Reprovação ao governo atinge pior índice do mandato, no Datafolha

Reprovação aumentou continuamente de 40% para 53%, desde janeiro; aprovação caiu de 31% para 22%, no período, com perdas maiores na base de apoio evangélica e na classe média.

Levantamento do Instituto Datafolha divulgado nesta quinta-feira (16) pelo site do jornal Folha de S. Paulo informa que a reprovação ao governo Bolsonaro avançou continuamente durante todo o ano, saindo de 32% em janeiro para 53%, depois de oito meses. É o pior índice de todo o mandato, desde 2019.

Houve uma oscilação de 2 pontos percentuais em relação ao levantamento feito em julho: 53% consideram o governo ruim ou péssimo.

Esse é o primeiro levantamento da popularidade do presidente feito depois dos atos de 7 de setembro, em que os manifestantes em apoio a Bolsonaro estiveram radicalizados. O resultado da pesquisa reflete também o recuo frustrante do presidente em relação aos discursos feitos durante os protestos. Entre evangélicos e a classe média o aumento da rejeição foi maior que entre outros segmentos, desde então.

O recorde de rejeição também acontece em meio à alta vertiginosa da inflação, com aumentos constantes de combustíveis, energia e alimentos. O desemprego também permanece em patamar elevado, atingindo 14,4 milhões de pessoas.

A pesquisa ouviu 3.667 pessoas com mais de 16 anos dos dias 13 a 15 de setembro em 190 municípios brasileiros. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

Segmentação

Embora a rejeição geral tenha oscilado apenas 2 pontos, os números piores ocorreram justamente em segmentos tradicionalmente apoiadores do presidente. Foi o que ocorreu entre os mais velhos (de 45% para 51%), entre menos escolarizados (de 49% para 55%), entre aqueles com renda familiar de 5 a 10 salários (de 41% para 50%) e no conjunto das regiões Norte e Centro-Oeste (de 41% para 48%).

Houve recuo, por outro lado, na reprovação entre os mais ricos, com renda superior a 10 salários (de 58% para 46%).

A rejeição também oscilou para cima entre os que ganham até 2 salários mínimos (54% para 56%). E também entre os que recebem de 2 a 5 mínimos (47% para 51%).

Entre os evangélicos, a diferença entre a taxa de aprovação e reprovação, que estava negativa em seis pontos em julho (34% a 37%), saltou para 12 pontos em setembro (29% a 41%). A reprovação de Bolsonaro entre os evangélicos aumentou 11 pontos percentuais entre janeiro e setembro (de 30% para 41%).

De acordo com o instituto, os empresários se mantêm como o único segmento em que Bolsonaro tem aprovação (47%) numericamente superior à reprovação (34%).

Bolsonaro é mais rejeitado por quem tem ensino superior (85%), estudantes (73%), quem prefere o PSOL (63%), homossexuais/bissexuais (61%), quem tem de 16 a 24 anos (59%) e pretos (59%).

Repercussão

O deputado Orlando Silva fez uma análise dos índices como “um manancial de más noticias para Bolsonaro”. Para além disso, na opinião do parlamentar, os números trazem dois recados claros.

Para ele, as táticas do presidente tiveram “efeito reverso” do que era esperado. Entre a agitação promovida para gerar instabilidade institucional e refletiu-se nos resultados do Datafolha, Orlando citou “a insanidade dos ataques ao STF/TSE, passando pelo ridículo [do desfile] dos tanques até chegar à micareta golpista de 7 de setembro”.

“Nem o bastião evangélico ficou incólume. A rejeição ao anticristo chegou a 41%, bem maior que os 29% que ainda o apoiam. Pudera, é uma parcela que se entrelaça com setores mais empobrecidos da população, castigados pela ruína econômica do país. O Malafaia não paga a feira”, ironizou o deputado.

A pesquisa deve ser vista em tendência, de acordo com ele, apontando para um derretimento do presidente impensável para os analistas. Orlando lembra que já se disse que Bolsonaro não desceria do patamar de 1/3 da população, mas depois virou 30%, chegando a 25% de piso. “Já era! De 24%, agora vai a 22%. A continuar por aí – e nada indica reação econômica -, o ‘imbrochável´’ verá que a pipa do vovô não sobe mais”.