Hoje é o meu, o seu, o nosso dia, por Luciana Bessa

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Há dias bons. Há outros não tão bons. Mas em todos, temos a oportunidade para aprender, desconstruir crenças, conhecer diferentes pessoas, escutar (novas) músicas, ler livros, refletir sobre quem somos, celebrar o dom da vida e, claro, algumas datas importantes como hoje –  08 de outubro – dia do Nordestino, povo arretado, trabalhador, inventivo, que do luar ao sertão, canta e dança “xote, xaxado e baião”.

Foi em homenagem ao autor de “Cante lá, que eu canto cá” (1978), o poeta Patativa do Assaré (1909-2002) e ao poeta-compositor Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), autor de “Luar de Sertão”, que a Câmara Municipal de São Paulo criou, no ano de 2009, por meio da Lei 14.952, o dia do Nordestino, celebrado no dia 08 de outubro.

Nordeste é berço de José de Alencar (1829-1877), responsável pela consolidação do romance no Brasil; Rachel de Queiroz (1910-2003), primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras (ABL); Ferreira Gullar (1930-2016), poeta subversivo indicado para o “Prêmio Nobel de Literatura”, em 2002; Nísia Floresta (1810-1885), considerada a primeira educadora  feminista do Brasil; Paulo Freire (1921-1977), Patrono da Educação Brasileira, Ariano Suassuana (1927-2014), idealizador do Movimento Armonial, que se propunha a realizar uma arte brasileira erudita a partir das raízes populares e que através de sua obra, “O Auto da Compadecida” (1955),  “o texto mais popular do Moderno Teatro brasileiro”, na concepção de Sábato Magaldi, tornou-se um dos mais emblemáticos escritores de sua geração.

Terra de grandes talentos, mas que, infelizmente, ainda carrega a pecha de uma região atrasada e subdesenvolvida, criada por uma elite que não aceita que os nordestinos rompam fronteiras em qualquer área, especialmente, na Política, na Economia e na Cultura. Como se não bastasse, há ainda o preconceito e os estereótipos, que tentam nos retratar como um povo matuto, faminto, esquálido e com um sotaque carregado (especialmente nas novelas e nos filmes).

É verdade que a história do Nordeste foi construída com base em desigualdades sociais, geográficas e ausência de políticas públicas capazes de trazer renda e comida para a mesa do nordestino. É verdade que nossa história é permeada por grandes conflitos, mas é também uma narrativa de lutas e de resistências e, sinceramente, acredito que com o passar dos tempos devamos sair do limbo que uma elite capitalista teima em querer  nos aprisionar. 

Mas em se tratando de Brasil, que hoje faz e amanhã desfaz, dez anos depois da aprovação da Lei 14.952, ela foi revogada pela Lei 17.145, e o Dia do Nordestino acabou sendo alterada para 2 de agosto, que marca a morte do cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”. 

Seja no dia 08 de outubro, seja  02 de agosto, ser nordestino é motivo de orgulho por suas lindas praias, por seu vocabulário próprio (“oxente”, “abestado”), por ter na leitura um dos seus muitos prazeres  (“Nordeste é a região brasileira que mais lê”, segundo o Instituto Pró-Livro, por meio da 5ª pesquisa “Retratos do Brasil”), pela riqueza e diversidade cultural, pela capacidade de rir de suas próprias adversidades, porque entende o riso como um ato de resistência, por isso exporta humoristas para o Norte e  Sul. Nordeste é terra de homens e mulheres que não fogem da luta.

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