A esquerda bem informada
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Aeroportos dos EUA não estão preparados para o 5G, ao contrário do Brasil

Marcelo Zuffo explica que as empresas aqui seguem normatizações diferentes das dos Estados Unidos e que a tecnologia é utilizada com um intervalo de proteção para que não ocorram interferências entre ondas eletromagnéticas

Quanto mais tecnologias relacionadas a ondas eletromagnéticas forem implantadas, maior será a possibilidade de interferências

Companhias aéreas dos Estados Unidos cancelaram seus voos devido à proximidade das torres de 5G. As companhias brasileiras também fizeram isso com voos que iam para lá. Isso porque havia a possibilidade de que equipamentos importantes para o pouso, como os altímetros, fossem afetados pelas ondas emitidas pelo 5G.

O professor Marcelo Zuffo, do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP, explicou porque há a possibilidade de interferência. “Essas tecnologias vão se sobrepondo. Nós já temos uma operação 3G, 4G, vários mecanismos de comunicação sem fio como transmissão de TV e rádio, o que nós chamamos de radiodifusão, e agora o 5G.”

O espectro eletromagnético também é um recurso escasso

Marcelo Zuffo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Isso é um problema, pois, o espectro eletromagnético é um recurso escasso, assim como a água ou os combustíveis fósseis. “Nós temos um recurso escasso e não renovável, que é o espectro eletromagnético — que, na verdade, é o meio por onde essas ondas se propagam”, ressalta o professor.

“Por isso que nós temos essa questão da concessão pública, porque isso é um espaço público não perceptível por nós humanos, mas essencial à atual vida humana”, completa Zuffo. Assim, o 5G acaba ocupando ainda mais esse espaço e esgotando as possibilidades dentro do espectro eletromagnético.

Então, quanto mais tecnologias relacionadas a ondas eletromagnéticas forem implantadas, maior será a possibilidade de interferências. E isso é o que está acontecendo no caso dos EUA, muitas tecnologias para uma mesma banda C (faixa de frequência).

Caso dos EUA

O professor destaca que “os norte-americanos trabalham com o que a gente chama banda C alta, frequências entre 3.7 e 3.9 GHz, que são próximas às frequências usadas pelos radares altimétricos”.

Um deles, o altímetro de precisão, utilizado quando o avião vai pousar, é um radar que funciona na frequência de 4 GHz, muito próxima das transmissões da banda C do 5G. “Eles estão trocando o tipo de avião por justamente o outro tipo não entrar nesse espectro da banda C. No caso, para aqueles aviões que eventualmente usarem altímetros nessas frequências”, complementa.

Por causa dessa proximidade de frequências e de haver a possibilidade de acidentes, os voos são cancelados e essa estrutura para o 5G deverá ser revista. “Como o aeroporto é o que nós chamamos de uma cyber infraestrutura crítica, não podemos sequer pensar na possibilidade de acidente”, pondera Zuffo.

O Brasil terá o 5G implantado em julho deste ano. Para Zuffo, não há preocupação quanto a isso, pois as empresas aqui seguem normatizações diferentes das dos Estados Unidos. Essa tecnologia é utilizada com um intervalo de proteção para que não ocorram interferências entre ondas eletromagnéticas.

Do Jornal da USP