CPI marca nova oitiva do diretor da empresa que ocultava mortes por Covid-19

Pedro Benedito Batista Júnior, da Prevent Senior, não compareceu nesta quinta-feira (16) à CPI da Covid. O médico alegou que foi convocado em menos de 48h, portanto, sem tempo hábil para se preparar. Mesmo assim, ele recorreu ao STF para conseguir habeas corpus

O diretor executivo da operadora de saúde Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior (Foto: Reprodução)

Os senadores da CPI da Covid marcaram para a próxima quarta-feira (22) o depoimento do diretor executivo da operadora de saúde Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, que não compareceu nesta quinta-feira (16) ao colegiado. O médico alegou que foi convocado em menos de 48h, portanto, sem tempo hábil para se preparar. Mesmo assim, ele recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) onde conseguiu habeas corpus para permanecer em silêncio diante das perguntas que possam lhe incriminar.

Para o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o diretor agiu de má-fé.  “Não somente com esta CPI, mas com o próprio STF (…) Ele não só sabia previamente a data em que seria ouvido que procurou o STF. Não alegou ao Supremo que não tinha sido notificado a tempo. Quando ele procura o STF, por óbvio, ele perde o argumento, o direito de argumentar sobre a petição ter sido intempestiva”, afirmou Randolfe.

Apesar do tempo curto para concluir os trabalhos, os senadores mantiveram o depoimento por conta da gravidade das denúncias envolvendo tanto a seguradora de saúde quanto o hospital da Prevent Senior. São graves acusações como, por exemplo, a ocultação de mortes dos pacientes pela Covid-19 e o uso deles como cobaias para o tratamento precoce, ou seja, o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra o cornavírus.

De acordo com o senador Otto Alencar (PSD-BA), a empresa estava fazendo subnotificação. “Omitia no atestado de óbito que o paciente entrou com Covid-19. O paciente vai para o hospital e a causa do internamento é que ele está com Covid-19. Ele desenvolve uma pneumonia pelo vírus, chamada pneumonia virótica, entra em tratamento. Aí começam as complicações: pode ter uma assepssemia (infecção generalizada) e insuficiência renal. Mas tem que constar no atestado de óbito que ele entrou no hospital com pneumonia virótica pelo coronavírus”, explicou o senador que é médico.

Autor do requerimento de convocação do diretor, o senador Humberto Costa (PT-PE) disse que Pedro Batista Júnior terá de explicar as razões que motivaram a distribuição e prescrição do “kit covid”, a despeito da ausência de comprovação científica de eficácia. O parlamentar diz que é preciso investigar mais a fundo o uso de dinheiro público pela empresa na aquisição, distribuição de medicamentos como cloroquina e a hidroxicloroquina, que compõem com outros o chamado “kit-covid” e a terapêutica do “tratamento precoce.”

Humberto Costa destacou que tudo foi feito seguindo um diretriz do presidente Bolsonaro, árduo defensor do uso dos medicamentos e do tratamento precoce como política pública para enfrentamento da Covid-19. “Revela inadequado investimento de recursos públicos em medida sanitária desprovida de respaldo científico”, criticou.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), defendeu a necessidade de chamar um médico do hospital que sofreu pressão para prescrever medicamentos ineficazes do chamado “tratamento precoce”. A comissão também tomou conhecimento de denúncias de pacientes da operadora, que teriam sido assediados para aceitar tais medicamentos.

Confira um dos casos que chegaram à CPI:

“Bom dia. Sou *** e te peço ajuda pra fazer chegar à CPI da Covid a denúncia de que os clientes da Prevent Senior com covid são assediados pra aceita o kit com cloroquina . Minha companheira testou positivo ontem e ao passar pela consulta o médico disse que era protocolo da empresa oferecer o kit. Ela recusou. Mais tarde, em casa, recebeu um telefonema de um funcionário insistindo em que ela aceitasse tomar o kit com cloroquina, porque era o único remédio para isso e se a doença ficasse pior, não tinha o que fazer a não ser entubar. Minha companheira disse novamente que não, mas no estado de fragilidade e medo em que está, ficou muito nervosa. Essa empresa insiste e assedia os pacientes com essa medicação sem eficácia. Se fazem isso com quem está em casa, imagine quem está internado com covid. Eu não sabia quem procurar. Obrigada.”

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