América Latina lidera em mortes de defensores ambientais

Três quartos dos assassinatos de 2020 ocorreram na América Latina, diz o relatório da Global Witness, com a Colômbia vendo o maior número de mortes. O Brasil é o 4o. país com mais mortes no mundo

A Colômbia é o país mais perigoso do mundo para os defensores ambientais, destacou um relatório publicado nesta segunda-feira (13) pela Global Witness, um grupo internacional de direitos humanos. No ranking global, o Brasil aparece na quarta posição, com 20 assassinatos, atrás de Colômbia (65 mortes), México (30) e Filipinas (29).

Sete dos dez países mais afetados por assassinatos de ambientalistas são latino-americanos, com altos índices de impunidade. A organização considera a hipótese de haver subnotificação devido às condições de monitoramento em cada país.

Pelo segundo ano consecutivo, a nação andina teve o maior número de assassinatos em 2020, com 65 defensores da terra e do meio ambiente assassinados, disse o relatório.

Desde o fim de uma guerra de cinco décadas entre o grupo guerrilheiro das Forças Armadas Revolucionárias Marxistas da Colômbia (FARC) e o governo colombiano com um acordo de paz em 2016, novas violências surgiram nas áreas rurais onde as FARC se desmobilizaram. Os grupos armados ilegais existentes e novos disputam o controle para usar a terra para mineração ilegal, extração de madeira ou tráfico de drogas, e geralmente operam em territórios indígenas ou afro-colombianos.

As mortes aumentaram acentuadamente de 2017 e 2018, e o país foi responsável por 29 por cento de todas as mortes documentadas em 2020. Aqueles que tentam defender suas terras enfrentam ameaças ou, em muitos casos, morte.

No relatório, a Global Witness relatou que 227 ativistas agrários e ambientais foram assassinados em todo o mundo em um único ano, o pior número já registrado. Segundo a organização, isto revela o momento de gravidade que o mundo vive em relação ao meio ambiente.

Desse total, 165 foram em países latino-americanos, 72,7% do total.

Com a degradação ambiental acelerada, tanto as enchentes quanto as secas devem aumentar na Colômbia, que corre alto risco de sofrer impactos das mudanças climáticas, segundo a ONU. O país é atualmente o quinto maior exportador de carvão e possui setores significativos de óleo, gás e óleo de palma.

A pandemia também agravou a situação, disse o relatório. Os lockdowns oficiais na Colômbia fizeram com que os defensores ambientais fossem alvejados em suas casas e as medidas de proteção do governo foram cortadas.

Francia Marquez, vencedora do prestigioso Prêmio Ambiental Goldman em 2018 por seu trabalho contra a mineração ilegal em sua região nativa, no sudoeste de Cauca, sofreu vários ataques quase fatais em sua vida. Em Cauca, em 2019, ela escapou de um ataque violento quando homens mascarados atacaram uma reunião com armas e granada. Seus dois guarda-costas foram mortos.

Brasil com Bolsonaro

No Brasil, a maior parte dos crimes (75%) ocorreu na Amazônia e vitimou indígenas.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) é o órgão ligado à Igreja Católica, que há 35 anos acompanha o panorama da violência no campo brasileiro, é a principal fonte de dados para o relatório global. Em seu último levantamento, a CPT documentou 1.576 ocorrências de conflitos por terra, o maior número desde 1985.

Segundo análise da CPT, o foco dos ataques no Brasil tem sido áreas de conservação e territórios habitados por indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais. Acredita-se que isso é motivado pelo discurso contínuo do presidente Bolsonaro, que praticamente convida os invasores e diz que vai garantir a terra para eles.

Entre os assassinados listados no relatório global está o de Ari Uru-Eu-Wau-Wau. Ele fazia parte de um grupo em Rondônia que registrava e denunciava invasões e roubo de madeira no território indígena. Mais de um ano depois do crime, ninguém foi responsabilizado ou preso.

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