Governo Bolsonaro aceitou como avalista empresa fajuta para comprar vacina

A empresa FIB Bank, que apesar do nome não é banco e nem tem autorização do BC para funcionar como instituição financeira, forneceu a Precisa uma “carta fiança” de R$ 80,7 milhões, ou seja, 5% do contrato assinado com o Ministério da Saúde

Diretor do FIB BanK Roberto Pereira (Foto: Pedro França/Agência Senado)

Em depoimento à CPI da Covid, nesta quarta-feira (25), o diretor-presidente da FIB Bank Roberto Pereira demonstrou ser testa de ferro de uma organização criminosa que forneceu aval para a Precisa Medicamentos intermediar a venda de 20 milhões de doses da vacina Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech, num contato fraudulento de R$ 1,6 bilhão.

A empresa, que apesar do nome não é banco e nem tem autorização do BC para funcionar como instituição financeira, forneceu a Precisa uma “carta fiança” de R$ 80,7 milhões, ou seja, 5% do contrato assinado com o Ministério da Saúde.

Ocorre que a FIB Bank, de acordo com o depoente, é uma empresa de pequeno porte. Apesar disso, declarou capital de R$ 7,5 bilhões a partir da incorporação ao capital social de dois imóveis, um em São Paulo e outro no Paraná. Trata-se de um capital forjado que serviram de base para dar garantias fidejussórias para a Precisa oferecer a carta ao ministério. Os terrenos não são registrados no cartório em nome da empresa.

Apontado como testa de ferro, o diretor não quis declarar seus rendimentos, mas o vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), revelou que são R$ 4 mil por mês, incompatível com um apartamento de R$ 500 mil que diz possuir em Campinas (SP). A todo o momento ele foi advertido que pelo falso testemunho poderia ser preso, mesmo com o habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF)

Randolfe afirmou que o colegiado já sabe que o “sócio oculto” da empresa é Marcos Tolentino da Silva. No endereço dele, constam a Pico do Juazeiro Participações, acionista da FIB Bank. De acordo com o senador, outra empresa do grupo teria o mesmo número de telefone do escritório de advocacia de Tolentino da Silva em São Paulo.Tolentino seria o verdadeiro dono da empresa que está no nome de Ricardo Benetti, da Pico do Juazeiro. O senador também revelou que a Fib Bank, tem uma empresa acionista cujos dois únicos sócios morreram em 2017 e 2020.

“A empresa MB Guassu, uma das donas do tal FIB Bank, que ofereceu a irregular garantia de R$ 80,7 milhões no contrato entre Precisa e Ministério da Saúde, tem o mesmo endereço que o escritório de Marcos Tolentino, amigo do deputado Ricardo Barros”, disse o senador, referindo-se também ao líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

De acordo com depoimento do deputado Luis Miranda e o irmão dele, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, os documentos contendo irregularidades na compra da vacina foram entregues a Bolsonaro, que, na ocasião, disse que isso era “rolo” do seu líder.

Fato grave

Outro fato grave é que envolveram como sócio-fundador da empresa Geraldo Rodrigues Machado, conhecido como Geraldão, natural da cidade de Pão de Açúcar (AL). Num vídeo exibido na CPI, o trabalhador declarou não ser empresário e tampouco nunca foi ao Estado de São Paulo, onde a empresa tem sua sede. Ele soube que era sócio quando precisou sacar o FGTS e o auxílio emergencial.

“Essa empresa foi adquirida não na minha gestão. Era uma empresa, uma shelf company (empresa de gaveta), que foi adquirida de duas pessoas. Eu não sei precisar agora, mas me comprometo…”, disse o depoente, que foi interrompido pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), que informou que Geraldão era um dos proprietários.

“A pergunta maior que tem que sair daqui com esclarecimento e resposta da CPI é porque o Ministério da Saúde aceitou uma garantia que não era bancária, se a lei, a medida provisória, não permitiu, e fora do prazo permitido. Não passou pelo corpo jurídico por quê? Queriam esconder o quê? Faziam parte do conluio para poder fraudar e superfaturar a vacina da Covaxin? Essa é a pergunta que tem que ser colocada aqui”, protestou a senador Tebet.

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