Estudos da mudança climática tiveram quase toda verba cortada por Bolsonaro

BBC News Brasil fez a conta do corte de gasto em pesquisa nos três primeiros anos de Bolsonaro comparado com anos anteriores.

A área ambiental é uma das mais castigadas no governo Bolsonaro

O governo do presidente Jair Bolsonaro cortou em 93% os gastos para estudos e projetos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas nos três primeiros anos da sua gestão quando comparado com os três anos anteriores.

Os dados foram levantados pela BBC News Brasil por meio do Sistema Integrado de Orçamento do Governo Federal (Siop). Entre janeiro de 2016 e dezembro de 2018, os investimentos nessa área foram de R$ 31,1 milhões. Na gestão Bolsonaro, porém, os gastos foram de apenas R$ 2,1 milhões.

Pressionado por altas taxas de desmatamento nos últimos anos, o governo Bolsonaro participa de forma tímida na COP-26, Conferência do Clima da ONU, que acontece em Glasgow, no Reino Unido. Conforme fica evidente o desmonte da gestão ambiental no país, o pedido de demissão (em plena Conferência) do coordenador do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo Lucon, e os dados de financiamento das pesquisas, mais aumenta a desconfiança de todo o mundo com as tímidas metas apresentadas pelo Ministério do Meio Ambiente, nos últimos dias.

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Em meio às promessas e acordos assinados, o levantamento feito pela BBC News Brasil, porém, mostra uma redução drástica do investimento do governo federal em estudos para preparar o país para os efeitos da crise no clima.

Os dados consideram duas ações orçamentárias do governo federal destinadas, especificamente, a produzir estudos e projetos com essa temática: 20G4 — Fomento a Estudos e Projetos para Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima (sob responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente) e 20VA — Apoio a Estudos e Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento à Mudança do Clima (a cargo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações).

O levantamento aponta que o ritmo de investimento entre 2016 e 2018 era de redução. Em 2016, ainda sob Dilma Rousseff, por exemplo, o governo gastou R$ 20,7 milhões. No ano seguinte, no governo golpista de Michel Temer, esse valor caiu para R$ 8,4 milhões. Em 2018, chegou a R$ 2 milhões.

A queda prosseguiu no governo Bolsonaro. Em 2019, seu primeiro governo, ele investiu R$ 1 milhão. Em 2020, foram gastos R$ 659 mil. Neste ano, até outubro, foram gastos R$ 426 mil. Em 2021, foram empenhados na ação orçamentária 20G4 R$ 110 mil reais até agora. Para 2022, estão previstos pouco mais de 500 mil reais.

Os dados mostram ainda que, no Ministério do Meio Ambiente, os investimentos em estudos sobre mudanças climáticas foram zerados desde o primeiro ano do governo.

Desmonte generalizado da fiscalização

A política ambiental do governo Bolsonaro é criticada em todo o mundo pelo negacionismo científico e apoio que hipoteca ao agronegócio e à mineração, que financiam sua eleição e o sustentam politicamente. Em sua campanha, em 2018, ele prometeu acabar com o que chamava de “indústria das multas” ambientais, o que levou aos recordes de desmatamento para agricultura, pecuária, venda de madeira e mineração ilegal.

O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que ficou na pasta de janeiro de 2019 a junho de 2021, extinguiu, logo no início da gestão, a secretaria responsável por elaborar políticas públicas sobre mudança climática, medida revertida em 2020, pelas pressões internacionais.

O ministro terminou seu mandato`,` às pressas, em junho deste ano em meio a investigações sobre seu suposto envolvimento com um grupo de empresários que faria contrabando de madeira da Amazônia.

Especialistas criticam a falta de investimento pesado nesta área de pesquisas para preparar o país e sua população para os efeitos dramáticos que se agravam a cada ano com o aquecimento global. Mesmo o agronegócio e a poderosa indústria de alimentos brasileira sofrerá impactos profundos com secas e irregularidades no clima.

Nenhuma instância de governo que poderia se pronunciar sobre o assunto responde às reportagens com pauta crítica ao governo.

Com informações da BBC News Brasil