Movimentações e ameaças da direita na Europa

A consciência democrática e de esquerda na Europa encara esse ambiente político como uma ameaça séria à democracia e à ordem social.

Uma loura risonha de 44 anos que nasceu em Roma, ex-jornalista até adotar a profissão da política é a nova aposta da direita para as eleições nacionais da Itália em 2023. Trata-se de Giorgia Meloni, líder do neofascista Fratelli d’Italia. No recente pleito municipal a direita não foi tão bem sucedida quanto esperava, mas as sondagens de opinião dizem que, no plano nacional, em 2023, será diferente.

Matteo Salvini, o exuberante ex-Ministro que pretendia liderar o movimento conservador parece que se transformou numa estrela decadente enquanto Giorgia Meloni sobe na preferência de todas as nuances reacionárias italianas. O Movimento 5 Estrelas também se mostra em maré vazante e acaba de perder suas grandes conquistas de 2018, quando conseguiu vencer em Roma e em Turim. Os ventos dessas eleições de agora sopraram na direção da centro esquerda do PD-Partido Democrático, que resultou da união de diversas siglas de esquerda e sociais democratas. O líder Enrico Letta declarou que seu partido mostrou que é possível derrotar a direita. “Voltamos a estar em sintonia com o país”, disse.

Espanha e Portugal

Na Espanha, após a convenção do PP-Partido Popular, realizada na praça de touros de Valência, seu líder Pablo Casado encerrou também o debate interno sobre as posições que o partido deveria assumir. Muitos defendiam uma postura de centro, mas Casado declarou no seu pronunciamento final plena adesão ao discurso de extrema direita, condenou o que classificou de “doutrinação nas escolas” e também “as loucuras das questões de gênero”. O PP inclina-se para a direita de olho nas eleições nacionais de dezembro de 2023, quando pretende voltar ao poder. Faz muito pouco tempo que foi derrotado por uma coligação de partidos de esquerda e centro-esquerda. Com o discurso de Valência, procura também ocupar os espaços do Vox, a outra sigla de extrema direita que agita a política espanhola. Uma forte estrela no PP é Isabel Dias Ayuso, presidente da comunidade de Madrid. Ela declarou seu apoio a Pablo Casado e os comentaristas de política acreditam que está se resguardando para 2023, quando pretende ser eleita para governar o país. No encerramento do congresso, foi recebida pelas nove mil pessoas presentes com uma manifestação digna de uma estrela de rock.

Isabel Díaz Ayuso (Reprodução/Twitter)

Em Portugal, a extrema direita deu as caras em 2019, quando foi fundado o Chega e seu líder André Ventura conseguiu se eleger para a Assembleia da República. De imediato aderiu ao Partido Identidade e Democracia, uma aliança de extrema direita fundada em 2014 e que possui o estatuto de partido pan-europeu. Os outros membros de destaque são a Liga, de Matteo Salvini, o Reunião Nacional de Marine Le Pen e o neonazista Alternativa para a Alemanha. O grupo possui 73 deputados no Parlamento Europeu.

André Ventura ficou conhecido por ter sido um comentarista de futebol e militante do Partido Social Democrata, de onde saiu para fundar o Chega. O PSD foi criado para disputar o espaço da centro esquerda, mas migrou para a direita. As duas atividades de André Ventura deram-lhe bastante visibilidade, o que favoreceu a cobertura midiática que o seu partido obteve desde o princípio. Seu programa defende o estado mínimo, a família tradicional e é contra os serviços públicos de educação e saúde, que no seu entender não são da competência do estado. O Chega é definido por observadores, estudiosos e acadêmicos como um partido racista, fascista e perigoso para a democracia portuguesa.

O Partido Identidade e Democracia deu à luz uma declaração pregando uma reforma da Europa, o que significa enfraquecer a União Europeia. Entre seus signatários, entre outros, encontram-se o líder do partido polaco Direito e Justiça, Jaroslaw Kaczynski, o Fidesz, liderado pelo primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, o Reunião Nacional de Marine le Pen, o Liga, de Matteo Salvini e a formação neofascista Fratelli d’Italia.

Radicalismo neonazista

Na Alemanha é onde os movimentos neonazistas dão sinais de aprofundarem sua ação extrema e radical. Se antes se diferenciavam pelas cabeças raspadas, os skinheads nazistas que desacatavam as cidades hoje usam barbas bem cuidadas, são ecológicos e defendem um modo de vida tradicional. Surgem denúncias de que estão à espera do Dia X, um dia mítico da extrema-direita, quando se dará um acontecimento que vai fazer desabar o sistema democrático e eles tomarão o poder.

Manifestação do movimento alemão Pegida em 2015 (Kalispera Dell/Wikipedia)

Os novos nazistas estão a se deslocar para regiões pouco povoadas e lá instalam campos de treinamento. O estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, segundo o especialista em segurança Daniel Trepsdorf, é um laboratório da extrema-direita. A educação das crianças é orientada para lhes eliminar a empatia, a disparar armas e matar pequenos animais. E cantam hinos da antiga Juventude Hitlerista.

A vitória do Brexit, reivindicada pelo Partido Independente do Reino Unido, de extrema direita, bem como a influência crescente do Rassemblement National na França juntaram-se ao advento dos novos partidos que apresentam crescimento na Alemanha, Áustria, Países Baixos, Suécia, Hungria, Finlândia, Dinamarca, Grécia, Itália e Polónia. A extrema direita hoje está presente com seus representantes nos governos da Croácia, Estónia, Letónia, Países Baixos, Polónia, Sérvia, Eslováquia, Suíça, Bulgária, Dinamarca e Noruega

A consciência democrática e de esquerda na Europa encara esse ambiente político como uma ameaça séria à democracia e à ordem social. O renascimento nazifascista precisa ser combatido pelas instituições europeias, é algo que desperta grande preocupação principalmente naqueles países que estiveram envolvidos na tragédia da guerra e do Holocausto.

Fonte: Carta Maior