Saúde promete novamente voltar com sistema, após 35 dias de apagão

Segundo Ministerio da Saúde, sistemas de dados serão normalizados até sexta. Senadores cogitam nova CPI para investigar o ConecteSUS

O Ministério da Saúde visto no escuro

O Ministério da Saúde informou que os sistemas de dados do órgão que ainda não estão disponíveis serão normalizados até sexta-feira (14), 35 dias depois de deixar especialistas e gestores no escuro sobre a evolução da pandemia. O apagão estatístico ocorreu após um ataque hacker à base de dados da pasta e teve outras promessas não cumpridas de retomada.

Ainda não há previsão de quando o funcionamento das plataformas será plenamente regularizado, além de não haver informações sobre a responsabilização dos ataques, nem esforço para retomada imediata do sistema. Os dados divulgados são incompletos e precisam ser complementado com o levantamento do consórcio da imprensa, criado por ocasião de outros apagões do Ministério da Saúde.

Em entrevista coletiva, o secretário executivo do ministério, Rodrigo Cruz, detalhou que, até o final desta semana, devem ser disponibilizados dados sobre vacinação contra a covid-19, além de outras informações que ainda não estão plenamente acessíveis ao público. O apagão ocorreu no momento de descontrole de contágios devido à disseminação da nova variante ômicron, mais contagiosa e inversão da curva descendente de casos e óbitos.

Plataforma de dados do governo não é atualizada desde 9 de dezembro.

CPI do ConecteSUS

Segundo Cruz, o download do certificado de vacinação pelo aplicativo ConecteSUS já está regularizado. O uso do app vem sendo altamente demandado depois que alguns estados passaram a exigir o documento para o acesso a determinados eventos e estabelecimentos, como restaurantes, bares e festas. Há suspeita de que interessaria ao governo impedir que os governos exijam o certificado como um passaporte sanitário.

Senadores que participaram da CPI da Covid se reuniram para discutir a possibilidade de uma investigação sobre o apagão de dados, suspeitando do envolvimento do próprio governo. Alguns suspeitam até que a pasta comandada por Marcelo Queiroga tenha sabotado o sistema que, além de compilar os dados da doença, fornece também o chamado passaporte vacinal. Desde que o ConectSUS saiu do ar, tem sido mais difícil para estabelecimentos cobrarem e pessoas provarem que tomaram uma vacina contra a Covid.

“Estamos um mês sem dados e ninguém tomou a iniciativa de pedir informações ao ministério sobre o que aconteceu”, disse Omar Aziz (PSD-AM), que presidiu a CPI da Covid no ano passado. Há também insatisfação com o trabalho do Ministério Público que ficou de investigar os fatos. “Não sou tarado por CPI, mas quando alguns não podem cumprir o seu serviço, a CPI nada mais é do que uma investigação feita pelo Congresso”, afirma o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

O secretário negou afirmações de que haveria um apagão de dados da pasta desde a invasão hacker. Ele confirmou apenas que a pessoa responsável pelo acesso indevido, ocorrido em dezembro, deletou dados de bases do ministério, o que gerou prejuízos. Caso a promessa não se cumpra nos próximos dias, a proposta dos senadores de oposição pode ganhar novo fôlego.

Fiocruz no escuro

Em 12 de dezembro, o ministério informou que o processo para recuperação dos registros dos brasileiros vacinados contra a Covid-19 foi finalizado, sem perda de informações. Mas, no dia seguinte, Queiroga disse que houve um novo ataque hacker. A previsão inicial de estabilização dos sistemas, de 14 de dezembro, não foi cumprida.

O ministério informou que quatro de suas plataformas foram reestabelecidas ainda em dezembro; afirmou que, na sexta (7), normalizou a integração entre os sistemas locais e a rede nacional de dados, e que o retorno do acesso às informações tem sido gradual.

Ao contrário do que dizem especialistas, o Ministério afirma que a instabilidade no sistema não interferiu na vigilância de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, como a Covid. 

“A gente não consegue planejar a abertura de novos serviços hospitalares, de centros de testagem, abertura de novos leitos e entender as regiões onde o impacto da nova variante é maior”, diz Julio Croda, infectologista e pesquisador da Fiocruz.

“A gente não viu a evolução e a chegada da ômicron. Ela não apareceu de repente no Ano Novo. Ela entrou ao longo do mês de dezembro, e a gente estava completamente em voo cego ali, porque não tinha dado nenhum; a gente não viu os dados crescerem”, afirma o professor Marcelo Medeiros, fundador do Covid-19 Analytics. Ele interrompeu o serviço que auxilia autoridades a tomarem decisões em meio à pandemia.

Dados preservados

O primeiro trabalho da pasta, segundo Cruz, foi assegurar que os dados estavam preservados. Como havia cópia de tudo, não houve perda. A etapa seguinte foi restabelecer o sistema para voltar a receber informações de estados e municípios.

A terceira medida, de acordo com Cruz, foi viabilizar que os sistemas pudessem retomar as funcionalidades que permitem o acesso de gestores estaduais e municipais a diferentes bases de dados, o que ocorreu no fim de dezembro.

Open DataSUS

O trabalho que ainda não foi concluído, segundo ele, é a disponibilização de dados ao público. Alguns painéis de informações seguem indisponíveis ou com dificuldades na atualização, como o Open DataSUS.

“O Open DataSUS é o grande desafio. A expectativa é que casos de covid-19 já estejam disponibilizados até sexta-feira. Os sistemas LocalizaSUS e o painel coronavírus também devem ser resolvidos em grande parte para disseminação do público em geral.”

Prevenção

Ainda de acordo com o secretário, a pasta já começou a adotar medidas para evitar outro tipo de incidente. Entre as ações estão a atualização das credenciais de quem pode acessar as bases; o aprimoramento do controle de acessos; análises de risco mais aprofundadas; e a implementação de um comitê de gestão.

Autor