Datafolha detecta dobro de brasileiros que contraíram covid
Número correto segundo o instituto de pesquisa seria de 42 milhões de brasileiros contaminados, e não os 23 milhões notificados oficialmente. Saiba os motivos dessa subnotificação.
Publicado 16/01/2022 13:49 | Editado 17/01/2022 14:42
Um em cada quatro brasileiros com mais de 16 anos de idade diz ter sido recebido diagnóstico de covid desde o início da pandemia, o que representa cerca de 42 milhões de pessoas. O número detectado por pesquisa Datafolha é quase o dobro do total de casos registrados oficialmente no país.
Segundo o levantamento, 25% dos entrevistados dizem ter sido diagnosticados com o vírus por teste o que significa 41,95 milhões de pessoas contaminadas. Os registros oficiais do Ministério da Saúde apontam 22,97 diagnósticos positivos confirmados, até este sábado (15), em todo o período da pandemia.
A subnotificação é ainda maior se considerado que o Datafolha entrevistou apenas pessoas com mais de 16 anos. Com os frequentes apagões de dados anunciados pelo governo, além das confusões do sistema de notificações, desde 2020, os dados não surpreendem os especialistas.
Somam-se a isso o alto número de testes rápidos de covid-19 feitos em farmácias ou unidades volantes que não entraram nas estatísticas oficiais. Os especialistas criticam o investimento de milhões em cloroquina, por orientação do presidente Jair Bolsonaro, apesar da comprovação cient’fiica de ineficácia, enquanto deixou-se de investir em máscaras ou testes.
Os dados do Datafolha apontam ainda que a subnotificação tem aumentado no país. Segundo a pesquisa, 3% dos entrevistados disseram ter tido covid nos últimos dias, o que representa 4 milhões de pessoas. O número representa seis vezes mais que os registros oficiais do período, que contabilizam 621.530 casos positivos, conforme dados do consórcio de imprensa coletados nas Secretarias estaduais de Saúde.
Segundo os especialistas, o aumento da subnotificação no último mês está relacionado ao apagão de dados desde que os sistemas do Ministério da Saúde foram derrubados por ataques de hackers, em dezembro, com nenhum esforço do governo para retomá-los, enquanto chegava a variante ômicron de forma arrasadora no país.
Dos pessoas, 30% disseram ter tido tosse e nariz entupido (o que representa 50,3 milhões de pessoas), 22% de febre (36,9 milhões) e 9%, falta de ar milhões (15,1 milhões), nenhum período.
Apesar do percentual de pessoas com sintomas só 17% dos sintomas, ter feito exame para a covid. Com isso, a detecção do vírus ocorre apenas nos casos mais sérios e/ou que demandam internação.
A pesquisa mostra ainda que a 37% dos mais ricos tiveram teste positivo para covid, enquanto apenas 19% dos mais pobres apresentaram esse resultado. Isso representa outro nível de subnotificação, com uma diferença de classe social, devido ao baixo acesso dos mais pobres, geralmente mais expostos ao vírus, à testagem.
Os mais jovens também se relacionam ter sido mais contaminados. Na faixa etária de 16 a 24 anos, 28% disseram ter recebido teste positivo para a Covid. Entre os que têm 25 a 34 anos, foram 29%. Entre 35 e 44 anos, 31%. A proporção cai para 25%, entre 45 e 59 anos, e 14%, para quem tem 60 anos ou mais.
Os especialistas explicam que uma boa política de testes, como elaborada no Reino Unido e na Alemanha, envolve uma testagem assistida (de pessoas com sintomas ou que teve contato com doente), amostral (para identificar assintomáticos) e de vigilância genômica (para identificar variantes). Nada disso funcionou no Brasil, pois os testes servem apenas para alimentar estatísticas falhas.
Uma exigência do Ministério da Saúde também pode explicar parte da subnotificação de casos. Desde agosto de 2021, a pasta passou a pedir a inclusão do número de lote e do nome do fabricante dos testes de antígeno para a notificação dos casos identificados por meio deles na plataforma e-SUS Notifica. Desde então, a quantidade de resultados positivos e provenientes desses testes sofreram uma queda abrupta.
A pesquisa foi feita por telefone nos dias 12 e 13 de janeiro, com 2.023 pessoas de 16 anos ou mais em todos os estados do Brasil. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Com informações da Folha de S. Paulo