Ucrânia e Europa Oriental: Quem está invadindo quem?
Enquanto os principais meios de comunicação dos EUA, tanto conservadores como liberais, estão à espera de uma “invasão” russa da Ucrânia, ignoram a realidade de que os EUA já “invadiram” não apenas a Ucrânia, mas muitos outros países da região.
Publicado 25/01/2022 18:31
A Casa Branca anunciou, na segunda-feira (24), que cerca de 50.000 soldados norte-americanos, juntamente com aviões de guerra, tanques e mísseis, poderiam estar a caminho da Europa Oriental e completou, na manhã desta terça-feira(25) que 8.500 soldados americanos estão agora em “alerta máximo” para serem enviados para a região. Entretanto, não foi feita nenhuma menção com esses anúncios ao fato de que milhares de tropas americanas e muitas armas ofensivas dos EUA já estão estacionadas na Europa Oriental, muitas delas posicionadas ao longo das fronteiras da Rússia.
A França, Dinamarca e Holanda, sob pressão dos EUA e da OTAN, também anunciaram o deslocamento de tropas e armas para a Europa Oriental.
A Polônia, ex-membro da aliança do Pacto de Varsóvia liderada pelos soviéticos, já tem cerca de 5.000 tropas americanas estacionadas dentro de suas fronteiras, para não mencionar uma série de armas norte-americanas que acompanham esses destacamentos. Um número semelhante de tropas e armas norte-americanas estão estacionadas nos países bálticos da Lituânia, Letônia e Estônia. Eles têm encenado e continuam a encenar manobras perto da fronteira russa.
Um grande número de integrantes de soldados das tropas norte-americanos está estacionado dentro da Ucrânia, nos arredores da cidade de Lvov, onde dizem estar “aconselhando” aos militares ucranianos. Embora seja sabido que contingentes dos EUA já estão dentro da Ucrânia, o número de soldados que poderia ser posicionado na parte oriental do país, perto das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, povoadas principalmente por russos étnicos, não é claro. Um grande número de militares ucranianos, muitas delas membros de organizações fascistas, já estão envolvidas em lutas periódicas ao longo das fronteiras das regiões etnicamente russas.
Aviões militares dos EUA estão voando dentro da Ucrânia, cruzando os céus daquele país em um jogo perigoso. Também voam no espaço aéreo ucraniano e perto do espaço aéreo russo ao longo das fronteiras aviões espiões americanos que escutam toda e qualquer comunicação militar e outras comunicações terrestres. Até agora, esses aviões não captaram nenhuma indicação de que os russos estejam iniciando uma invasão terrestre da Ucrânia. A existência dos aviões espiões e o trabalho que eles estão fazendo foram admitidos na segunda-feira mesmo pelo New York Times, um dos jornais mais alinhados com a histeria de guerra na Ucrânia.
Em outro movimento bélico, os Estados Unidos, o Reino Unido e o Canadá determinaram a saída de seu pessoal diplomático das embaixadas em Kiev. O próprio governo ucraniano se opôs a esta medida, chamando-a de “prematura”. Os ucranianos dizem que não houve realmente nenhuma mudança na situação de segurança que estão enfrentando desde que as tropas russas se posicionaram ao longo da fronteira desde abril passado.
No parlamento na segunda-feira, o Ministro da Defesa ucraniano Oleksii Reznikov disse que “não há motivos para acreditar” que a Rússia está se preparando para invadir o país. Ele disse que não há sinais de que as tropas russas tenham formado o que ele chamou de “grupo de batalha” que poderia atravessar a fronteira pela força. “Não se preocupe, durma bem”, disse ele aos ucranianos. “Não há necessidade de ter suas malas feitas”.
O repórter da MSNBC Matt Bradley, no noticiário Kiev Monday, descreveu uma cidade onde todos pareciam estar realizando suas atividades regularmente, fazendo compras, indo à escola e se deslocando para o trabalho. Ele até observou que o público pensava que uma invasão da Rússia não iria acontecer e que a controvérsia era culpa dos EUA e da OTAN. Aquele despacho, às 9 horas da manhã da segunda-feira (24), foi o último como aquele vindo de Bradley. Ele não apresentou mais relatórios sobre as reações públicas em Kiev.
Os EUA, através da OTAN, se desviam da realidade de que são os EUA que têm e estão aumentando o número de tropas em quase todos os lugares da Europa Oriental, inclusive na Ucrânia. O governo norte-americano está tentando esconder que o país constrói uma enorme força militar potencialmente ofensiva ao longo das fronteiras da Rússia.
Enquanto isso, os chamados defensores da “democracia” estão sendo chamados a apoiar a histeria da guerra. Gary Kasparov, o campeão mundial de xadrez e autoproclamado campeão da democracia moderna, criticou Biden em uma entrevista televisiva na terça-feira de manhã, dizendo “Seria melhor se [o Secretário de Estado dos EUA] Anthony Blinken fosse presidente”. Blinken, claro, tem sido ainda mais farsante que Biden durante esta crise.
Kasparov disse que os EUA deveriam enviar ainda mais armas e atacou a Alemanha por ser um país “corrupto” devido ao seu interesse de comprar gás natural da Rússia. A Alemanha está desmontando suas usinas nucleares e utilizando gás natural durante sua transição para a energia limpa. Por esta razão, não está disposta a fechar as relações com a Rússia.
Como os falcões de guerra continuam batendo os tambores, deve haver um impulso maior do que nunca para a diplomacia. A Ucrânia é um país envolvido em muita corrupção, dirigida em grande parte por forças antidemocráticas e fascistas. Se a União Europeia levasse a sério sua própria Constituição a favor dos direitos humanos, a Ucrânia não se qualificaria para ser membro do grupo. A OTAN, é claro, já contou com regimes fascistas como membros antes, como a ditadura de António de Oliveira Salazar em Portugal. Estava entre os membros fundadores da aliança militar em 1949.
A posição muito clara da Rússia é de impedir a adesão da Ucrânia à OTAN e que os EUA assegurem que nunca colocarão armas militares ofensivas em suas fronteiras, particularmente na Ucrânia. O posicionamento de tais armas reduziria drasticamente a possibilidade crise continuaria sendo tratando pela diplomacia e levaria os russos a considerarem de fato a possibilidade de uma ação militar.
Se não estivéssemos lidando nos EUA com um estabelecimento de política externa dominado pelo Pentágono e pelo perigoso complexo militar-industrial, haveria motivos mais do que suficientes para buscar a diplomacia em vez da guerra.
Fonte: People’s World (Tradução: Guillermo Harizta)