Os desafios do Brasil e o legado de Sérgio Rubens

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Foto: Karla Boughoff

Há anos, nosso povo, particularmente os trabalhadores, vem sofrendo com a implementação no país da politica neoliberal, do estado mínimo.Este descalabro vem acabando com tudo que é ganho civilizacional, as conquistas de uma vida digna para o povo brasileiro.Pela bárbarie, culpam o estado por essa situação de grande retrocesso vivida pelo Brasil.Os neoliberais  tentam responsabilizar o estado, os direitos trabalhistas, previdenciários, as conquistas dos trabalhares como a de receber um salário digno, o direito à saúde, à educação, à moradia. Suprimem direitos para atender à obsessão de amealharem mais lucros.Destrói-se o patrimônio público, as estatais estratégicas e o parque industrial nacional. Tudo para atender à ganancia do “mercado”, dos monopólios internacionais. Mas é bom lembrar que foi o estado que amenizou o impacto da pandemia de Covid-19 no Brasil. Se não fosse a ação do Sistema Único de Saúde (SUS), – o maior sistema de saúde dos países capitalistas – ,a ciência, neste caso o papel espetacular que teve o Instituto Butantã, que comprou a vacina Coronavac da China em uma articulação do governo do Estado de São Paulo com o governo chinês – certamente o número de óbitos teria sido  muito maior, e já se encontra em testes finais a vacina genuinamente brasileira, a Butanvac.

Os neoliberais de todo mundo não tiveram outra saída a não ser recorrer do investimento estatal para que o caos e o aumento generalizado de casos e mortes pela pandemia da Covid-19 não afetasse ainda mais seus países.Investiram milhões na produção de vacinas, como também no socorro aos trabalhadores que fizeram quarentena e receberam os seu salários em casa para ficarem em isolamento social e assim não perderem a mais valia da força de trabalho dos seus funcionários.

O Brasil atingiu a triste  marca de 16 milhões de desempregados, fora os desalentados, os subempregados e o trabalho informal. Somando-se tudo isso são mais de 40 milhões de trabalhadores no desespero.A fome volta a assombrar milhões de seres humanos no país. O preço dos alimentos e gêneros de primeira necessidade está nas alturas, os combustíveis sofreram mais 75% de aumento, enquanto os salários seguem arrochados e a miséria se espalha pelo pais. Enquanto isso, Bolsonaro e sua trupe segue pelo mundo afora fazendo turismo, torrando os recursos públicos, entregando o país a preço de banana. Ao mesmo, Paulo Guedes, a mando do seu chefe, vai destruindo o Brasil.

A pedido do genocida Bolsonaro, seus representantes no Congresso Nacional usam o tal do orçamento secreto, que é nada mais que uma licença para roubar e legalizar a corrupção.

Esse é o quadro caótico em que se encontra o país, tendendo a piorar daqui para a frente por conta da crueldade, insensibilidade e capachismo deste governo ao capital financeiro e aos monopólios privados internacionais. Através de sua política  econômica desastrosa, com o tripé macroeconômico que destrói a economia do país, as empresas, os empregos. Tal como um tsunami, vai destruindo tudo que vê pela frente tirando vidas, empregos, saúde, educação, para saciar a vontade de se apoderar dos recursos alheios.Para os monopólios, não interessa que as nações estão sucumbindo, não importa que milhões de seres humanos estão definhando e morrendo pela fome, são vitimados pela Covid-19, sem perspectiva de melhora diante de um governo como esse, genocida, capacho e entreguista.

Com um esforço hercúleo dos democratas do país, vai-se construindo a Frente Ampla pela vida, pela democracia e pelos direitos do povo. Tal frente já obteve vitórias  importantes como esplendida instalação e o funcionamento da CPI da Pandemia, que se transformou em tribuna de denúncia dos crimes de Bolsonaro e desmoralizou todo o governo, deixando-o nu perante a sociedade que a partir das denuncias teve conhecimento das suas atrocidades e aguarda que se faça justiça colocando essa quadrilha na cadeia. Também obtivemos outra vitória significativa da Frente Ampla com a aprovação da federação de partidos para permitir que os partidos progressistas possam garantir seu funcionamento  sua vida institucional .Neste caso é fundamental formar uma federação ampla, com uma plataforma emergencial que permita tirar o Brasil dessa imensa crise econômica e apresenta-la ao povo. Como afirmou ao ornal Hora do Povo o economista e professor Nilson Araujo de Souza, organizador do livro “O pensamento nacional desenvolvimentista”, doutor em economia pela Universidade do Mexico (UNAM) e pós-doutor pela USP, “o Brasil está com paralização de crescimento econômico(e pior, com desemprego elevado) e com inflação, isto é, a subida generalizada de preços. Até mesmo os agentes do chamado mercado, que costumam mostrar um mundo cor de rosa, já estão prevendo estagnação econômica no ano que vem.Depois de marcarem um pouco mais de 2% de crescimento do PIB, baixaram  suas expectativas para menos de 1%: o banco norte americano J.P.Morgan cravou em 0,9% e o brasileiro Itaú 0,5%; a consultoria MB Associados 0,4%”. Segundo Nilson Araújo “a ortodoxia monetarista ultra neoliberal que infesta o Banco Central propala que a inflação é sempre um fenômeno provocado pelo excesso de demanda e adota a taxa de juros como instrumento não apenas principal como exclusivo para conter a demanda e, portanto, combater a inflação.Ao elevar as taxas de juros, provoca a queda da demanda das famílias, das empresas e do governo e joga a demanda total para baixo.Ao baratear as importações, destrói a produção interna, aprofundando a desindustrialização e o desemprego, já bastante avançado e ao elevar os juros sacrifica tanto o investimento público, quanto o privado”.

No próximo ano teremos eleições gerais no país. Escolher um candidato a presidente com o objetivo de ganhar a eleição e continuar com a mesma politica econômica neoliberal,  continuar sangrando o povo com arrocho, desemprego, fome e miséria só vai piorar a situação.Seja quem for eleito nestas circunstâncias, praticando um estelionato eleitoral, o resultado vai ser uma explosão social sem precedentes na história do Brasil. Manifestações desorganizadas e desesperadas, saques e quebra-quebras, com uma tendência de um banho de sangue nas ruas do país.

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Camaradas, não se pode falsificar a história.Em recente matéria no jornal Hora do Povo, o jornalista Carlos Pereira, ex-secretário geral da CGTB, ao analisar uma nota das centrais contra a mini-reforma trabalhista enviada pelo governo ao Congresso Nacional, escreveu: “Nos anos anteriores à reforma de 2017, o Brasil estava no caminho do crescimento. Estávamos na lista dos países mais industrializados, o desemprego era baixo, pouco a pouco a desigualdade diminuía e o povo brasileiro vivia a amplamente noticiada a ascensão da classe “C”, com maior acesso a bens e serviços.Tudo em plena vigência da CLT.” Diz ainda Carlos Pereira: ”Nada mais enrolador e mentiroso. O salário mínimo em 2014, 2015 e 2016 ficou congelado.O desemprego em 2016 era de 11,9%. Quanto à CLT, a presidente Dilma assim que assumiu o mandato, editou a medida provisória restringindo o acesso das viúvas a pensão por morte do marido.A seguir editou a MP 665, retringindo o acesso aos trabalhadores desempregados ao seguro desemprego.Em 2015, criou o fator 85/95, para ter aposentadoria a classe operária precisava trabalhar até 10 anos. Desonerou a folha de pagamento das grandes empresas e multinacionais em 450 bilhões de reais sem exigência de contra partida. Em 2015 e 2016, o PIB (Produto Interno Bruto), a soma  de tudo que é produzido no país, caiu 3,5% e mais 3,5% no ano seguinte. O PIB já havia crescido 0,1% em 2014, a participação da indústria de transformação no PIB despencou 30% nos anos 80, para 11.6% em 2016. O país estava se desindustrializando. Em 2016 a dívida pública cresceu 11,42% e atingiu a marca de 3,11 trilhões de reais. As despesas, só com juros, foram ao valor de R$ 330 bilhões. Em 2012, 2013, 2014 e 2015, respectivamente, as despesas com juros da dívida pública somaram R$ 207 bilhões, R$ 218 bilhões, R$ 243 bilhões e R$ 367bilhões. Apesar do que pagamos, a dívida hoje está em 5,9 trilhões de reais. Vou parar por aqui, trata-se de uma fake news com a marca registrada da CUT.” Mais adiante, o sindicalista afirma: ”Por que essa necessidade compulsória em falsificar a história?Dizia o filósofo: ‘a resistência à autocrítica é resistência a mudança. Compromete a sinceridade das propostas, por mais interessantes que aparentam ser’. Essas não são características das demais centrais sindicais. A submissão a essa ficção não ajuda nada na construção da unidade, na mobilização dos trabalhadores, nem aos falsificadores da realidade a trilharem outro rumo.”

Considero que é necessário colocar também na conta da Dilma a absurda privatização do campo de Libra, maior campo de petróleo da atualidade, que foi entregue em 2013, na bacia das almas, aos estrangeiros. Quem falsificar a história, para dar continuidade a uma política econômica que só traz dependência, estagnação, desemprego, fome, miséria e morte, contribui para uma combinação extremamente explosiva e que vai trazer muita dor ao povo brasileiro e certamente a revolta contra os apoiadores dessa política lesa-pátria. O caminho nesta quadra da nossa luta é continuar desmascarando e isolando o  genocida Bolsonaro, defender a democracia e garantir 100% da vacinação.

No plano eleitoral para a eleições do próximo ano, é preciso aproveitar bem a vitória que conseguimos com a aprovação da federação partidária e formar a mais ampla possível unido PCdoB, PSB, PDT, PV, PSOL e PT, com plataforma emergencial que dê início a um processo de desenvolvimento e crescimento econômico no país. Para o debate, sugiro as seguintes proposições para a nossa federação partidária:

  • Auxílio emergencial de R$600,00 reais e vacinação para toda a população
  • Garantia de emprego e renda
  • Adoção de linhas de crédito para garantir a cobertura plena da folha e do capital de giro básico, com exigência da manutenção de 100% dos empregos, para atender as empresas nacionais, sobretudo micro, pequenas, médias e grandes empresas não monopolista
  • Manutenção do programa que visa a garantia de emprego aos trabalhadores com carteira assinada
  • Fortalecer o caráter público e universal do SUS, assim como fazer investimento para desenvolve-lo
  • Resgatar o papel do trabalho como centro do desenvolvimento
  • Criação de empregos e fim da miséria absoluta
  • Deflagração de um amplo programa nacional de obras de infraestrutura de qualidade.
  • Redução da jornada de trabalho sem redução dos salários.
  • Aumentar substancialmente o investimento público
  • Redução das taxas de juros a níveis internacionais.
  • Dobrar o salário mínimo.

Essas são algumas sugestões para tirar o Brasil da crise.

Sérgio Rubens e Luciana Santos conduziram a integração do PPL do PCdoB l Foto: Karla Boughoff

Escrevi este artigo antes do falecimento do grande líder revolucionário, Sérgio Rubens de Araújo Torres e quero conclui-lo com uma homenagem a ela.

Convivi com esse camarada durante 49 anos da minha vida.Pense em um camarada com um profundo amor pela pátria, pela democracia, soberania, pelo socialismo e pelo comunismo.

Com Sérgio aprendi muita coisa nesta vida, particularmente a lutar com abnegação pelo povo, pela classe operária e pelo nosso país.Foi ele que me orientou a participar e se filiar ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo em 1974.Foi ele que me orientou a fazer a primeira greve na Philco-Ford, naquela onda de greves no ano de 1978. Foi ele que me pediu para não ir ao II Congresso Nacional do MR8 em 1979, mesmo eu tendo pleno direito, pois fui eleito como delegado, para ajudar a dirigir a campanha salarial dos metalúrgicos daquele ano, a qual foi decidido uma greve aventureira por pressão dos setores esquerdistas de ideologia pequeno burguesa, que culminou com a derrota da categoria e a morte do metalúrgico Santos Dias e que não conseguimos dar uma resposta altura  contra a ditadura. Mas era preciso colocar a posição do MR8 na assembléia que aconteceu no dia seguinte à morte do companheiro Santos no estádio do Pacaembu, para combater as posições liquidacionistas e aventureiras da oposição pequeno burguesa infiltrada na categoria e propor o final da greve que tinha a participação de menos de 5% da categoria. Essa decisão foi muito importante para o que aconteceria depois no movimento sindical brasileiro.

Essa foi o meu primeiro teste de fogo e agi  orientado corretamente pelo grande revolucionário Sérgio Rubens. Enfrentar o radicalismo pequeno burguês com altivez e coragem, determinação e argumentos era fundamental para os passos que teríamos que dar adiante na defesa da unidade da classe operária e da unicidade sindical.

Não se ensina nada a ninguém sabotando a verdade, não se faz crescer a consciência política e ideológica do povo e da classe operária conciliando com os pseudo-revolucionários, que dizem querer chegar a vitória, ao socialismo e ao comunismo na base do “oba-oba”, sem ciência, sem clareza, sem estudo, sem compromisso profundo com a revolução. O jornal Hora do Povo, em uma edição de novembro de 1979, estampou a seguinte manchete, denunciando o esquerdismo, referindo-se aos porra-loucas,: ”Os meninos da ejaculação precoce” contra as posições trotskistas que insistiam nessa linha com o objetivo de destituir o presidente do sindicato Joaquim dos Santos Andrade e toda sua diretoria e tomar de assalto o sindicato. Sergio Rubens teve atuação direta para impedir essa loucura e conseguimos.

A partir daí comecei a aprender com o Sérgio e o MR8 a travar a luta política e ideológica sob quaisquer condições para defender a humanidade, o Brasil, o povo e a classe operária.Aprendi com os camaradas Sérgio Rubens e Cláudio Campos e com o coletivo, que uma política de formação de quadros passa pelo estudo do marxismo-leninismo com afinco e com o enfrentamento das posições reacionárias e pequeno burguesa no seio do movimento, para tirar as ervas daninhas, não plantar em pequenos vasos e ver o verde e a imensidão da floresta.

Sérgio Rubens aprofundou e desenvolveu o resgate histórico iniciado pelo MR8 sob a direção do então secretário-geral Cláudio Campos.”Libertar o Brasil e construir o socialismo”.

O resgate da luta do grande líder Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que já na sua época preconiza uma política industrial para o Brasil (Leiam o livro do nosso camarada Sérgio Cruz, Liberdade ainda que Tardia).

Resgate do saudoso presidente Getúlio Vargas que liderou a revolução de 1930, transformando o Brasil de um país agrário exportador para uma potência industrial e o colocou, junto com seu povo, numa trajetória de desenvolvimento, crescimento econômico, valorização do trabalho, direitos trabalhistas, CLT e etc.

Sérgio Rubens jogou muita luz nessas questões e com camaradas da envergadura de Carlos Lopes, Nilson Araújo, Jorge Venâncio e o coletivo dirigente do MR8 e depois o PPL, chegamos à elaboração de uma política nacional de desenvolvimento, baseadas nos investimentos internos no nosso país, como o fortalecimento do mercado interno, ou seja aumento substancial dos salários, investimento público de monta, redução dos juros a níveis internacionais, investimento na educação, na saúde, fortalecendo o SUS e a defesa das estatais estratégicas.

Sérgio Rubens guerreiro imortal, revolucionário de primeira grandeza, lutaremos com determinação para defender e seguir o seu legado, levar a luta adiante e conquistar o socialismo.

Sérgio Rubens, presente!

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