A dívida do Brasil no Dia das Crianças, por Anderson Pereira

Mais de 600 mil brasileiros já morreram pela negligência do presidente Jair Bolsonaro na pandemia. Muitos filhos ficaram órfãos.

O governo Bolsonaro, por meio do ministro da Economia, Paulo Guedes, aprovou um corte de 92%, cerca de R$ 650 milhões de reais para o Ministério da Ciência e Tecnologia – pasta responsável pela produção do conhecimento nacional. Nesse Dia das Crianças, essa notícia é um duro golpe nessa e futuras gerações de estudantes brasileiros. 

Há 40 anos, uma geração inteira do país ficaria conhecida como os filhos da “década perdida” – aqueles nascidos nos anos de 1980. Naquela época, a ditadura militar brasileira agonizava e o país enfrentava inflação, desemprego, e corrupção. Qualquer semelhança com os dias de hoje, não é mera coincidência. “A história se repete primeiro como tragédia depois como farsa”.

Em abril de 1964, o então presidente da República, João Goulart, seria deposto pelos militares após o seu famoso discurso na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ao discursar para mais de 300 mil pessoas, Jango fez uma defesa enfática das chamadas reformas de base: reforma agrária, educacional, eleitoral e tributária.

O presidente propunha a distribuição de terras para o povo; o aumento de impostos para os ricos; aumento de escolas públicas e o direito do voto para todos. Logo, as classes dominantes viram os seus privilégios ameaçados.

Diante disso, em abril de 1964, os militares derrubaram o presidente João Goulart da presidência e instalaram no país uma ditadura militar que duraria 21 anos (1964-1985). Foi nesse período que seria divulgado pelos militares o falso discurso do “milagre econômico”.

O tal milagre vendia a ilusão para o povo brasileiro que, para crescer, o Brasil precisava fazer “crescer o bolo para depois reparti-lo”. O que aconteceu, de fato, foi o contrário. Apesar de a economia crescer naquele período, a riqueza produzida ficou ainda mais concentrada nas mãos de poucos.

Hoje, o trágico filme se repete. O patrimônio dos super-ricos no Brasil disparou durante a pandemia. Levantamento da ONG Oxfam revela que esses ganhos aumentaram US$ 34 bilhões (quase R$ 180 bilhões).

Quem também segue lucrando no governo Bolsonaro é o ministro da Economia, Paulo Guedes. Dono de uma empresa num paraíso fiscal, Guedes pode ter lucrado cerca de R$ 14 milhões com a valorização do dólar.

Enquanto isso, mais de 600 mil brasileiros já morreram pela negligência do presidente Jair Bolsonaro na pandemia. Muitos filhos ficaram órfãos. Aqueles que sobrevivem, são obrigados a dormirem na fila de açougues do país para conseguir um quilo de osso. O desemprego é o maior depois de décadas, assim como a inflação.

Paulo Guedes, que ganha com a miséria do povo, é o mesmo que propõe o corte milionário no orçamento do ministério da Ciência e Tecnologia.

Atualmente, existem quase 200 pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. A saída desse governo é urgente. Pelo Brasil e pelas futuras gerações.

Antes de terminar, deixo aqui o poema de uma torturada durante a ditadura militar brasileira.

“Mãe, me entristece te ver assim
o olhar quebrado dos teus olhos azul céu
em silêncio implorando que eu não parta.
Mãe, não sofras se não volto
me encontrarás em cada moça do povo
deste povo, daquele, daquele outro
do mais próximo, do mais longínquo
talvez cruze os mares, as montanhas
os cárceres, os céus
mas, Mãe, eu te asseguro,
que, sim, me encontrarás!
no olhar de uma criança feliz
de um jovem que estuda
de um camponês em sua terra
de um operário em sua fábrica
do traidor na forca
do guerrilheiro em seu posto
sempre, sempre me encontrarás!
Mãe, não fiques triste,
tua filha te quer.”

(Soledad Barret Viedma)

* Soledad Barrett, poeta e intelectual paraguaia, cruelmente torturada e morta pela Ditadura Militar em Pernambuco (Chacina da Chácara de São Bento). Soledad estava gestante de quatro meses, ainda assim, e mesmo assim não fora poupada. Ela foi encontrada nua, dentro de um barril numa poça de sangue, tendo aos pés o feto de 4 meses, expelido provavelmente durante as sessões de torturas. A poetisa havia recebido quatro tiros na cabeça e apresentava marcas de algemas nos pulsos e equimoses no olho direito.   

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