Organizações humanitárias criticam postura armamentista da União Europeia na Ucrânia

Várias organizações humanitárias reclamam uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia, em clara oposição à corrida armamentista que se vem anunciando um pouco por todo o mundo.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia desde 1 de Dezembro de 2019, foi ministra da Defesa alemã de 2013 a 2019, responsável pela venda de armamento a países como a Turquia e a Arábia Saudita. l Foto: Yahoo!

A deliberação tomada nesta terça-feira (1) pela ampla maioria dos deputados do Parlamento Europeu (PE), na resolução contra a guerra da Ucrânia, contrasta com as posições assumidas por dezenas de organizações humanitárias por toda a Europa.

“O Parlamento Europeu reitera que os estados membros da UE devem aumentar os seus gastos na área da defesa (…), para fortalecer a base europeia dentro da OTAN, aumentando, desta forma, a segurança da OTAN e da União Europeia», defende o ponto 22, seguido pelo parecer de que “os estados membros da UE devem acelerar a provisão de armas defensivas à Ucrânia” (ponto 25).

A solução armamentista foi reforçada pelo enorme consenso das grandes famílias políticas europeias, da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas ao Partido Popular Europeu, passando pelas bancadas do grupo político de extrema direita: Identidade e Democracia (em que participa Frente Nacional francesa e a Liga Norte italiana) e do partido Fidesz, de Viktor Órban. Segundo o Conselho Dinamarquês para os Refugiados (CDR), a escalada só “trará sérias consequências humanitárias para a população civil”.

“Os esforços diplomáticos devem prevalecer sobre a intensificação da conflito armado já existente, impedindo o agravar do sofrimento humano”, afirmou Charlotte Slente, secretária-geral do CDR, em declarações feitas nos dias que se seguiram à invasão, «todas as partes envolvidas no conflito devem acordar um cessar-fogo duradouro, é a única maneira de proteger os civis e impedir a violação dos seus direitos”.

«A comunidade internacional tem de se bater, unida, por uma solução diplomática»

“Às populações deve ser concedido o direito de se moverem livremente, e as associações de apoio devem ter o acesso, sem limitações, a todos os que precisem de ajuda”, defende também o Comitê Internacional de Resgate. Na pior das hipóteses, o mundo “tem de se preparar para o pior, investindo em ajuda humanitária, dentro e fora da Ucrânia”, não gastando bilhões de euros para inundar a região de armas.

Num comunicado divulgado ontem, a Oxfam, uma das maiores organizações não-governamentais de luta contra a pobreza no mundo, reiterou os compromissos da carta das Nações Unidas: “Os membros da Organização deverão resolver as suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo a que a paz e a segurança internacionais, bem como a justiça, não sejam ameaçadas”.

As guerras das elites pagam-nas os povos

A todos deve ser concedido o direito ao asilo, mas isto também tem de se aplicar “a todos os outros povos que fogem de conflitos armadas, seja na Ucrânia ou as populações do Iêmen e do Afeganistão”, reforça o comunicado da Oxfam. Nestes momentos, de grande perigo para a vida humana, “temos de nos unir em torno da nossa humanidade comum, na busca da paz e dos direitos humanos”.

Florence Gillette, chefe da delegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Kiev, assumiu, igualmente, uma posição em contraste com a assumida pela maioria dos deputados europeus: “Após oito anos de conflito, as populações não precisam, certamente, de mais violência, morte, destruição e desespero. Apelamos a todos os Estados que não poupem esforços e usem sua influência para evitar uma escalada do conflito, cujo custo e consequências para a população civil excederiam as capacidades humanitárias disponíveis”.

Certo é que serão os mais vulneráveis, lembra a Oxfam, os primeiros a sofrer as consequência da invasão russa da Ucrânia. Em ambos os lados, são eles que “vão perder os seus trabalhos e o acesso a serviços indispensáveis, serão eles a sentir as maiores dificuldades em lidar com o dia a dia”. Nomeadamente as crianças, os mais velhos e doentes, os desempregados, as pessoas que já se encontram antes do conflito, em situação de pobreza.

Fonte: AbrilAbril