Venezuela realiza eleições regionais para definir mais de 3 mil cargos

Cerca de 21 milhões de venezuelanos deverão eleger governadores, deputados estaduais, prefeitos e vereadores

Após seis anos de boicote, oposição irá disputar eleições para definir governos locais na Venezuela - (Foto: Michele de Mello/Brasil de Fato)

Neste domingo (21), a Venezuela realiza eleições regionais para escolher 3.082 cargos públicos entre vereadores, prefeitos, deputados estaduais e governadores. A oferta eleitoral inclui 70.244 candidatos, 80% de oposição, que irão disputar a preferência de 21 milhões de eleitores. 

Enquanto o Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv), no governo, busca manter sua presença em 90% das 335 prefeituras e 19 dos 23 estados do país, a oposição tenta abrir caminho para ocupar mais cargos políticos. Isso pode ocorrer com uma maior probabilidade nos estados fronteiriços com a Colômbia e com o Brasil, segundo apontam as pesquisas de opinião. 

Após seis anos boicotando as eleições, este será o primeiro processo eleitoral no qual todas as organizações de oposição irão participar. O líder opositor Henrique Capriles, do partido Primeiro Justiça, defende que, posteriormente ao processo, deverá haver uma “reorganização e relançamento das forças democráticas”.

Capriles poderia ser um dos candidatos que tentará disputar a presidência em 2024 e desde já defende a realização de eleições primárias para definir os nomes de unidade da oposição.

Apesar de relançar a Mesa de Unidade Democrática (MUD), os opositores saíram divididos em todos os estados. 

Por outro lado, o presidente Nicolás Maduro assegurou que após as eleições irá reunir-se com todos os governadores e prefeitos para planejar os próximos anos de gestão. “A Venezuela entrará numa etapa de mudança, uma etapa construtiva”, assegurou o chefe de Estado em transmissão televisiva no final da sermana.

Além da participação opositora, há uma série de novidades nestas eleições.

Novo poder eleitoral

Em maio deste ano, a Assembleia Nacional designou um novo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) como parte dos acordos entre governo e oposição feita em rodadas no México.

A partir de uma lista de 103 candidatos sugeridos por organizações da sociedade civil, partidos e um colégio de advogados, foram escolhidos Alexis Corredor, Tania D’Amélio, Pedro Calzadilla, Enrique Márquez e Roberto Picón, todos juramentados como os novos diretores principais do CNE. Os três primeiros são personagens próximos do chavismo, enquanto Márquez e Picón são opositores.

Auditoria externa e novo registro eleitoral

O novo CNE também realizou jornadas de atualização do registro eleitoral, incluindo 350 mil novos eleitores que deverão votar pela primeira vez nesse domingo. 

Além da renovação do poder eleitoral, todo o parque tecnológico foi atualizado. Em janeiro de 2020, um incêndio em uma das sedes do Conselho Nacional Eleitoral destruiu 90% das urnas eletrônicas. Portanto, para as eleições legislativas de 2020 foram compradas novas urnas e implementado um novo software de votação, que deixou o processo ainda mais rápido.

Neste ano, todo o sistema passou por 16 auditorias, que fazem parte do cronograma eleitoral, e ainda contou com a revisão de um grupo de acadêmicos independentes, especialistas em sistemas da informação. 

Conheça detalhes das eleições regionais de 21 de novembro na Venezuela. No mapa, a atual distribuição de cargos / Fernando Bertolo / Brasil de Fato

Observação internacional

Os processos eleitorais venezuelanos sempre foram acompanhados por observadores internacionais, com organismos especializados como o Centro de Especialistas Eleitorais da América Latina (Ceela), que reúne 50 ex-presidentes de tribunais eleitorais da região. 

A novidade nesse processo é que depois de 15 anos a União Europeia assinou um acordo com o CNE e enviou uma missão de observação com 87 representantes para acompanhar o processo.

Da mesma forma, o secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antonio Guterres enviou seis especialistas que irão lhe apresentar um informe final sobre as eleições.

Além disso, seis organizações da sociedade civil venezuelana habilitaram 600 observadores eleitorais em todo o país.

Por esses e outros aspectos, o sistema eleitoral venezuelano é considerado um dos mais seguros do mundo.

O voto é facultativo e, segundo as últimas pesquisas de opinião, cerca de 60% do eleitorado deve comparecer às urnas. Este é 27º processo eleitoral em quase 22 anos de governos chavistas na Venezuela. 

Fonte: Brasil de Fato