O gol contra na política, por Anderson Pereira

A chamada “Frente Ampla” precisa ser, de fato, ampliada

Surpreendeu a classificação do Palmeiras para a final da Copa Libertadores. O time conseguiu eliminar o Atlético Mineiro – melhor time do Brasil na atualidade. Já no tabuleiro político, o clássico “gol contra” foram as agressões contra o candidato a presidente da República Ciro Gomes (PDT), no último sábado (2), em São Paulo, durante as manifestações pelo impeachment de Bolsonaro.

Nas redes sociais, Ciro comentou o episódio.“Fui às ruas em defesa da democracia. E estou muito feliz por isso. Fui com o peito aberto e a coragem que Deus sempre me deu”, disse ele. “E sabendo que poderia enfrentar de antemão a fúria e a deselegância de alguns radicais. Os radicais, seja da esquerda seja da direita, nunca me intimidaram. E nunca me intimidarão”, continuou. “Eu não fui às ruas para dar lição a ninguém. Fui, antes de tudo, para dar um testemunho de fé, de humildade e de coragem. Mas fui, sobretudo, para dizer que uma das maiores lições da política é dizer que é preciso se unir acima de qualquer diferença quando se enfrenta um inimigo coletivo, quando se enfrenta um inimigo mortal, um inimigo da vida, um inimigo do povo. Essa luta está apenas no começo. E ela será vitoriosa muito mais rapidamente quando todos aprenderem quem é o verdadeiro inimigo e quem é o verdadeiro alvo”, afirmou Ciro.

As centrais sindicais também repudiaram a agressão. “Trata-se de um evento totalmente inaceitável (…). Já se tornaram comuns nas manifestações contra o desgoverno de Jair Bolsonaro as provocações e os ataques de grupos minoritários sem expressão e sem representatividade (…). Lutamos por uma nação baseada na democracia, na tolerância e no respeito ao próximo”, lembram os dirigentes da Força Sindical, UGT, CSB, CTB, NCST, Pública Central do Servidor e Intersindical Central da Classe Trabalhadora. Leia a nota na íntegra no final do texto.

As manifestações contra o governo e a favor do impeachment de Bolsonaro aconteceram em todo o país. Vários partidos, da esquerda à direita, apoiaram os protestos. Apesar disso, a chamada “Frente Ampla” precisa ser, de fato, ampliada. E episódios como esse contra Ciro Gomes só atrapalham nessa difícil tarefa.

Essa não foi a primeira vez que essas divergências políticas se colocaram acima do “Fora, Bolsonaro”. No dia 12 de outubro, por exemplo, o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem pra Rua também convocaram manifestações pelo impeachment do presidente. Parte da esquerda não compareceu.

O ex-presidente Lula (PT) – líder em todas as pesquisas para ser o próximo presidente da República – também não compareceu aos atos contra o governo no último sábado. Pesquisa PoderData aponta Lula com 40% das intenções de voto no primeiro turno. Jair Bolsonaro (sem partido) alcança 30% e Ciro Gomes 5%.

Em Belo Horizonte, o ato contra Bolsonaro reuniu centenas de pessoas. Os manifestantes reuniram-se na Praça da Liberdade e percorreram as principais ruas e avenidas da capital mineira. O encerramento foi na Praça Sete, região central da cidade.

A dez quilômetros dali, no Estádio Mineirão, na Pampulha, o Atlético jogava pela primeira vez desde a eliminação para o Palmeiras. O Galo ganhou do Inter-RS por um 1 a 0, manteve a liderança no Campeonato Brasileiro e segue firme rumo ao título de campeão nacional.

NOTA DAS CENTRAIS SINDICAIS
Lutamos por uma nação baseada na democracia, na tolerância e no respeito ao próximo

As manifestações contra o governo Bolsonaro no dia 2 de outubro tiveram êxito e mostraram, em sua maioria, o caráter democrático do movimento. Mostraram que podemos sim realizar ações unitárias e que o campo progressista com seus partidos, sindicatos e movimentos sociais está vivo e forte.

O objetivo das nossas ações unitárias é inequivocadamente defender a nação brasileira, combater o autoritarismo e construir uma democracia que acolha e valorize o povo.

Na nota em que convocamos o ato afirmamos claramente que: “Para derrubar Bolsonaro, é preciso ir além do nosso campo, pois precisamos de 342 votos na Câmara dos Deputados para aprovar o impeachment. Não é questão de ideologia, mas sim de matemática. Neste momento, um dos mais graves da nossa história, é necessário focar no que nos une, e não no que nos separa. Para podermos continuar a ter o direito de discordar, de disputar eleições livres e de manter a nossa democracia, Bolsonaro tem que sair já”.

Por isso não podemos deixar de apontar um grave problema que não apenas tem se repetido, como tem aumentado nas manifestações em São Paulo: a intolerância, a postura autoritária e, pior, a violência física.

A violência que militantes do PDT e, em especial o ex-ministro Ciro Gomes, sofreram no sábado, dia 2, foi um evento totalmente inaceitável. Outros representantes do movimento sindical e popular também foram prejudicados no momento de suas falas.

Já se tornaram comuns nas manifestações contra o desgoverno de Jair Bolsonaro as provocações e os ataques de grupos minoritários sem expressão e sem representatividade.

Eles se posicionam estrategicamente em frente ao carro de som para atrapalhar todos aqueles que não seguem sua cartilha sectária.

Parece que não está claro para eles qual o verdadeiro foco da manifestação e, com isso, nos resta concluir, que agitações como essas que prejudicam e dividem o próprio campo progressista tem apenas uma consequência: fortalecer o atual governo de extrema direita.

Não é esse o Brasil que queremos e pelo qual estamos lutando. Não queremos uma politica baseada na intolerância, na coerção, no fanatismo e na violência física.

Queremos sim construir uma democracia onde todos e todas tenham vez e tenham voz. Uma democracia popular baseada no respeito ao próximo.

É para isso que seguimos lutando.

São Paulo, 3 de outubro de 2021

• Miguel Torres, presidente da Força Sindical
• Ricardo Patah, presidente da UGT – União Geral dos Trabalhadores
• Antonio Neto, presidente da CSB – Central dos Sindicatos Brasileiros
• Adilson Araújo, presidente da CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
• José Reginaldo Inácio, presidente da NCST – Nova Central Sindical de Trabalhadores
• José Gozze, presidente da Pública Central do Servidor
• Edson Carneiro Índio, secretário-geral da Intersindical Central da Classe Trabalhadora

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