Ex-paciente diz que é testemunha da política criminosa da Prevent Senior

A operadora é acusada de pressionar os médicos a receitarem aos pacientes o chamado “kit covid” (medicamentos sem eficácia comprovada), usar seus clientes como cobaias e adulterar atestado de óbito para omitir a causa de morte pela Covid-19

O ex-paciente da Orevent Tadeu Andrade (Foto: Pedro França / Agência Senado)

O ex-paciente da Prevent Senior Tadeu Frederico Andrade disse aos senadores da CPI da Covid que é “testemunha viva da política criminosa da corporação e de seus dirigentes”. Nesta quinta-feira (7), ele e o ex-médico da empresa Walter Correa de Souza Netto depõe na comissão.

A operadora é acusada de pressionar os médicos a receitarem aos pacientes o chamado “kit covid” (medicamentos sem eficácia comprovada), usar seus clientes como cobaias e adulterar atestado de óbito para omitir a causa de morte pela Covid-19.

“Eu fiquei 120 dias internado. Eu fui intubado duas vezes; tive pneumonia bacteriana; fiz diversas hemodiálises; fiz traqueostomia; tive arritmia cardíaca; e tive diversas outras intercorrências. No entanto, hoje estou aqui vivo e com saúde (…) A minha família lutou contra essa poderosa corporação chamada Prevent Senior. Eles lutaram para que eu não viesse a óbito. Eles, minha família, não aceitaram a imposição dos chamados cuidados paliativos, que era a prática utilizada pela Prevent Senior para eliminar pacientes de alto custo”, contou o paciente.

Após ser diagnosticado com Covid-19, o ex-paciente disse que foi atendido numa teleconsulta da empresa que depois enviou um motoboy a sua residência para lhe entregar o ”kit Covid”, composto de medicamentos sem eficácia contra a doença. Em cinco dias o estado de saúde dele piorou e ele foi internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI).

“Quando eu recebi, verifiquei que era hidroxicloroquina, ivermectina e todo aquele chamado kit covid. Comecei a tomar. Não tinha o que contestar; eu estava sendo orientado por uma médica. Comecei a tomar e o tratamento duraria cinco dias. Acontece que eu não melhorei, eu piorei”, afirmou.

O depoente disse que a família desconfiou da estrutura da Prevent Senior e contratou um médico particular para fazer a fiscalização dos procedimentos internos. “Mesmo eu estando na UTI e não tendo iniciado os cuidados paliativos, eu não ter ido ao leito híbrido, a minha família não confiava mais na estrutura. E esse médico foi um verdadeiro fiscal dos procedimentos. Acho que eu estou vivo também por causa dele”, revelou.

Os médicos da Prevent Senior, diz o paciente, chegaram a argumentar que o caso dele não tinha solução, pois os rins e pulmões estavam comprometidos. Disseram que se ele sobrevivesse seria um paciente com problemas renais e respiratórios crônicos.

“No entanto, nos últimos exames que eu fiz, meus pulmões estão ótimos, meus rins estão ótimos. Além disso, o argumento foi de que os cuidados paliativos seriam mais confortáveis para o paciente e mais digno para o paciente morrer, vir a óbito com a bomba de morfina”, testemunhou o ex-paciente.

Devastador

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), considerou o depoimento devastador. “Eu só lembro, ouvindo o senhor Tadeu, o depoimento da doutora Bruna (Morato, advogada dos 12 médicos que denunciaram a Prevent), quando ela relatava que algo dito entre a direção da Prevent era: ‘Óbito também é alta’. O depoimento da doutora Bruna, dramaticamente, devastadoramente, encaixa com o depoimento do doutor Tadeu”, associou o senador.

De acordo com ele, o que fizeram com o ex-paciente não é Medicina. “Não é esse o juramento que um médico tem que assumir (…) Estamos assistindo, com o depoimento, a uma das páginas mais tristes da história nacional. Não tem como esse pessoal passar impune”, protestou.

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