Brasileiros expõem realidade LGBTQIA+ para organizações na Dinamarca

Apresentação foi feita pela delegação de brasileiros na World Pride 2021 em Copenhaguen. Diversas ONGs e instituições nacionais ligadas à luta por direitos da comunidade LGBTQIA+ estão representadas no evento

Toni Reis e Pedro HMC – do canal Põe na Roda, durante manifestão LGBTQIA+ em Copenhagen, explica porque não se usa máscaras no país

Na quarta-feira (18), a delegação brasileira de ativistas na World Pride 2021, em Copenhagen, na Dinamarca, fez uma apresentação para expor os principais problemas enfrentados pela comunidade LGBTQIA+ no Brasil. Na reunião houve representação da Organização das Nações Unidas (ONU), além de ONGs e instituições internacionais de apoio aos Direitos Humanos. Um dos principais destaques foi a crítica ao governo Bolsonaro, às ameaças e à piora nos níveis de violência contra os LGBTQIA+ no país.

“O objetivo dessa reunião era trazer para os ativistas brasileiros uma perspectiva macro das entidades globais mais importantes que temos. Essas organizações geralmente não conhecem a nossa realidade no Brasil, então, queríamos ouvi-los e receber apontamentos e ideias sobre o que a gente precisa mudar, aprender ou ter em mente para que a colaboração internacional aconteça efetivamente”, explica a ativista Ananda Puchta, diretora no Brasil da Ella Global Community.

A  travesti e co-deputada estadual por Pernambuco Robeyoncé Lima, participante da delegação brasileira no evento, foi uma das primeiras a falar na apresentação. Ela afirmou que o Brasil é o país onde as pessoas LGBTQIA+ mais são assassinadas em todo o mundo, já há 12 anos. Em seguida, outros ativistas destacaram a dificuldade para coletar e produzir dados acerca da comunidade LGBTQIA+ no Brasil, para produção de políticas públicas efetivas. 

Para Egerton Neto, coordenador da área internacional da Aliança Nacional LGBTI+, ações como essa são importantes para tentar sensibilizar embaixadas e organizações que podem exercer poder de pressão diplomática no Brasil.

“As pontes entre o ativismo brasileiro e o internacional pode contribuir para denúncias na mídia global, influenciar a opinião pública, pressionar o governo brasileiro, sensibilizar embaixadas e órgãos diplomáticos”, comenta Neto.

Entre as instituições internacionais que ouviram os brasileiros e podem formar parcerias pelo fortalecimento da causa LGBTQIA+ no Brasil estão: Oram Refugee; All Out; L’autre Circle; Victory Institute; Human Rights Watch; Rainbow Railroad; IACHR; OutRight Action International; Kaleidoskop Trust; Rights Forum; e Victoria. O conselheiro especial da ONU Alexandre Stutzmann também marcou presença. 

A World Pride é o maior evento cultural e político do mundo para a causa LGBTQIA+ e é realizada a cada dois anos, sempre em um país diferente. Ativistas, ONGs, parlamentares, embaixadores de todo o mundo são reunidos para debater as realidades e demandas globais da população LGBTQIA+.

Em 2021, os primeiros discursos de ativistas e autoridades destacaram a necessidade do movimento social lutar por direitos básicos, como saúde e trabalho, afirmando que esses também são Direitos Humanos essenciais.

Ativistas brasileiros e representantes de instituições internacionais de Direitos Humanos
Ativistas brasileiros e representantes de instituições internacionais de Direitos Humanos

Fórum de Direitos Humanos 
Na programação da World Pride consta um fórum de Direitos Humanos, iniciado na segunda-feira (16), na sede da Organização das Nações Unidas (ONU).

A princesa Maria da Dinamarca participou da abertura e fez um discurso sobre respeito às diferenças e ao amor. Membros do parlamento dinamarquês também estiveram presentes.

Toda a programação de palestras e debates está sendo exibida por streaming e pode ser encontrada no Facebook da Copenhage 2021 World Pride and Eurogames . Após a finalização do evento, os vídeos serão publicados no canal do Youtube do evento e vão poder ser acessados a qualquer momento.  

A Associação Nacional de Travesti e Pessoas Trans (Antra) programou uma série de lives no Instagram, para informar os principais destaques da World Pride e resumir os acontecimentos de cada dia. O objetivo das transmissões da Antra é levar as informações do evento para uma maior quantidade de pessoas LGBTQIA+ brasileiras, mesmo aquelas que não foram alfabetizadas e não falam em inglês.

“A gente precisa pensar na camada social trans, cujo 90% vive do trabalho sexual, como única opção . Um relatório acadêmico não vai alcançar muitas dessas pessoas mais vulnerabilizadas. Por isso, estamos organizando essas lives, nas quais vamos utilizar uma linguagem mais facilitada, algo mais lúdico, falando pajubá, inclusive, para traduzir o que realmente a World Pride pode trazer de benefício para o Brasil”, argumentou Alicia Krüger, representante da Antra no evento.

Alicia destacou problemas dos movimentos sociais de pessoas trans no Brasil durante a reunião com as instituições internacionais.

Alicia Krüger, representante da Antra na World Pride 2021, em frente à sede da ONU na Dinamarca para abertura do Fórum de Direitos Humanos
Reprodução/Instagram/@antra.oficial Alicia Krüger, representante da Antra na World Pride 2021, em frente à sede da ONU na Dinamarca para abertura do Fórum de Direitos Humanos

A delegação é formada por um grupo de 12 pessoas, representantes de instituições que lutam por direitos LGBTQIA+ no Brasil, além de diferentes áreas de atuação. São eles: Alicia Krüger, da Associação Nacional de Travestis e Pessoas Trans (ANTRA), Ananda Puchta, da ELLA Global Community; Gabriel Alves, da Not Only Voices; Toni Reis e Egerton Neto, da Aliança Nacional LGBTI+; Cláudio Nascimento, da Rede Gay Latino; Otávio Furtado, diretor da Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil; a pesquisadora Mariana Hase Ueta; a parlamentar Robeyoncé Lima; o youtuber Pedro HMC e o jornalista Pedro Jordão.

Medidas eficazes para controlar a covid

Em artigo, após o retorno ao Brasil, o ativista Toni Reis pontuou suas impressões sobre como foi possível fazer um grande evento, como esse, em meio à pandemia. Ele se mostrou impressionado com os protocolos mantidos na Dinamarca, que garantem aglomerações sem máscara. Leia abaixo:

De 15 a 22 de agosto, estive como convidado em Copenhague, Dinamarca, nos eventos LGBTI+ WorldPride e EuroGames, onde pude participar de diversas atividades sobre direitos humanos, a população LGBTI+ e o Estado de direito. Mas o que mais me marcou foi a estratégia dinamarquesa de enfrentamento à pandemia da covid-19.

Apesar de já ter tomado as duas doses da vacina Pfizer no SUS contra o coronavírus aqui no Brasil, para sair do país e poder entrar em países europeus, tive que fazer o teste PCR num laboratório particular logo antes de viajar, que custou R$ 300,00.

Chegando na Dinamarca, encontrei outra realidade. Todo mundo sem máscara nas ruas e vários shows nas ruas e nos parques – aglomeração total. É que lá a maioria da população já foi vacinada. Além disso, é necessário fazer o teste de antígeno para covid-19 a cada três dias. Quem não tem o certificado de vacinação em dia não consegue entrar em estabelecimentos comerciais ou outros locais públicos fechados, e a apresentação do certificado é exigida na entrada. A cada duas quadras no centro de Copenhague tem um local de vacinação e um local de testagem. O teste não demora mais que 20 minutos e é de graça. Você apenas precisa se cadastrar no serviço Covidresults.dk. Você recebe o resultado pelo celular e também um aviso quando precisa se testar novamente. Até o teste PCR para eu sair da Dinamarca e voltar para o Brasil foi de graça. Tomei um choque no aeroporto de Copenhague no retorno, depois de uma semana sem usar máscara, no aeroporto seu uso era obrigatório. Para fazer escala em Paris, o processo em relação à covid-19 foi muito rigoroso. Já para voltar para o Brasil, apenas um cadastro da Anvisa.

Que lindo ver um governo cuidando da saúde da população com uma estratégia tão eficiente de enfrentamento à covid-19. Mesmo sabendo que a população da Dinamarca é muito menor, é uma experiência extremamente exitosa.

Com uma resposta baseada em vontade política, evidências científicas, uma abordagem unificada entre as três esferas de governo, logística organizada e azeitada, testagem e vacinação em massa para todas as pessoas, independente de idade, comorbidades e outras condições, o Brasil poderá chegar lá também.

Saiba mais sobre o evento em www.copenhagen2021.com

Com informações do jornalista Pedro Jordão para o IG

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