“O pão vai encarecer”, alerta professor André Modenesi
Professor do Instituto de Economia da UFRJ lembra que Ucrânia e Rússia são grandes exportadores de trigo. Tensão terá efeito sobre o preço dos alimentos, já em alta no Brasil graças ao desmantelamento da política de segurança alimentar no país.
Publicado 25/02/2022 09:19 | Editado 24/02/2022 21:34
As tensões na Ucrânia vão manter os preços dos alimentos em patamar elevado e podem encarecer, especialmente, o pão. O alerta é do professor do Instituto de Economia da UFRJ, André Modenesi, segundo o qual o cenário internacional deve agravar ainda mais a situação da carestia no Brasil, que já era preocupante.
“A inflação está disseminada pela economia. Houve alta em oito dos nove itens que compõem o IPCA-15 (prévia da inflação oficial do país). Ou seja, é uma alta generalizada de preços”, lamentou Modenesi, acrescentando que se trata de uma inflação anunciada, devido ao desmantelamento da política de segurança alimentar brasileira, que teve início no governo Temer e se acentuou durante o governo Bolsonaro, com a política econômica do ministro Paulo Guedes, defensor da não intervenção do Estado na economia.
Ao Portal Vermelho, o professor da UFRJ disse ainda que o item alimentos e bebidas mantém-se como vilão da inflação em razão da combinação do desmonte da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com os estoques reguladores zerados e a redução do Programa de Aquisição de Alimentos, quando a agricultura familiar tem um peso importante no abastecimento do mercado interno.
“Precisamos voltar a fortalecer a agricultura familiar, a Conab e recompor os estoques, que são questões estruturais. Estamos vivendo um gargalo de oferta”, explicou Modenesi, para o qual a conjuntura internacional agrava este cenário. “A tensão na Ucrânia é mais um elemento para pressão de alta nos preços dos alimentos. A Ucrânia é grande exportadora de trigo. E a Rússia também. É muito provável que seja comprometida a exportação de trigo. O pão vai encarecer”, afirmou.
Modenesi ressaltou ainda que há uma questão da forma como acontece o repasse do câmbio aos preços: o efeito inflacionário do dólar alto é maior do que o efeito deflacionário de quando ele cai. “Então, eu não esperaria pelo lado do dólar o arrefecimento da inflação”, concluiu o economista, para o qual não será pelo caminho da elevação dos juros que o Banco Central conseguirá baixar o nível dos preços. “O efeito dos juros sobre a inflação de alimentos é muito pequeno. O Banco Central, quando sobe os juros, está agindo sobre o sintoma e não sobre a causa da inflação. É como tomar apenas um antitérmico para uma pneumonia, não cura a doença”, advertiu.