ONU e Anistia cobram investigação sobre chacina no Salgueiro

Entidades pedem imparcialidade e apuração rigorosa para encontrar responsáveis pelos mortos em São Gonçalo

Foto: O Dia

A Anistia Internacional Brasil e o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos pediram uma investigação sobre a chacina ocorrida no Complexo do Salgueiro, no último final de semana. Ao todo, nove corpos foram encontrados após uma operação da Polícia Militar na cidade fluminense de São Gonçalo.

As duas entidades pedem que a investigação seja feita com imparcialidade e de maneira rigorosa. Em nota, a Anistia Internacional Brasil informou que acionou o governo estadual do Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado de Polícia Militar e o Ministério Público solicitando informações detalhadas sobre a operação policial.

“O Complexo do Salgueiro, assim como a maior parte das comunidades periféricas no estado do Rio de Janeiro, é alvo sistemático de violência policial e graves violações de direitos humanos”, alerta a Anistia, que relembra do histórico violento das polícias do Rio. “Há um ano e meio, João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, foi assassinado dentro de casa, também no Complexo do Salgueiro, após ser baleado com um tiro de fuzil. As investigações sobre seu assassinato permanecem sem solução. Há apenas seis meses, ocorreu a chacina do Jacarezinho, que vitimou 28 pessoas. Também neste caso as devidas responsabilizações não foram concluídas.”

Os mortos foram retirados de um manguezal, no bairro das Palmeiras, após operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope), na madrugada do último sábado (20). Segundo os relatos, durante a ação policial houve tiroteios entre a Polícia Militar e traficantes. Na manhã de domingo (21), uma idosa foi atingida no braço por uma bala perdida e o sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, do 7º BPM, acabou morto.

Violência policial

Segundo o Uol, o Alto Comissariado da ONU mostrou preocupação com o ocorrido e pediu a identificação dos responsáveis. A organização ainda ressaltou a necessidade de se fazer um debate amplo e inclusivo sobre o modelo de policiamento nas favelas brasileiras.

“Nosso escritório pede ao Ministério Público que conduza uma investigação independente, completa, imparcial e eficaz sobre essas mortes, de acordo com padrões internacionais”, declarou a porta-voz da entidade, Marta Hurtado.

Os relatos locais apontam que os mortos foram vítimas de tortura e os corpos jogados uns sobre os outros, no mangue. Segundo moradores, o total de vítimas pode chegar a 20 pessoas, já que ainda há desparecidos.

“É alarmante que familiares de vítimas da violência policial nas comunidades do Rio de Janeiro chorem constantemente pela perda de seus entes queridos, mesmo estando em vigor a determinação do Supremo Tribunal Federal que suspende as operações policiais nas favelas. Operações policiais que terminam em mortes cujas circunstâncias indicam uso excessivo e desproporcional da força e conduta ilegal dos agentes de segurança pública são inaceitáveis e precisam ser esclarecidas à população e aos familiares das vítimas”, criticou a Anistia.

Fonte: RBA