Empresário bolsonarista chama de heróis garimpeiros ilegais do Madeira

Elton Rohnelt, que atua no setor de garimpos por décadas, avisa que as atividades ilegais não vão parar com a repressão policial e destruição das balsas

Elton Rohnelt é o terceiro a partir da esquerda (Foto: Presidência da República)

O presidente emérito da Câmara de Gestão e Estudos Superiores do Instituto do Desenvolvimento da Mineração (IDM Brasil), Elton Rohnelt, disse que os garimpeiros que invadiram, com balsas e dragas, o rio Madeira, em Autazes (município amazonense que fica a 113 quilômetros de Manaus), deveriam ser tratados como heróis.

Empresário com décadas de atuação no garimpo, Elton Rohnelt avisa que as atividades ilegais não vão parar com a repressão policial e destruição das dragas e balsas.

De acordo com ele, é muito ouro para ser explorado. “A Polícia Federal vai lá, queima máquina, dão porrada, no outro dia tá de novo. Pegam o ouro com a mão”, disse ele ao jornalista Maurício Angelo, do Observatório da Mineração.

“O garimpeiro não está fora da lei, quem está fora da lei é o estado brasileiro que não legisla, deixa o cara fora da lei pra levar porrada. Se o garimpeiro chegar com o ouro na cidade, é denunciado, a Federal prende, tira o ouro dele. O que ele prefere? Contrabandear”,

Para ele, os garimpeiros deveriam receber o mesmo tratamento dos mineradores em outros países. “Quem descobre ouro nos Estados Unidos ou Canadá vira herói e tem auxílio do governo.”

“Não interessa se é área indígena. Onde for, o governo vai ajudar. Quer o ouro para fortalecer o país. Aqui no Brasil não, prefere que vá tudo pro contrabando”, diz.

A IDM Brasil presta uma espécie de assessoria técnica para a Frente Parlamentar da Mineração no Congresso Nacional. Formada por 233 deputados e seis senadores, a Frente quer aprovar no Congresso Nacional um Novo Código de Mineração (NCM) por meio do qual quer legalizar a atividade do garimpo na Amazônia. O coordenador do Grupo de Trabalho responsável pela proposta, deputado Evandro Roman (Patriota-PR), diz que está atendendo um pedido de Bolsonaro e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

“É um pedido do presidente Jair Bolsonaro e do presidente da Câmara, Arthur Lira, que nosso trabalho seja pensado para o micro, pequeno e médio minerador. Para que possamos dar segurança jurídica e previsibilidade a todo setor da mineração”, o que inclui investidores estrangeiros, afirmou Roman ao UOL.

O presidente da IDM Brasil diz ser amigo de Bolsonaro e “gostaria de ajudá-lo mais”. Em 1997, quando foi deputado federal por Roraima (1995 a 2003), ele viajou na companhia do então deputado Bolsonaro para São Gabriel da Cachoeira onde visitaram a região de Seis Lagos na Cabeça do Cachorro, considerada a maior reserva de nióbio do planeta.

Trata-se da mesma região onde o ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Augusto Heleno, autorizou o avanço de sete projeto de exploração de ouro.

Desde o final dos anos 80, Rohnelt possui dezenas de requerimentos para exploração mineral em terras indígenas, incluindo a TI Yanomami e na região da Cabeça do Cachorro.

Trajetória

Com 80 anos, o gaúcho está radicado na Amazônia há décadas. Na região, foi diretor de madeireira e dono de garimpo. Ele é apontado pela Comissão Nacional da Verdade como o líder da invasão garimpeira na Terra Indígena Yanomami na década de 1980, quando ocorreu um genocídio.

Rohnelt ainda foi vice-líder do governo Fernando Henrique Cardoso e assessor direto de Michel Temer. Na Câmara, o empresário relatou do Projeto de Lei n. 1610 de 1996, do ex-senador Romero Jucá, o primeiro a tratar sobre a exploração mineral em terras indígenas.

“A relatoria de Rohnelt foi simples: apoiou integralmente o projeto”, diz o Observatório.

Autor