Moraes impõe duas novas derrotas a Bolsonaro em inquéritos do STF

Moraes prorroga inquéritos sobre milícias digitais antidemocráticas e sobre interferência de Bolsonaro na Polícia Federal

(Foto: Reprodução)

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), prorrogou nesta segunda-feira (11) o inquérito que investiga a atuação de supostas milícias digitais antidemocráticas. Ele também prorrogou por mais 90 dias o inquérito que apura suposta interferência política do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal (PF).

A primeira apuração foi aberta junto à investigação dos atos com pautas antidemocráticas. Ambas extensões são de 90 dias, atendendo pedido feito pela PF e representam derrotas inesperadas para o governo Bolsonaro.

Na 6ª feira (8), a PF apresentou um relatório da investigação a Moraes que aponta a presença do assessor especial da presidência, Filipe Martins, em depoimento de dois empresários realizado no feriado do 7 de Setembro. Embora o assessor de Bolsonaro estivesse disfarçado de namorado da advogada, a PF descobriu e registrou o interesse do Palácio nos depoimentos sobre o “gabinete do ódio” ligado ao governo, que financia, produz e dissemina ameaças, ataques e mentiras contra o judiciário.

O inquérito das milícias digitais antidemocráticas foi aberto em julho por decisão do ministro Alexandre de Moraes, que também é relator. Há suspeita é de que esse grupo tenha sido abastecido com verba pública.

Uma das diligências pendentes é o depoimento do escritor Olavo de Carvalho. A PF quer apurar se há ligação do escritor com a suposta milícia digital. Os investigadores já ouviram blogueiros e youtubers que apoiam o governo do presidente Jair Bolsonaro. 

Moro e a interferência na PF

No caso da suspeita de interferência do presidente na Polícia Federal, uma das pendências da investigação é o depoimento do próprio Bolsonaro. Na última quarta-feira (6), o presidente informou ao Supremo, via AGU (Advocacia Geral da União), que aceitava uma oitiva presencial, antes da Corte julgar sobre o assunto.

Apesar de lutar por um ano para depor por escrito, ele se antecipou para evitar o constrangimento e parecer que não tem medo da oitiva presencial, quando terá que falar frente a frente com os investigadores. Por outro lado, a atitude de Bolsonaro faz parte da estratégia de evitar confronto com o STF, o que aliviou as tensões.

Com a mudança de atitude, o ministro Alexandre de Moraes ordenou que a PF ouça Bolsonaro em até 30 dias. Desde abril de 2020, com a demissão ruidosa do ministro da Justiça, Sergio Moro, foi instaurada a suspeição. Na ocasião, o presidente havia demitido o então diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, escolhido por Moro.

No lugar de Valeixo, Bolsonaro tentou nomear o diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem, nome próximo da família do presidente. A iniciativa foi barrada por decisão de Alexandre de Moraes, que suspendeu a indicação.

Desde a abertura do inquérito, a PF ouviu Moro, Valeixo, Ramagem, deputados bolsonaristas e ministros palacianos.