Carestia: 37% dos brasileiros mais pobres sofrem com falta de comida

Segundo o Datafolha, 89% dizem que o número de pessoas que passam fome no Brasil aumentou

A carestia imposta pelo governo Jair Bolsonaro avançou em 2021, mesmo após o abrandamento da pandemia de Covid-19. É o que aponta a pesquisa Datafolha divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (24).

Conforme o levantamento, 37% dos brasileiros que ganham até dois salários mínimos sofreram com falta de comida nos últimos meses. Entre aqueles que recebem de dois a cinco salários, 17% afirmam que a quantidade de comida em casa não foi suficiente para alimentar suas famílias. No conjunto da população brasileira, o índice é de 26%.

Nas famílias que recebem o Auxílio Brasil, programa social que substituiu o Bolsa Família, são 39%, ante 22% entre aquelas que não se enquadram no benefício destinado aos mais pobres. O patamar mais elevado de pessoas afetadas pela falta de comida é encontrado no Nordeste (35%). Nas demais regiões do país, varia de 21% a 25%.

Entre as pessoas que estão desempregadas, mas à procura de emprego, 45% afirmaram não ter comida suficiente. Entre os que desistiram de encontrar uma ocupação – os chamados “desalentados” –, são 34%. Em contrapartida, estão abaixo da média os empresários (9%), os estudantes (13%) e os funcionários públicos (15%).

O levantamento também mostra que 15% dos brasileiros deixaram de fazer alguma refeição nos últimos meses por não ter comida em casa. O número sobe para 23% entre as famílias com renda mensal de até dois salários mínimos. Nas demais faixas, varia de 3% a 6%. Nas famílias que recebem o Auxílio Brasil, 26% deixaram de fazer alguma refeição. São 11% entre aquelas que não se enquadram no benefício.

Por região, os maiores percentuais de pessoas afetadas estão no Centro-Oeste/Norte (20%) e Nordeste (17%). Os menores, no Sul (13%) e Sudeste (11%). Por ocupação, sobressaem os desempregados à procura de emprego (30%). O número chega a 17% e 15%, respectivamente, entre pardos e pretos. São 11% entre os brancos.

Ainda segundo o Datafolha, 89% dos entrevistados disseram que o número de pessoas que passam fome no Brasil aumentou. A percepção é predominante independentemente do perfil econômico e social do entrevistado ou da região em que ele mora.

A pesquisa foi realizada de 13 a 16 de dezembro, com 3.666 brasileiros em 191 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para baixo ou para cima.

O relatório “Insegurança Alimentar e Covid-19 no Brasil”, publicado no começo do ano pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), mostrou que 43,4 milhões de pessoas não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões de brasileiros enfrentaram a fome durante a pandemia. A insegurança alimentar se caracteriza pela falta de acesso e disponibilidade das pessoas aos alimentos em quantidade suficiente para a sobrevivência.

A fome ganhou rosto nos últimos meses, seja nas cenas protagonizadas por famílias em busca de alimentos próximos do descarte no centro de São Paulo, buscando comida no lixo de Fortaleza ou acompanhando o trajeto do caminhão do osso no Rio de Janeiro. Nesta semana, a cidade de São Paulo registrou protestos contra a fome em pelo menos 15 bairros.

Com informações da Folha de S.Paulo