta contra a vida do povo brasileiro e às instituições. São covardes!”, criticou.

No dia 12 de março, o coronel levou o reverendo Amilton de Paula, fundador da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah); Cristiano Carvalho e Luiz Paulo Dominguetti, da Davati Medical Supply, para uma reunião com ex-secretário-executivo do ministério Elcio Franco, braço direito do ex-ministro Eduardo Pazuello. Na ocasião, a Davati apresentou a proposta de doses de vacina que sequer existiam.

Ele disse que fez uma pesquisa na internet sobre a empresa e que na ocasião não encontrou “nada que a desabonasse”. De acordo com o coronel, houve pedido do reverendo para reunião e, somente no encontro, conheceu os representantes da Davati. Disse que seu objetivo era acelerar a venda de vacinas para o mercado privado, mesmo sem existência de legislação na época.

O militar foi citado nos depoimentos de Cristiano, Dominguetti e o reverendo como facilitador da reunião entre os vendedores de vacinas e o ex-secretário-executivo. O encontro ocorreu dias depois do suposto pedido de propina de US$ 1 por dose que teria sido feito pelo ex-diretor de Logística do ministério Roberto Ferreira Dias a Dominguetti durante jantar num restaurante no Brasília Shopping.

Ou seja, o depoimento do coronel é mais um na linha daqueles que atuaram para intermediar venda de vacina ao Ministério da Saúde movido por boas intenções. Enquanto eles eram recebidos com todas as facilidades na pasta, o governo Bolsonaro ignorava mais de 100 emails da Pfizer e três propostas do Butantan com oferta de milhares vacinas disponíveis para entrega ao governo em dezembro do ano passado.

Fake news

O IFB, dirigido pelo coronel, estava sendo investigado pela CPMI da Fake News e no inquérito aberto no STF por atacar a democracia e propagar mentiras sobre a covid-19. “Era negacionista, mas queria negociar vacina. São pessoas que induzem os brasileiros à morte, crime contra a vida”, disse o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM).

O presidente da CPI ainda fez uma advertência ao depoente: “O senhor não pode falar que é cristão ao induzir pessoas ao suicídio”. Aziz destacou que ele compartilhava notícias falsas em suas páginas contra vacinas, negando a ciência e a pandemia.

“As investigações desta CPI já provaram que o Instituto Força Brasil possui uma relação direta com a disseminação de fake news e apoio às redes que atuaram na pandemia contra medidas de isolamento, vacinas, máscaras e tantas outras que poderiam salvar vidas. Seu vice-presidente, Otávio Fakhoury, é investigado no inquérito de fake news. Chegou a afirmar que financiava alguns sites dos que investigamos aqui na Comissão Parlamentar de Inquérito”, revelou o relator Renan Calheiros (MDB-AL).

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