“O pão vai encarecer”, alerta professor André Modenesi

Professor do Instituto de Economia da UFRJ lembra que Ucrânia e Rússia são grandes exportadores de trigo. Tensão terá efeito sobre o preço dos alimentos, já em alta no Brasil graças ao desmantelamento da política de segurança alimentar no país.

As tensões na Ucrânia vão manter os preços dos alimentos em patamar elevado e podem encarecer, especialmente, o pão. O alerta é do professor do Instituto de Economia da UFRJ, André Modenesi, segundo o qual o cenário internacional deve agravar ainda mais a situação da carestia no Brasil, que já era preocupante.  

“A inflação está disseminada pela economia. Houve alta em oito dos nove itens que compõem o IPCA-15 (prévia da inflação oficial do país). Ou seja, é uma alta generalizada de preços”, lamentou Modenesi, acrescentando que se trata de uma inflação anunciada, devido ao desmantelamento da política de segurança alimentar brasileira, que teve início no governo Temer e se acentuou durante o governo Bolsonaro, com a política econômica do ministro Paulo Guedes, defensor da não intervenção do Estado na economia.   

Ao Portal Vermelho, o professor da UFRJ disse ainda que o item alimentos e bebidas mantém-se como vilão da inflação em razão da combinação do desmonte da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com os estoques reguladores zerados e a redução do Programa de Aquisição de Alimentos, quando a agricultura familiar tem um peso importante no abastecimento do mercado interno.

“Precisamos voltar a fortalecer a agricultura familiar, a Conab e recompor os estoques, que são questões estruturais. Estamos vivendo um gargalo de oferta”, explicou Modenesi, para o qual a conjuntura internacional agrava este cenário. “A tensão na Ucrânia é mais um elemento para pressão de alta nos preços dos alimentos. A Ucrânia é grande exportadora de trigo. E a Rússia também. É muito provável que seja comprometida a exportação de trigo. O pão vai encarecer”, afirmou.

Modenesi ressaltou ainda que há uma questão da forma como acontece o repasse do câmbio aos preços: o efeito inflacionário do dólar alto é maior do que o efeito deflacionário de quando ele cai. “Então, eu não esperaria pelo lado do dólar o arrefecimento da inflação”, concluiu o economista, para o qual não será pelo caminho da elevação dos juros que o Banco Central conseguirá baixar o nível dos preços. “O efeito dos juros sobre a inflação de alimentos é muito pequeno. O Banco Central, quando sobe os juros, está agindo sobre o sintoma e não sobre a causa da inflação. É como tomar apenas um antitérmico para uma pneumonia, não cura a doença”, advertiu.