O papel do Acordo de Minsk na crise Rússia-Ucrânia

Sucessivos governos em Kiev não tomaram medidas para implementar o Acordo de Minsk

O presidente russo Vladimir Putin e o então presidente ucraniano Petro Poroshenko se cumprimen sob o olhar do francês François Hollande, e da chanceler alemã Angela Merkel durante a reunião em Minsk, Bielorrússia, em 11 de fevereiro de 2015. para tratar do acordo para cessar os combates no leste da Ucrânia e conceder autonomia para as regiões de língua russa do Donbass. Durante anos, sucessivos governos ucranianos se recusaram a implementar o acordo. | Andrei Stasevich / BeITA via AP

Na segunda-feira (21), o presidente russo Vladimir Putin anunciou em uma entrevista coletiva que o país reconhece a independência das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, áreas separatistas na região de Donbass no leste da Ucrânia.

Refutando argumentos de que a medida prejudicará as possibilidades de paz e violará as disposições do Acordo de Minsk de 2015, o líder russo alegou que a decisão tinha como objetivo manter a paz na região.

Sob pressão de ultra-nacionalistas e russófobos, sucessivos governos na Ucrânia não conseguiram resolver as queixas da maioria de língua russa na região de Donbass. A Ucrânia também não implementou as disposições do Acordo de Minsk assinado em 2015 para pôr fim ao conflito na região.

A situação na Ucrânia hoje pode ser atribuída em grande parte à ascensão dos grupos ultranacionalistas e russófobos que obrigaram o então presidente ucraniano Viktor Yanukovich a renunciar durante os protestos “Euromaidan” em Kiev, em fevereiro de 2014.

Os manifestantes pediram que Yanukovich seguisse políticas favoráveis à integração com a UE e a OTAN, mesmo à custa de prejudicar os laços tradicionais da Ucrânia com a Rússia. Este mesmo conjunto de grupos políticos ultra-nacionalistas e russofóbicos tem dificultado a implementação do Acordo de Minsk por sucessivos governos ucranianos.

O que é o Acordo de Minsk?

O Acordo de Minsk foi assinado no contexto da eclosão da guerra civil na Ucrânia após o movimento do governo pós-Euromaidan para esmagar os protestos contra as políticas pró-UE e pró-OTAN que havia adotado. As forças ucranianas declararam guerra aos manifestantes após o plebiscito na Crimeia para voltar à Rússia.

Antes da assinatura do Acordo de Minsk de 13 pontos, a guerra durou meses e levou à morte de mais de 14.000 pessoas e deslocou mais de 2,5 milhões, sendo que quase metade delas buscavam refúgio na Rússia.

O Acordo de Minsk foi assinado pelos países e instituições que formam o grupo Normandia, incluindo a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), França, Alemanha, Rússia e Ucrânia, em fevereiro de 2015. O acordo foi posteriormente endossado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU).

De acordo com as disposições do acordo, além de estabelecer um cessar-fogo imediato na região de Donbass, o governo da Ucrânia concordou em fazer provisões para maior autonomia para Donetsk e Lugansk Oblasts (Regiões), os centros de rebelião, primeiro reconhecendo o direito ao auto-governo e também criando um status especial para as regiões no parlamento.

Era uma condição necessária para que eles permanecessem dentro da Ucrânia e para que a Rússia entregasse o controle da fronteira ao governo ucraniano, que havia assumido após o início da guerra. Foi atribuído à OSCE o papel de observar a implementação do acordo de cessar-fogo. O acordo também falava de reformas constitucionais mais amplas na Ucrânia.

A não implementação do Acordo de Minsk

De acordo com as reivindicações russas, mais de 1,2 milhões de residentes da região de Donbass já solicitaram a cidadania russa de um total estimado de seis milhões de habitantes. A população de língua russa formam uma maioria esmagadora em ambas as repúblicas autodeclaradas. Eles temem que, se a comunidade internacional abandonar sua causa, enfrentarão outra guerra e limpeza étnica pelo Estado ucraniano.

Sucessivos governos em Kiev não prestaram muita atenção ao tratamento da questão da região de Donbass e falharam em iniciar medidas para implementar o Acordo de Minsk. Uma tentativa feita pelo recém-eleito presidente Volodymyr Zelensky em 2019 também fracassou após expressivos protestos de grupos de extrema-direita e fascistas que se opunham à mudança.

Os manifestantes acusaram Zelensky de “capitulação” à pressão russa e ameaçaram forçá-lo a demitir-se. O medo de perder o apoio popular fez Zelensky adotar uma retórica “mais dura” em relação à Rússia, culpando-o pelos problemas em Donbass em vez de abordar a questão real.

Grupos fascistas e ultranacionalistas ucranianos protestam contra as patrulhas conjuntas em Donbass pelas Forças Armadas Ucranianas, Missão Especial de Monitoramento da OSCE e forças étnicas russas, perto da residência do presidente ucraniano Volodymyr Zelenski, nos arredores de Kiev, em 10 de setembro de 2020. As patrulhas conjuntas foram um protocolo do Acordo de Minsk de 2015. Sob pressão dos fascistas, Zelensky recuou na implementação do acordo de paz. | Sergei Grits / AP


A Rússia levantou a questão Donbass em fóruns internacionais em várias ocasiões, como na reunião do CSNU convocada pelos Estados Unidos e seus aliados para discutir a situação no início de fevereiro.

Segundo Valentina Matviyenko, Presidente do Conselho da Federação, a Câmara Alta do Parlamento russo, a realidade em Donbass agora é de “desastre humanitário e genocídio” e a ação da Rússia ajudará a aliviar a situação lá. Ela afirmou que a Rússia não tinha outra opção para impedir o banho de sangue na região, pois ninguém ouviu seus apelos por soluções diplomáticas e políticas nos últimos oito anos.

A atitude da Rússia é baseada em certos fatos e especulações crescentes em um momento em que a histeria da guerra está sendo fomentada pelos EUA e seus aliados da OTAN na região. De acordo com a OSCE, à qual foi atribuído o papel de monitorar o cessar-fogo sob o Acordo de Minsk, o governo ucraniano violou o acordo de cessar-fogo várias vezes na última semana.

Várias rodadas de negociações, reavivadas entre as partes do Acordo de Minsk nas últimas semanas, também falharam em abordar as preocupações russas. A situação levou os líderes de Lugansk e Donetsk a apelar para Putin para que tomasse medidas imediatas.

Durante seu pronunciamento no CSNU, o representante russo na ONU, Vasily Nebenzya, afirmou que a Ucrânia deveria respeitar as disposições do Acordo de Minsk assinado em 2014 e 2015. Ele disse que se as potências ocidentais pressionarem Kiev a “sabotar o Acordo de Minsk”, a Ucrânia estará a caminho da autodestruição.

Fonte: People’s World

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