Juro americano, Evergrande e crise energética na China abalam mercados

Dólar sobe para R$ 5,42 em dia de pânico global. Bolsa caiu para menor nível em uma semana

Num dia de pânico no mercado global, o dólar ultrapassou a barreira de R$ 5,40 e fechou no maior nível em quase cinco meses. A bolsa caiu para o menor nível em uma semana, praticamente anulando os ganhos registrados desde o início da semana passada.

Os fatores que ajudaram a criar instabilidade global no mercado financeiro são capitaneados pela forte subida dos juros dos títulos do Tesouro norte-americano, considerados os investimentos mais seguros do mundo. Juros mais altos nos EUA atraem para lá investidores que aplicam em países como o Brasil. Com isso, o país vê o dólar sumir, portanto ficar mais caro. 

Os juros atuais, próximos de zero, podem subir ainda em novembro, gerando a reação em cadeia no mercado financeiro. A rara decisão do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos Estados Unidos) ocorre em meio a temores de que a inflação avance nos Estados Unidos.

Em depoimento ao Senado norte-americano, o presidente do FED, Jerome Powell, disse que a inflação na maior economia do planeta está preocupando por causa de restrições na cadeia de abastecimento. Segundo ele, o órgão pode aumentar os juros básicos norte-americanos caso a alta dos preços se torne sustentada. Os três índices principais da bolsa dos Estados Unidos caíram mais de 2%.

China

As preocupações com a China também dominaram o mercado internacional. Além do risco de calote da incorporadora imobiliária Evergrande, notícias de que a segunda maior economia do planeta está ameaçada por falta de energia provocaram tensões e fizeram o preço de diversas commodities (bens primários com cotação internacional) cair. O Brasil é fortemente afetado por ser um dos maiores mercados de commodities do mundo.

A Europa também vive uma disparada do preço do gás natural, com o consumo subindo num momento de restrição no abastecimento. 

No Brasil, as preocupações em torno da reforma do Imposto de Renda e da proposta para parcelar os precatórios (dívidas do governo reconhecidas definitivamente pela Justiça) também influenciaram o mercado. Ainda há ameaça de novos aumentos nos combustíveis, crise hídrica e risco energético, além de inflação descontrolada.

Ontem (27) à noite, o Senado aprovou projeto que permite o reconhecimento da reforma do Imposto de Renda, ainda não aprovada na Casa, como fonte de recursos para financiar a criação do Auxílio Brasil, programa que pretende substituir o Bolsa Família. O mercado vê esse tipo de política como populista, além de implicar e aumento de impostos e novas taxações sobre as operações financeiras dos mais ricos.

Efeitos imediatos

O dólar comercial encerrou esta quarta-feira (28) vendido a R$ 5,424, com alta de R$ 0,046 (+0,85%). A cotação está no maior valor desde 4 de maio, quando tinha fechado em R$ 5,431.

Com o desempenho de hoje, a moeda norte-americana acumula valorização de 4,88% em setembro. Em 2021, a divisa subiu 4,54%.

O dia também foi tenso no mercado de ações. O índice Ibovespa, da B3, fechou o dia aos 110.124 pontos, com queda de 3,05%. Essa foi a maior queda diária desde 8 de setembro, quando o indicador tinha recuado 3,78%. O Ibovespa está no menor nível desde o último dia 20.

Nos Estados Unidos, segundo dados preliminares, os três principais índices (Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq) caíram.

Na Europa, as ações europeias recuaram para os menores patamares em uma semana. O índice FTSEurofirst 300 caiu 2,07%, a 1.748 pontos, enquanto o índice pan-europeu STOXX 600 perdeu 2,18%, a 452 pontos, maior queda diária em mais de dois meses. As ações de tecnologia caíram 4,8% e foram ao nível mais baixo em dois meses.

Com informações da Reuters

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