A centralidade política da classe trabalhadora

A classe trabalhadora brasileira, unida e sob a liderança do Partido Comunista, é a força social e política interessada e capaz de transformar em realidade um Programa de Reconstrução do País

Obra "Operários", de Tarsila do Amaral

Um debate recorrente na história do PCdoB diz respeito ao papel da classe trabalhadora no programa dos comunistas e na realidade política nacional. Nunca será demais lembrar que o Partido Comunista é, por definição, um partido classista, o partido da classe trabalhadora, orientado pela teoria marxista-leninista.

Nosso objetivo final é o comunismo – a fase mais avançada do socialismo, caracterizada pelo fim da exploração de um ser humano por outro, bem como da divisão social do trabalho e das próprias classes sociais. O sujeito da transformação histórica que vai conduzir a humanidade nesse rumo é a classe trabalhadora. Esses são fundamentos básicos da nossa ideologia, que conformam a identidade comunista e não podem ser desprezados. É nosso dever reiterá-los e renová-los.

Presenciamos uma grave crise do sistema capitalista em todo o mundo e no Brasil. É fato que as crises são uma rotina nesse modo de produção. Mas o que vemos hoje não se compara às crises cíclicas decorrentes da superprodução de mercadorias. É mais grave. Entrelaçado à anemia econômica e à hipertrofia financeira, observa-se o esgotamento da ordem capitalista internacional liderada pelos Estados Unidos. Disto deriva uma crise geopolítica que põe o mundo num processo de transição para uma nova ordem mundial, que ainda está longe de um desfecho. O contraponto aos EUA é a China, socialista.    

Não se deve esperar uma solução progressista para a crise nos marcos do capitalismo. É notório o acirramento da luta de classes e da polarização social e política. Compreende-se, nesse contexto, a emergência da extrema-direita, de matiz neofascista, que no Brasil chegou à Presidência da República com Jair Bolsonaro. Não é um fenômeno só brasileiro, mas mundial. O nazifascismo – que, no século passado, conduziu a humanidade à maior carnificina da história (2ª Guerra Mundial) – é o último recurso do capitalismo em crise. Agora é a expressão política da decomposição do neoliberalismo.

Para responder aos novos desafios da História, devemos repensar a centralidade política da classe trabalhadora, uma questão fundamental que não podemos relegar a uma profissão de fé abstrata. É necessária uma abordagem mais prática e concreta. Lênin nos ensinou que a consciência e o protagonismo classistas não brotam espontaneamente do movimento trabalhista. Requerem um trabalho diuturno de conscientização, mobilização e luta.

Conforme afirmou o eurodeputado João Pimenta, do PCP (Partido Comunista de Portugal), “não se trava o fascismo ignorando a luta de classes. Trava-se o avanço da extrema-direita organizando a luta dos trabalhadores pelos seus interesses, expondo a real natureza dessas forças e do sistema que as gera, as alimenta e as coloca no governo para afirmar da forma mais brutal o seu poder”. A classe trabalhadora deve liderar a frente ampla em defesa da democracia.

Não se pode ignorar que Bolsonaro chegou ao poder na carona do golpe de 2016, que foi, fundamentalmente, um golpe do capital contra o trabalho. O conjunto da burguesia brasileira, no campo e nas cidades, marchou junto na empreitada golpista, sob a liderança dos EUA. A mudança da política externa depois do impeachment, com o realinhamento servil aos EUA, a hostilidade anticomunista contra a China e o projeto de integração solidária da América Latina e do Caribe, foi o prêmio requerido e conquistado por Washington.

O golpe inaugurou uma política de restauração neoliberal que tem entre seus fundamentos a destruição dos direitos e conquistas trabalhistas arrancadas ao longo de uma luta multissecular. O governo Temer nos impôs uma reforma trabalhista nefasta, que flexibilizou a legislação, criou novas modalidades de contratação precárias (como o trabalho intermitente) e enfraqueceu o movimento sindical, abolindo sua principal fonte de financiamento.

O presidente golpista também ampliou o horizonte da terceirização, permitindo que alcançasse as chamadas atividades-fim. Coroou seu desastrado governo com o novo regime fiscal criado pela Emenda Constitucional (EC) 95, que impôs o teto de gastos para áreas sociais – um grande obstáculo à recuperação da economia nacional.

Bolsonaro ampliou a ofensiva contra nossa classe, com a reforma da Previdência, recorrentes tentativas de impor o contrato “verde e amarelo”, à margem da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), e o falso discurso de que o trabalhador deve escolher entre ter direitos ou ter emprego.

A ideologia neoliberal, refletindo a avidez do capital por mais-valia, advoga que a destruição do Direito do Trabalho e o arrocho dos salários são a saída para a crise que perturba o sistema. Tal ideia não corresponde à realidade. A história ensina que a valorização do trabalho, consagrada como princípio em nossa Constituição, é uma fonte de desenvolvimento. A política de valorização do salário mínimo fortaleceu o mercado interno e favoreceu a prosperidade econômica nos governos Lula e Dilma. O auxílio emergencial de R$ 600, atribuído aos trabalhadores e às trabalhadoras que perderam a fonte de renda na pandemia, reduziu a dimensão da queda do PIB em 2020.

Em sentido contrário, a destruição de direitos, o arrocho dos salários, o enfraquecimento do movimento sindical e a restrição dos investimentos públicos não resultaram em crescimento do PIB e do nível de emprego, como prometeram os apologistas do neoliberalismo. O resultado que se vê é o pesadelo da estagflação.

Os interesses da classe trabalhadora estão em harmonia com as necessidades de desenvolvimento nacional, com a democracia, com a soberania, com a Constituição. O mesmo já não se pode dizer dos interesses da burguesia.

A classe trabalhadora brasileira, unida e sob a liderança do Partido Comunista, é a força social e política interessada e capaz de transformar em realidade um Programa de Reconstrução do País, com a redução dos juros, o câmbio administrado, o combate à inflação, a revogação da EC 95 e a ampliação dos investimentos públicos. No mesmo curso se faz necessária a geração de empregos e renda; a reindustrialização da economia; a recuperação da engenharia nacional e da construção civil; a política de conteúdo local; o fim das privatizações; a defesa das empresas públicas; a renda mínima permanente; a soberania alimentar e energética; o fortalecimento da agricultura familiar; a reforma agrária; a preservação do meio ambiente e a defesa da Amazônia. Ainda, mais verbas para o SUS (Sistema Único de Saúde) e a Educação; reforma tributária progressiva; ampliação da oferta de crédito para micros, pequenos e médios produtores; e universalização dos serviços públicos.

Com isso, estaremos abrindo caminho para a agenda da classe trabalhadora por um novo projeto nacional de desenvolvimento, com soberania, democracia e valorização do trabalho, rumo ao socialismo. Os indicadores devem orientar a ação dos comunistas neste momento crítico para a ordem capitalista mundial.

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