Petrobras garante política atual de preços para acalmar acionistas

Presidente da estatal diz que é responsável por 34% do total do preço da gasolina, mas que não tem como contribuir para reduzi-lo.

Enquanto Bolsonaro faz bravatas de que vai encontrar uma maneira de reduzir o preço dos combustíveis, o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna convoca entrevista para reafirmar que não vai mudar a política dolarizada de preços da companhia.

Mesmo sendo fruto de uma intervenção desesperada do presidente da República na estatal com objetivo de baixar o preço dos combustíveis, para manter seus acionistas felizes, Luna joga no colo de Bolsonaro a responsabilidade, ao dizer que não é sua atribuição garantir preços baixos, mas do Ministério de Minas e Energia, do Ministério da Economia e da Casa Civil. Ele inclusive admitiu que os valores podem ser elevados para corrigir a “defasagem atual”.

“Começo afirmando que não há nenhuma mudança na política de preços da Petrobras”, disse o presidente da estatal. “Continuamos trabalhando da forma que sempre trabalhamos”, completou. Isso foi dito poucas horas depois de Bolsonaro dizer que “nada é tão ruim que não possa piorar”, em referência às dificuldades para baixar os preços.

Luna defendeu que ao manter a paridade internacional de preços, criada logo após o impeachment contra a presidenta Dilma, ele ainda tem evitado aumentar ainda mais os preços, o que cria defasagens que serão respostas no futuro. A paridade internacional de preços criada por Pedro Parente, durante o governo golpista de Michel Temer, visa a garantir a lucratividade dos acionistas, sem qualquer intervenção do seu maior acionista, o governo federal.

No início do ano, Bolsonaro trocou o comando da Petrobras para tentar acalmar os ânimos, gerando reações negativas no mercado. Apesar dessa intervenção, não houve mudança na política de preços, com Bolsonaro tentando encontrar culpados políticos. Ele passou a responsabilizar os impostos estaduais pelos aumentos, que eram os mesmos quando os preços eram menores.

Formação dos preços

Luna esmerou-se em explicar como se forma o valor dos combustíveis, como forma de demonstrar que não tem como interferir muito para reduzi-lo. Segundo ele, a participação média da Petrobras no valor do litro da gasolina, que chega a R$ 7 em algumas cidades brasileiras – é de cerca de R$ 2. Da mesma forma, o valor da parte da estatal no litro do diesel é de R$ 2,49 e, no preço do botijão de 13 kg do gás de cozinha, é de R$ 46,90. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira (27), no Rio de Janeiro, pelo presidente da companhia, general Joaquim Silva e Luna.

Segundo Silva e Luna, há um conjunto de fatores que impacta diretamente o país, “quase como uma tempestade perfeita”: crise da pandemia, período de baixa afluência hídrica com impacto na energia e uma elevada alta nas commodities, incluindo petróleo e gás.

“A Petrobras recebe cerca de R$ 2 por litro [de gasolina] na bomba. Essa parcela, que corresponde à Petrobras, se destina a cobrir o custo de exploração, de produção e refino do óleo, investimentos permanentes, juros da dívida, impostos e participações governamentais”, explicou durante apresentação ao vivo pela internet, que também contou com a participação de diversos diretores da empresa.

Componentes de custo

Segundo a estatal, do total do preço do litro da gasolina, somente 34% são referentes à Petrobras e os outros 66% são formados por outros componentes de custo, incluindo impostos e margem de lucro das empresas.

No caso do diesel, a parcela da empresa fica em 52%, sendo os demais 48% relativos aos demais fatores de mercado. Na formação do preço do botijão de gás GLP de 13 kg, a Petrobras fica com 48% do preço, com os outros 52% ficando por conta das empresas de envase, distribuição, revenda e impostos estaduais, como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Perguntado sobre como a Petrobras poderia contribuir para a redução nos preços dos combustíveis e do GLP, Silva e Luna explicou que esses debates são afeitos ao Ministério de Minas e Energia, ao Ministério da Economia e à Casa Civil, cabendo à estatal do petróleo garantir saúde financeira, recolhimento de impostos e distribuição de dividendos aos acionistas.

Ele reiterou que não há mudança na política de preços da companhia. “Continuamos trabalhando da forma como sempre. A maneira que a Petrobras acompanha o preço da paridade internacional do [petróleo tipo] Brent, as mudanças em relação ao câmbio, a análise permanente para ver se isso são [fatores] conjunturais ou estruturais, essa mudança não existe”, disse.

Crise energética

Quanto à ajuda que a estatal pode dar para minorar os efeitos da crise energética, o general lembrou que a Petrobras triplicou a entrega de gás para a operação das termelétricas nos últimos 12 meses.

Sobre a participação da empresa na economia nacional, ela gerou, entre 2019 e setembro de 2021, R$ 20,4 bilhões de dividendos para a União.

Até dezembro deste ano, a projeção é a geração de R$ 552 bilhões em tributos para a União, estados e municípios.

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na semana entre 29 de agosto e 4 de setembro, o preço médio do litro da gasolina comum no país era de R$ 6,00; o diesel S10, R$ 4,69, e o botijão de 13 kg, R$ 93,61.

Com informações da Agência Brasil