Deputada acusa avanço do garimpo na terra Yanomami onde 2 crianças morreram

De acordo com a parlamentar, atividade ilegal foi responsável pela morte de duas crianças da etnia na comunidade Macuxi Yano, em Roraima

Joênia Wapichana - Will Shutter/Agência Câmara

Mesmo em meio a pandemia, a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR) diz que o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami continua se expandido. De acordo com ela, esse tipo de atividade foi responsável pela morte de duas crianças da etnia na comunidade Macuxi Yano, em Roraima.

No dia 12 de outubro, os meninos, de 4 e 7 anos, brincavam na margem do rio Parima quando teriam sido sugados por uma draga de garimpeiros. Eles morreram afogados e os corpos encontrados dias depois.

“Se antes era um crime dos que buscavam o pão, hoje passou a ser domínio de grandes empresas. A própria Polícia Federal aprendeu 60 aeronaves. O garimpo não só impacta socialmente e culturalmente os povos indígenas, como o meio ambiente a agora causa a morte de crianças”, denunciou a deputada durante audiência no Senado.

O mesmo assunto foi debatido na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Presente na reunião, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Anderson Torres, e o presidente da Funai, Marcelo Xavier, deveriam prestar esclarecimento sobre a mortes das crianças, mas evitaram falar a respeito.

O ministro afirmou que o problema do garimpo em Roraima está relacionado com a chegada de venezuelanos ao Brasil. “As operações precisam aumentar, porque a questão do crime organizado do garimpo que estamos vivendo em Roraima é decorrente de um problema da Venezuela”, justificou. O deputado bolsonarista Coronel Chrisóstomo (PSL-RO) afirmou que as mortes das crianças não estavam relacionadas com o garimpo.

A partir daí o clima esquentou na audiência que terminou em tumulto. O líder do povo Yanomami Dário Kopenawa disse que a fala do ministro não tinha “nada a ver” com o contexto da audiência, que foi convocada para tratar sobre as mortes das crianças.

Kopenawa também desmentiu o deputado: “As crianças foram sugadas sim. Todos os Yanomami sabem e viram as crianças, inclusive os próprios garimpeiros viram a cena. Depois que as crianças foram sugadas, eles desmontaram a draga e levaram para outro lugar. Os corpos das crianças estavam cheios de machucados e lama, nós vimos, temos testemunhas”, afirmou o líder.

Garimpo ilegal

Integrante do Grupo de Trabalho Comunidades Indígenas da Defensoria Pública da União, Renan Vinícius Sotto Mayor destacou que a problemática dos garimpos também atinge outros grupos indígenas.

“Há uma verdadeira omissão do Estado brasileiro em combater esse tipo de crime. Uma violação massiva dos direitos humanos”, disse.

“É necessária uma ação estrutural para enfrentamento ao garimpo ilegal, quando falamos em 20 mil a 30 mil garimpeiros nessa região. O Estado tem de se estruturar para combater de forma efetiva”, destacou.

De acordo com o levantamento do Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas do Cimi, dados de 2020, os invasores são responsáveis pela devastação do território, pelo aumento de conflitos e de práticas de violência, além de atuarem como “vetores” do coronavírus.

Com informações do Cimi e PT no Senado.

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