Juros consomem quase 12% da renda das famílias, diz pesquisa

O montante perdido com juros é equivalente a 73% do recurso injetado via auxílio emergencial no ano passado.

Cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) semestral e 11,79% da renda das famílias ficaram comprometidos com pagamento de juros no primeiro semestre de 2021, aponta estudo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Foram R$ 233,5 bilhões no período. Em termos comparativos, o montante é equivalente a 73% do recurso injetado via auxílio emergencial no ano passado.

Altamiro Carvalho, assessor econômico da federação, disse hoje  (10) que, depois do aluguel, o gasto com juros é o segundo item entre as maiores despesas dos brasileiros. “O juro é disseminado nas despesas de uma forma que as pessoas não têm consciência do volume que esse recurso representa no orçamento doméstico”, afirmou. O gasto com juros ultrapassa, por exemplo, os custos totais, por ano, com educação, serviços e vestuário.

Com isso, enquanto os trabalhadores e famílias foram massacrados pela inflação descontrolada, o lucro dos bancos no último trimestre atingiu novo recorde. O lucro líquido do Itaú, Bradesco e Santander totalizou R$ 17,886 bilhões – uma alta anual de 28,5%.

Segundo cálculos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Bolsonaro empurrou as famílias brasileiras para um endividamento recorde entre julho e agosto passados. O percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso bateu recorde pelo terceiro mês consecutivo, quando 72,9% delas estavam endividadas, contra 71,4% em julho.

Esse é o maior percentual desde 2010, quando a iniciou a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Segundo o estudo, divulgado na quarta-feira (25), 11,89 milhões de famílias chegaram a agosto com algum tipo de dívida. A falta de rumo do governo Bolsonaro e o consequente descontrole sobre indicadores econômicos como inflação, emprego e renda do trabalho faz com que as famílias brasileiras fiquem “penduradas” em dívidas.

A própria FecomercioSP também divulgou, hoje, que sete em cada dez lares da cidade de São Paulo têm alguma dívida para pagar, um sinal amarelo que mostra que o orçamento apertou, sendo preciso completar com compras parceladas.. Este índice de endividamento é o maior desde 2010, quando a entidade começou a realizar este tipo de levantamento.

71,3% de endividados na capital equivalem a quase 3 milhões de lares nessa situação. Além de ser o maior número desde que o levantamento começou a ser feito, esse endividamento está subindo há 11 meses seguidos. Em novembro de 2020, o percentual de endividados era de 56,1%, atualmente, 620 mil famílias entraram para o grupo.

Desestímulo ao consumo

A análise da Fecomércio, por sua vez, aponta, ainda, que “o auxílio distribuído pelo governo federal, que poderia incentivar ainda mais o consumo das famílias, beneficiando de maneira homogênea outros setores da economia, foi bastante comprometido com a quitação destas taxas, canalizadas pelo sistema financeiro”. O estudo quantifica o volume destinado ao pagamento de juros dos empréstimos obtidos em operações de crédito livre nos seis primeiros meses de 2019, 2020 e 2021.

“Se metade disso [montante de juros] não tivesse sido pago, você injetaria na economia recursos para consumo das famílias, daria condições de consumo, de uma forma muito impactante que poderia, obviamente, estimular a produção, iria para a indústria, iria girar o nível da atividade econômica como um todo”, destacou Carvalho. Ele disse que o pagamento de juros, por sua vez, vai para as instituições financeiras e volta para o mercado também na forma de juros.

Quitação

No item pessoa jurídica, o estudo indica que as empresas utilizaram R$ 90,2 bilhões para quitação de juros. O valor é 8,2% acima do registrado em 2020. A soma representa 2% do PIB semestral. O Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), por exemplo, liberou R$ 37,5 bilhões em recursos para mais de 500 mil negócios em 2020. Nesse sentido, o montante de juros pagos pelas pessoas jurídicas, no primeiro semestre deste ano, é quase 2,5 vezes maior que o volume destinado pelo programa.

A FecomercioSP aponta, também, que a inadimplência entre as famílias está controlada. O valor dos empréstimos atrasados há mais de 90 dias teve queda de 14,4% no primeiro semestre de 2021, ficando em R$ 54,4 bilhões. A taxa de inadimplência era de 4,8% nos primeiros seis meses de 2019, 5,3% em 2020 e ficou em 4,1% de janeiro a junho de 2021.

Em relação ao crédito neste ano, considerando o período analisado, “tanto as concessões quanto o saldo das operações de crédito para pessoa jurídica avançaram, no comparativo anual, 1,2% e 5,1%, respectivamente”, aponta em nota a federação.

Para ela, “o crédito no Brasil impõe um custo elevado tanto para os lares como para as empresas, retirando da sociedade quase 8% do PIB semestral, a título de pagamento de juros”. A entidade acredita que o desequilíbrio nas contas públicas é o principal fator que explica os juros elevados, embora reformas estruturantes não tenham garantido o controle fiscal, apenas sacrificado ainda mais os trabalhadores.

Com informações da Fecomércio

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