Congresso desafia Sérgio Camargo e quer nova homenagem a ícones negros

Segundo Alice Portugal, presidente da Fundação Palmares usa cargo para perseguir as lideranças negras de campo ideológico contrário ao do governo

Artistas como Gilberto Gil, Elza Soares, Leci Brandão e Martinho da Vila podem ter homenagem recuperada

O Congresso deu mais um passo nesta semana para restituir a homenagem desfeita pelo presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, a 27 personalidades negras que haviam sido reverenciadas pela instituição. Entre elas, os cantores Gilberto Gil, Elza Soares, Milton Nascimento, Martinho da Vila e Leci Brandão, a atriz Zezé Motta e a escritora Conceição Evaristo.

A Comissão de Cultura da Câmara aprovou o Projeto de Decreto Legislativo 510/20, do Senado, que suspende os efeitos de portaria da Fundação Cultural Palmares que excluiu personalidades vivas da lista de homenageados. A proposta ainda será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania antes de seguir para o Plenário. Como o texto já foi aprovado pelos senadores, se o projeto passar pelos deputados, as homenagens serão restabelecidas.

O projeto, de autoria do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), derruba a portaria da Fundação Cultural Palmares (189/20), publicada em novembro de 2020, que estabeleceu que a instituição só poderá prestar homenagens póstumas. Os parlamentares afirmam que a portaria foi usada para constranger figuras públicas que não se alinham ideologicamente com o governo Bolsonaro.

Segundo a relatora na Comissão de Cultura, Alice Portugal (PCdoB-BA), o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, usa do cargo para perseguir as lideranças negras de campo ideológico contrário ao do governo. “Ao negar a relevância e a contribuição histórica das personalidades negras excluídas da lista, a atual gestão da Fundação Palmares dá mais um passo na trajetória de desmonte do órgão e desvirtuamento de sua função”, afirma a deputada.

Sérgio Camargo nega que haja preconceito racial no Brasil e já se envolveu em diversas confusões desde que foi nomeado para a presidência da Fundação Palmares. Recentemente ele virou alvo de investigação por assédio moral.

Veja a lista dos excluídos do rol de homenageados pela Fundação Palmares:

  • Músicos: Alaíde Costa, Elza Soares, Gilberto Gil, Leci Brandão, Martinho da Vila, Milton Nascimento, Sandra de Sá e Vovô do Ilê;
  • Atletas: Ádria Santos, Janeth dos Santos Arcain, Joaquim Cruz, Servílio de Oliveira, Terezinha Guilhermina e Vanderlei Cordeiro de Lima;
  • Políticos: Benedita da Silva, Janete Rocha Pietá, Jurema da Silva, Luislinda Valois, Marina Silva e Paulo Paim;
  • Educadoras: Givânia Maria da Silva, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva e Sueli Carneiro;
  • Atrizes: Léa Garcia e Zezé Motta;
  • Escritora Conceição Evaristo;
  • Museologista Emanoel de Araújo.

Alice Portugal nota que, posteriormente ao ato, a Fundação Cultural Palmares também excluiu homenagens a outras personalidades negras que já haviam falecido: a ex-ministra da Secretaria de Políticas Públicas da Igualdade Luiza Helena de Bairros e a médica Maria Aragão. A alegação era que não tinham relevância histórica.

Com a mesma justificativa, três personalidades tinham sido excluídas antes da publicação da Portaria 189/20, mas hoje estão na lista por força de decisão judicial: Madame Satã, Marina Silva e Benedita da Silva.

Fonte: Congresso em Foco