Mobilização é crucial para afastar Bolsonaro, diz vice-presidente da Câmara dos Deputados

“O pior cenário que poderia acontecer hoje seria o aceite do pedido de impeachment com a derrota por não alcançar os 342 votos no plenário, isso sim daria muita força a Bolsonaro para retomar sua marcha autoritária”, disse Marcelo Ramos em entrevista exclusiva ao Portal e a TV Vermelho. Confira o vídeo

Marcelo Ramos é vice-presidente da Câmara dos Deputados l Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), diz que tem convicção jurídica de que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade, mas para que o processo de impeachment tenha andamento no parlamento é preciso mobilização popular. “O pior cenário que poderia acontecer hoje seria o aceite do pedido de impeachment com a derrota por não alcançar os 342 votos no plenário, isso sim daria muita força a Bolsonaro para retomar sua marcha autoritária”, disse o deputado em entrevista exclusiva ao Portal e a TV Vermelho.

Na ausência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Marcelo Ramos daria a palavra final sobre algum pedido para abrir processo de impeachment contra o presidente. “Tenho absoluta convicção de que as condicionantes jurídicas estão postas, mas as condicionantes políticas dependem do crescimento da mobilização popular que certamente pressionará dentro do parlamento”.

De acordo com ele, a matéria tem de ser tratada não só com firmeza e mobilização popular, mas com prudência e responsabilidade. “Há o crime de responsabilidade e se existia alguma dúvida até o dia 7 de setembro, o 7 de Setembro deixou as dúvidas de lado e deu a confirmação”, disse, referindo-se a ameaça de desobediência as decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), feitas pelo presidente nos atos antidemocráticos do dia 7.

“O presidente Bolsonaro já incorreu nos tipos penais de crimes de responsabilidade previstos nos incisos II e VII do artigo 85 da Constituição Federal, mas eu sempre costumo dizer, até como professor de Direito Constitucional, que impeachment não é só processo jurídico, impeachment é processo de natureza jurídica e política. Tanto que é o único crime que não é julgado e processado pelo Poder Judiciário. É processado e julgado pelo Poder Legislativo”, explicou.

Unidade

O deputado considerou também como fundamental a unidade de todas as forças políticas em prol da democracia. Para ele, há incompreensões no ato promovido pelo Movimento Brasil Livre (MBL) quando se tenta igualar as condições do ex-presidente Lula com a de Bolsonaro. “Como se Lula representasse o mesmo risco à democracia, o que efetivamente não é verdade. Por outro lado, o PT é um partido tradicional, com militância, com mais experiência que o MBL, capaz de compreender essa incompreensão e participar de um esforço pela unidade”, defendeu.

Na sua avaliação, porém, o processo está avançando. “Coisas aconteceram após o ato, as pontes que foram criadas entre MBL e o PT, e os partidos que não participaram daquele evento (Ato do dia 12), podem nos mostrar que o caminho correto na atual quadra política é o caminho da unidade em torno da democracia. Nós precisamos garantir as eleições até para que PT e o MBL possam disputar opinião nas eleições. Então o grande desafio é construir a unidade para garantir a estabilidade democrática no nosso país”, argumentou.

Marcelo Ramos durante entrevista à TV Vermelho (Foto: Reprodução)

Depois de vencer a barreira das ameaças, Ramos diz que as forças políticas terão as chances de disputar opinião na economia e no meio ambiente. “Eu fui e sou duramente criticado pelo MBL lá no meu Estado e fiz questão de ir à manifestação justamente para o que o MBL siga detento direito de continuar com liberdade para saber conviver com as nossas diferenças e buscar convergências”, afirmou.

“Existem valores que não pertencem a esquerda e nem a direita: o direito ao trabalho, a alimentação e o direito a democracia. Isso não tem dono e nós precisamos ser capazes de unir todos os brasileiros e brasileiras que topem lutar por esses valores”, completou.

Recuo tático

O vice-presidente da Câmara diz que Bolsonaro fez “movimento tático de recuo para organizar suas forças lá na frente e tentar dar um novo bote”. “Até porque parece-me que pra ele já está absolutamente claro que, do ponto de vista eleitoral, ele se torna cada vez mais um candidato inviável.”

Ramos avaliou que o presidente vive de tentativa e risco. “Ele vive de tentativa de erro, de testar os limites da nossa democracia. Ele claramente usou o dia 7 para testar esse limite, infelizmente pra ele não houve eco nos setores militares, as Forças Armadas, e nem das forças policiais. E também tinha gente na rua, mas não suficiente para sustentar a tese de uma saída fora da democracia. Além disso, com essa tentativa, ele explodiu todas as pontes com o campo que tem responsabilidade com a democracia no país”, avaliou.

Sobre a carta à nação do presidente, o deputado lembrou de uma conversa reservada com um general, quando ouviu: “Ninguém pede trégua quando está na ofensiva. Quem pede trégua e negociação de paz é por que sabe que não tem força para vencer a guerra.”

O deputado ainda falou sobre a participação de Bolsonaro na ONU, CPI da Covid e a crise econômica que atinge o país. Confira a entrevista completa no vídeo:

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