600 mil mortes: Estamos diante de uma política genocida

Para o psicoterapeuta Valdemar Angerami, a indiferença da população diante das 500 mortes diárias por covid, é consequência de uma política deliberada de genocídio e negacionismo científico.

O psicoterapeuta existencial Valdemar Angerami

O Brasil superou a marca das 600 mil mortes por covid, e, no ano do 2021, foi o país em que morreram mais pessoas vítimas dessa pandemia. O psicoterapeuta Valdemar Augusto Angerami analisou, a pedido do Vermelho, o fenômeno da notificação de 600 mil mortes pela covid em um ano e meio de pandemia, ao mesmo tempo em que as pessoas se aglomeram em grandes eventos e tiram as máscaras em meio à circulação do novo coronavírus.

Angerami é o autor com o maior número de livros publicados em psicologia no Brasil, adotados nas principais universidades da América Latina e Europa. É especialista no tratamento de pessoas com tendências suicidas, e comparou a situação da pandemia com pessoas que vão à praia no feriado, sabendo que muitos morrerão pelas estradas.

Para ele, isso é consequência de uma política deliberada para naturalizar as mortes e tornar a população apática diante do risco, e assim manter a economia funcionando. “Isso não é uma coincidência. Nós estamos diante de uma política genocida, uma política negacionista, em que nós temos um estúpido na Presidência da República, que faz propaganda medicamentosa sem ser inclusive médico”, criticou o terapeuta.

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Mas o que Angerami considera mais grave, é que, alem de arrastar a população para esse ambiente de indiferença à pandemia, Bolsonaro “arrasta atrás de sua loucura um punhado de outros tantos aloprados que são médicos”. “Pessoas que estão rasgando o próprio diploma, a começar pelo ministro da Saúde, o senhor Queiroga, que agora está vindo a público para negar o uso de máscaras. Isso é uma coisa inacreditável, uma total sandice!”, espanta-se ele.

Angerami destacou o fato de estarmos, 19 meses depois, com uma média diária “absurda” de 500 mortes. Para ele, o ministro médico agir contra os protocolos sanitários básicos “significa dizer que estamos lançados à própria sorte”. De muitas formas, até mesmo as pessoas mais conscientes acabam cedendo ao clima de descuido diante da falta de autoridade diante do contágio generalizado pelo vírus.

“Se a própria população não se cuidar, nós realmente teremos esse número e média sem alteração”, diz ele, sobre o fato número oscilar, sem queda significativa abaixo de 500 óbitos, mesmo com a vacinação avançada. “Vejam que estamos com esse número absurdo, de 600 mil mortes, e estamos tendo os estádios de futebol, os espetáculos, os cinemas, tudo aberto, como se não houvesse amanhã. Tudo funcionando normalmente”, lamentou.

Na opinião dele, se a postura e orientação dos órgãos governamentais fosse minimamente científica e cautelosa, a situação poderia ter sido muito diferente. “Mas do jeito que a coisa está largada, à solta, é inacreditável. O governo e as pessoas, e um punhado de médicos e profissionais de saúde agindo como se não tivesse pandemia no país”.

“Tenho a sensação de que as pessoas estão agindo com a covid como agem indo com toda a família para as estradas no feriado. Estão sabendo que tem muita gente morrendo, mesmo assim estão indo para situações de risco sem qualquer preocupação ou precaução”, concluiu.

Angerami discutiu a situação psíquica da população brasileira em live ao portal Vermelho, em 10 de julho de 2020. Assista:

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