Fórum Social das Resistências aprova carta aos povos do mundo

O Fórum Social das Resistências, que está sendo realizado de forma virtual desde o dia 26 de janeiro, aprovou nesta sexta-feira (28), na Assembleia de Convergência “As agressões do imperialismo ameaçam a paz no mundo”, uma carta aos povos em defesa da paz.

O texto denuncia o imperialismo estadunidense e diz que “a luta dos povos de todo o mundo em defesa da paz, contra as guerras e contra as agressões imperialistas tem uma enorme centralidade e assume um caráter profundamente humanista e revolucionário”. A Assembleia de Convergência que aprovou o apelo foi conduzida por Jamil Murad, presidente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) e por Vera Daisy Barcelos, presidenta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJors). Participaram da mesa de debates, Socorro Gomes, presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP), Atílio Boron, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard, Ualid Rabah, Presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, Ahmad Alzoubi, Diretor do Monitor do Oriente Médio no Brasil e Jones Manoel da Silva, historiador da Fundação Dinarco Reis. Também participou, através de um vídeo gravado, Andrey Kochetov, Presidente da Federação Sindical da República Popular de Lugansk (ex-Ucrânia), que fez um vívido relato sobre o desenvolvimento da situação na Ucrânia até a crise atual (clique no link abaixo para ver a matéria com o relato de Kochetov).

Líder sindical de Lugansk (ex-Ucrânia) denuncia papel dos neonazistas e dos EUA na crise atual

Leia, abaixo, a íntegra da carta aprovada na Assembleia de Convergência.

Carta aos povos do mundo em defesa da paz, contra a guerra e as agressões imperialistas!

Vivemos uma acelerada transição de um mundo unipolar – dominado totalmente pelo imperialismo estadunidense, com o apoio de seus “satélites” da OTAN – para um mundo multipolar, onde emergem com força a China Socialista, a Rússia renascida e potências regionais como o Irã, a Turquia, a Venezuela, a Índia.

Os Estados Unidos deixaram de ser a superpotência econômica, militar, tecnológica e financeira que determinava os destinos da humanidade e agora são obrigados a conviver com nações suficientemente fortes para não se submeterem aos seus ditames.

Esse declínio relativo dos EUA se entrelaça com a profunda crise que vive o sistema imperialista mundial – exacerbada pela pandemia da COVID-19, que nos países capitalistas já levou à morte mais de 5,5 milhões de pessoas (99% do total) e infectou mais de 350 milhões –, crise essa que só aumentou o fosso entre ricos e pobres no mundo capitalista.

Como toda potência em declínio, os Estados Unidos têm se tornado cada vez mais agressivos, aumentam os seus gastos militares, fortalecem suas mais de 800 bases em todo o planeta, suas sete frotas navais, o uso militar do espaço sideral e estabelecem cercos econômicos e militares, embargos e sanções contra a China, Rússia, Cuba, RPD da Coreia, Venezuela, Irã e a todos os países que ousem desafiar as suas imposições.

Apesar do proclamado “fim da Guerra Fria”, as forças da OTAN – submissas aos interesses norte-americanos – estabeleceram bases militares e armamentos nucleares na quase totalidade das ex-Repúblicas Socialistas Soviéticas e nos países do antigo “Leste Europeu”, ignorando o compromisso assumido com traidores como Gorbatchov e Yeltsin de não o fazer. Ali, são realizadas periodicamente operações militares que simulam ataques à Rússia. Não satisfeitos, os EUA estimulam o separatismo armado em diversas regiões da Federação Russa. Contra isso, a Rússia vem reagindo, cada vez com maior veemência, como agora, na Ucrânia.

A China Socialista se defronta com ameaças de mesma magnitude, como a guerra econômica, comercial e tecnológica dos EUA contra ela, pactos militares agressivos como o QUAD (EUA, Índia, Japão, Austrália) e o AUKUS (EUA, Reino Unido e Austrália), incluindo o fornecimento de armamentos nucleares à Austrália. Da mesma forma, os EUA incitam distúrbios e separatismo em Hong-Kong, Xinjiang, Tibet e Taiwan e multiplicam provocações no Mar do Sul da China, intrometendo-se em um assunto que compete unicamente aos países da região.

Todo e qualquer governo que resista às suas ordens é tratado como inimigo e torna-se vítima de “guerras híbridas”, revoluções coloridas, desestabilizações e golpes armados – com o objetivo de derrubá-los e substituí-los por governos fantoches –, como foi feito no Iraque, na Líbia e na Ucrânia e tentado na Síria, Bielorrússia, Cazaquistão, Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bolívia. Mas, os povos resistem e têm causado duras derrotas aos EUA e à OTAN.

Usando a retórica de “intervenção humanitária”, “defesa dos direitos humanos” ou “defesa da democracia”, todas essas agressões imperialistas só têm causado destruição e caos. O Afeganistão foi ocupado em 2001 e, após ter sido dilacerado, agora foi abandonado à própria sorte. O Iraque, outrora potência regional, foi invadido em 2003 e arrasado sob a falsa alegação de possuir armas de destruição em massa. A Líbia – até então o maior IDH da África – foi atacada em 2011 e hoje é um país esfacelado, sob o domínio de grupos extremistas. A Síria só resistiu às agressões graças ao apoio da Rússia, mas o seu povo sofreu perdas irreparáveis.

Não satisfeito, o imperialismo estadunidense sustenta e arma “Estados Gendarmes” – como o estado colonial e supremacista de Israel, que ocupa a Palestina e lhe impõe processo continuado de limpeza étnica e um regime de Apartheid há 74 anos, o regime esquartejador da Arábia Saudita e o governo de ultradireita e repressor da Colômbia – dando-lhes a incumbência de reprimir no seu entorno qualquer tentativa de contestação à dominação dos EUA.

Não bastassem as agressões sistemáticas a países e povos, os Estados Unidos e as organizações internacionais sob sua influência promovem e impõem políticas ultraneoliberais cujos efeitos são devastadores – desigualdade social, desemprego, precarização do trabalho, pobreza, individualismo exacerbado, violência, caos político e crises financeiras recorrentes.

O comportamento cada vez mais agressivo e belicoso dos EUA e da OTAN – em resposta ao declínio de seu poder mundial – colocam a humanidade sob o risco real de autodestruição. As tensões na Ucrânia, Bielorrússia, Irã, Palestina, Taiwan, Mar do Sul da China, Venezuela – para ficar só nas mais evidentes – dão a medida das ameaças à paz nos dias de hoje.

Por tudo isso, a luta dos povos de todo o mundo EM DEFESA DA PAZ, CONTRA AS GUERRAS E CONTRA AS AGRESSÕES IMPERIALISTAS tem uma enorme centralidade e assume um caráter profundamente humanista e revolucionário. Da mesma forma, é fundamental a DEFESA DO MULTILATERALISMO E DO DIREITO INTERNACIONAL, contra o unilateralismo e o hegemonismo de Washington e de seus aliados.

Mais do que nunca, é necessário UNIR A LUTA PELA PAZ E CONTRA A GUERRA à MAIS ESTREITA SOLIDARIEDADE ENTRE OS POVOS e ao reconhecimento de seu direito ao progresso e ao desenvolvimento!

Porto Alegre, 28 de janeiro de 2022

Assembleia de Convergência

As agressões do imperialismo ameaçam a paz no mundo