Entidades do agronegócio publicam carta em defesa da democracia
Representantes dizem que ‘o Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que tem projetado ao mundo’ e que isso está custando caro e levará tempo para reverter.
Publicado 31/08/2021 00:03 | Editado 31/08/2021 12:09
O tensionamento político provocado por Bolsonaro e seus apoiadores, envolvendo patentes policiais e militares, em ameaça aos poderes constituídos da República, levou representantes do agronegócio a publicar nesta segunda-feira (30) uma nota em defesa da democracia no Brasil. O setor já vinha sofrendo as consequências internacionais da gestão desastrosa da política de meio ambiente do governo Bolsonaro. A nota joga água fria nas expectativas dos organizadores do ato de 7 de setembro, que esperam muito do setor em apoio à tentativa golpista.
Na nota, os maiores beneficiários econômicos da imagem internacional do país tornam pública a preocupação com os atuais desafios à harmonia político-institucional e, como consequência, à estabilidade econômica e social do país, que afeta a percepção do ambiente de negócios estrangeiro e das entidades que o pressionam. “Cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil”, diz o texto.
O documento alerta que, como uma das maiores economias do planeta, um dos países mais importantes do mundo, sob qualquer aspecto, “o Brasil não pode se apresentar à comunidade das nações como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais”.
As entidades dizem ainda que “o Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo” e que isso está custando caro e levará tempo para reverter.
A nota das entidades do agrobusiness diz que “a Constituição de 1988 definiu o Estado Democrático de Direito no âmbito do qual escolhemos viver e construir o Brasil com que sonhamos”. Cita mais de três décadas de liberdade e pluralismo, com alternância de poder em eleições legítimas e frequentes.
De acordo com o manifesto, as amplas cadeias produtivas e setores econômicos precisam de estabilidade, segurança jurídica, de harmonia para poder trabalhar, de liberdade para empreender, gerar e compartilhar riqueza, para contratar e comercializar, no Brasil e no exterior.
As entidades afirmam que “é o estado democrático de direito que assegura a liberdade empreendedora essencial numa economia capitalista”.
Assinam o texto a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação Brasileira dos Produtores de Óleo de Palma (Abrapalma), Associação Brasileira dos Industriais de Óleos Vegetais (Abiove), Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), CropLife Brasil, Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) e o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg).
Entidades do agronegócio divulgam manifesto em defesa da democracia e contra a crise institucional provocada por Bolsonaro. A Febraban pode ter adiado sua nota, mas o efeito já está dado. O PIB começa abandonar o governo. https://t.co/6kedymISrH via @UOLEconomia @UOL
— Orlando Silva (@orlandosilva) August 31, 2021
A manifestação pública de entidades do agronegócio é sintomática do temor de uma ruptura da ordem democrática. Uma ruptura teria como efeito imediato embargos e bloqueios comerciais e o agro seria o primeiro a sofrer as consequências. É a crise descendo da consciência pro bolso.
— Marcelo Ramos (@marceloramosam) August 30, 2021
Agora são entidades do agronegócio que divulgam nota em defesa da democracia. Ainda que o pensamento antipovo seja convergente com esse desgoverno, elas sabem o preço caro que poderão pagar se não isolarem Bolsonaro enquanto há tempo.
— José Guimarães (@guimaraes13PT) August 30, 2021
Até o Agro! Fiesp e Febraban hesitam, mas entidades do agronegócio divulgam manifesto pela democracia. Até setores patronais, apesar do interesse em pautas antipovo do governo, percebem que é caro o preço de um golpe fadado ao fracasso. O delinquente está se isolando ainda mais!
— Ivan Valente (@IvanValente) August 30, 2021
Curiosamente, entidades do agronegócio assumem a dianteira e divulgam manifesto em defesa da democracia depois de a Fiesp recuar. Vale lembrar que associações de produtores rurais vão patrocinar as manifestações de 7 de setembro de inspiração golpista.https://t.co/l3ythbrfiz
— Cileide Alves (@Cileidealves) August 30, 2021
Leia a íntegra da nota:
“As entidades associativas abaixo assinadas tornam pública sua preocupação com os atuais desafios à harmonia político-institucional e, como consequência, à estabilidade econômica e social em nosso país. Somos responsáveis pela geração de milhões de empregos, por forte participação na balança comercial e como base arrecadatória expressiva de tributos públicos. Assim, em nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua história agora prestes a celebrar o bicentenário da Independência.
A Constituição de 1988 definiu o Estado Democrático de Direito no âmbito do qual escolhemos viver e construir o Brasil com que sonhamos. Mais de três décadas de trajetória democrática, não sem percalços ou frustrações, porém também repleta de conquistas e avanços dos quais podemos nos orgulhar. Mais de três décadas de liberdade e pluralismo, com alternância de poder em eleições legítimas e frequentes.
O desenvolvimento econômico e social do Brasil, para ser efetivo e sustentável, requer paz e tranquilidade, condições indispensáveis para seguir avançando na caminhada civilizatória de uma nacionalidade fraterna e solidária, que reconhece a maioria sem ignorar as minorias, que acolhe e fomenta a diversidade, que viceja no confronto respeitoso entre ideias que se antepõem, sem qualquer tipo de violência entre pessoas ou grupos. Acima de tudo, uma sociedade que não mais tolere a miséria e a desigualdade que tanto nos envergonham.
As amplas cadeias produtivas e setores econômicos que representamos precisam de estabilidade, de segurança jurídica, de harmonia, enfim, para poder trabalhar. Em uma palavra, é de liberdade que precisamos — para empreender, gerar e compartilhar riqueza, para contratar e comercializar, no Brasil e no exterior. É o Estado Democrático de Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora essencial numa economia capitalista, o que é o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações ilegais, de qualquer politização ou partidarização nociva que, Ionge de resolver nossos problemas, certamente os agravará.
Somos uma das maiores economias do planeta, um dos países mais importantes do mundo, sob qualquer aspecto, e não nos podemos apresentar à comunidade das Nações como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e rupturas institucionais. O Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que temos projetado ao mundo. Isto está nos custando caro e levará tempo para reverter.
A moderna agroindústria brasileira tem história de sucesso reconhecida mundo afora, como resultado da inovação e da sustentabilidade que nos tornaram potência agroambiental global. Somos força do progresso, do avanço, da estabilidade indispensável e não de crises evitáveis. Seguiremos contribuindo para a construção de um futuro de prosperidade e dinamismo para o Brasil, como temos feito ao longo dos últimos anos. O Brasil pode contar com nosso trabalho sério e comprovadamente frutífero.”