E se o Brasil fosse a Rússia?

Putin está cumprindo a obrigação de defender seu povo dos ataques fascistas e se precavendo para não ser alvo fácil daqueles que invadem países indefesos com poucas condições de reagir

O objetivo desta arenga é convidar o(a) leitor/leitora à reflexão sobre a guerra na Europa. A pergunta acima no título é uma forma de especular o que nós, brasileiros, deveríamos fazer caso estivéssemos em situação semelhante à que vive o povo e o governo russos. Outras perguntas a seguir serão feitas com o mesmo objetivo, e ao final, imagino que ficará mais fácil para você se posicionar, em meio ao bombardeio midiático do pensamento único, onde cada comentarista das grandes TVs e jornais no Brasil disputa quem é o mais subserviente e serviçal do imperialismo estadunidense.

Então vamos fazer um exercício de especulação. Suponhamos que em 1917 o Brasil, um país socialista, tenha constituído junto com outras nacionalidades a União das Repúblicas da América do Sul. Mais adiante, o Brasil construiu um pacto militar com os demais países da América latina que se contrapunha a outro pacto, a Otan, nossos adversários políticos (EUA e Europa).

Setenta anos depois o Brasil deixa de ser socialista, a União das Repúblicas se desfaz, assim como o nosso pacto de cooperação militar. Com o novo quadro, acertamos com os EUA e a Otan, nossos antigos inimigos ideológicos, que eles não avançariam sobre nossa antiga área de influência. Na verdade, nós, brasileiros, achávamos que a Otan não tinha mais razão de existir após o fim do socialismo.

O Brasil ficou em frangalhos política e economicamente com o fim da nossa União e os norte-americanos, aproveitando-se de nossa fragilidade, e contra a nossa vontade, iniciaram o processo de expansão da Otan para nossas fronteiras, a região dos nossos antigos aliados (Argentina, Colômbia,Venezuela, etc.), mesmo sabendo que nós não representávamos mais ameaças a eles, inclusive porque já éramos também um país capitalista.

Passados dez anos, o Brasil se recupera, cresce sua economia e coloca um pouco de ordem na casa. A partir daí, voltamos a questionar durante 20 anos seguidos a ostensiva pressão da Otan para atrair nossos antigos aliados, alegando que aquela política significava para nós uma ameaça à segurança de nosso povo e à soberania de nossa nação. Neste período citado, os americanos já tinham atraído pra Otan o Chile, Peru, Uruguai e a Bolívia.

Depois de 30 anos de dissolução da nossa União de Repúblicas, os norte-americanos e os aliados europeus invadiram dezenas de países, assassinaram centenas de milhares de pessoas pelo mundo e saquearam as riquezas dos povos invadidos – período em que nós, brasileiros, só cuidávamos de nossos problemas internos.

A situação ficou bastante complicada para nós, brasileiros, quando em 2014, uma das poucas ex-repúblicas de nosso campo que se manteve aliada, o Paraguai (Ucrânia), sofre um golpe de Estado orquestrado e financiado pela Otan, UE e EUA. A capital deste país tinha sido a capital do Brasil num passado longínquo e a maioria de sua população fala nossa língua, o russo. Vale lembrar aqui que o golpe referido foi muito semelhante ao que aconteceu no Brasil dois anos depois – o mesmo modus operandi –, quando a chamada guerra híbrida, planejada pela CIA, derrubou nossa presidenta e botou no governo um bando de corruptos e entreguistas.

Aqui cabe abrir uma janela para tratar de um assunto muito importante. O Brasil foi o país que na 2ª Guerra Mundial mais perdeu vidas humanas (calcula-se entre 25 a 30 milhões de pessoas) e fomos o povo que libertou a humanidade da besta fera nazista. Eis que os golpistas armados pela CIA, que derrubaram um governo legítimo, se apresentaram sem nenhum pudor com as suásticas nazistas, com palavras de ordem de destruição do povo russo, dos comunistas, todos armados e treinados por aqueles que juram defender a liberdade e a democracia.

Esses batalhões neonazistas são parte integrante do exército paraguaio (ucraniano) e promoveram diversos massacres contra russos e comunistas, como o da Casa dos Sindicatos, em 2014, quando tocaram fogo num espaço que tinham crianças e adolescentes, identificados por eles como inimigos a serem eliminados. Mais de 40 pessoas foram queimadas vivas pela horda de fascistas pró-Otan e os que conseguiram sair foram espancados, humilhados e torturados. Não foi à toa que, quando o Brasil invadiu o Paraguai, nosso presidente disse que um dos objetivos era desnazificar o país e que os assassinos perversos teriam sido identificados para posterior acerto de contas.

Quando do golpe no Paraguai, duas províncias do país nas fronteiras com o Brasil, com população majoritariamente identificada com o Brasil, que fala português, que tem parentes em nosso país, se rebelaram e declararam independência em relação ao governo nazifascista apoiado pelos EUA. Um conflito tem início e as agressões das milícias neofascistas são denunciadas pelos paraguaios de etnia brasileira. Um acordo assinado pela Rússia e os fantoches dos EUA garantiu que não haveria ataques de ambos os lados – um cessar-fogo.

Só que nunca se respeitou esse denominado Acordo de Minsk e os batalhões neonazistas colocaram em curso a política de genocídio contra os brasileiros do Paraguai, moradores na fronteira com o Brasil. Nosso governo alertou durante todo esse período que não aceitaríamos tais agressões, e eles nunca levaram em consideração nossos apelos.

No mesmo período, a Otan intensificou a articulação para que o Paraguai passasse a integrar o Tratado, o que para o Brasil representaria um sério risco à nossa soberania e integridade. O Paraguai na Otan significava que os norte-americanos e suas cadelinhas da Europa poderiam destruir nossas maiores cidades em questão de horas ou minutos.

E aqui vem outra pergunta, que é a principal: você, brasileiro, aceitaria sem reagir que o Paraguai, usando poderosas armas e a avançada tecnologia militar norte-americana, continuasse a matar nossos compatriotas residentes no oeste do país? (na Ucrânia, os esquadrões fascistas mataram cerca de 15 mil russos ucranianos em seis anos). E permitiria que prosperassem na nossa vizinhança grupos neonazistas identificados com máquina de guerra de Hitler que num passado recente levou à morte dezenas de milhões de filhos do nosso povo?

Diante do cerco brutal, o nosso governo decide propor à Otan e ao Paraguai um acordo de paz, que garanta que o país vizinho não integre a organização americana/europeia, pois tal possibilidade significa um sério risco para nosso povo, alvo fácil de armamento pesado das potências imperialistas. Eles não aceitam, alegam que isso contradiz o direito à soberania do país, mesmo sabendo que eles são os mesmos que invadem países para saquear suas riquezas e nunca se importam com isso. Foram eles que despejaram bombas atômicas no Japão, foram eles que mataram mais de 2 milhões de pessoas na Invasão ao Vietnã, foram eles que destruíram o Iraque, a Líbia e o Afeganistão.

Então chegamos ao final com mais uma pergunta: você permitiria que o Paraguai continuasse assassinando nossos compatriotas e aceitaria que este país continuasse se armando até os dentes por aqueles que nos elegeram como inimigos? E ficaria esperando para ver o que acontece?

Então você, agora, pode ficar à vontade para dar suas respostas e eu dou a minha: claro que não! Não podemos colocar em risco a vida de milhões de brasileiros, não podemos aceitar que nossas cidades possam ser destruídas em questão de minutos com mísseis instalados em nossa vizinhança. É pela mesma razão que os Estados Unidos não aceitam a instalação de mísseis russos ou chineses em suas proximidades. Lembram-se da crise dos mísseis? Quase o mundo acabava porque os americanos não aceitaram mísseis russos em solo cubano, mas eles agora querem colocar mísseis mais poderosos ainda apontados para a Rússia, bem pertinho de Moscou.

Então, leitora, leitor, expresso minha opinião sem vacilar, não me constranjo com a pressão da mídia ocidental. A posição da Rússia está correta, os russos não estão atacando, como disse o Breno Altman do site Opera Mundi: “trata-se de um contra-ataque, uma guerra defensiva”. O Putin, para mim, está cumprindo a obrigação de defender seu povo dos ataques fascistas e se precavendo para não ser alvo fácil daqueles que invadem países indefesos com poucas condições de reagir.

Encerro dizendo que chega a ser chocante que parcela considerável da esquerda brasileira – a esquerda pacifista – tenha assimilado acriticamente o discurso da Casa Branca, propagandeado de maneira avassaladora pela grande imprensa do Brasil. Alguns dizem que Putin é um autoritário, homofóbico, machista – e é mesmo, e não devemos concordar com esse estilo. Mas isso não é critério principal para nos posicionarmos na disputa geopolítica. Ora, caso o Brasil fosse ameaçado por uma potência estrangeira, e nosso presidente fosse um reacionário que resolvesse enfrentar um império que ameace nossa soberania, nós deveríamos ficar contra? Claro que não.

Todo apoio ao povo russo.

Abaixo o fascismo e o imperialismo.

Que as forças russas encontrem e punam com rigor os assassinos da Casa dos Sindicatos.

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