Guerra na Ucrânia impulsiona ganhos da indústria bélica

A guerra às portas da Europa já produziu um grande vencedor no mercado de ações: a indústria de armas, impulsionada por novos pedidos de armamentos por parte de diversos Estados, além de declarações de intenção de compra de governos europeus.

O mercado de ações europeu testemunhou um momento espetacular na segunda-feira (28). Todas as principais empresas europeias de defesa viram suas ações disparar, sendo que as bolsas estavam, em sua maioria, em baixa. A empresa francesa Thales subiu 12%, a Dassault Aviation 8%. O fabricante italiano Leonardo subiu 15% e o sueco Saab 18%. Na bolsa de Frankfurt foi ainda mais delirante: a empresa Hensoldt, especializada na eletrônica incorporada da Airbus, ganhou 42% em uma sessão, com picos de 89%. Rheinmetall, o fabricante de tanques e armaduras para a OTAN, saltou para 25%.

Segundo a imprensa europeia, foram os anúncios feitos pelo chanceler alemão Olaf Scholz que deixaram os mercados eufóricos. Berlim abriu mãos sua tradição pacifista e não-intervencionista e planeja gastos enormes para modernizar seu exército. O chanceler alemão anunciou a liberação de um fundo imediato de € 100 bilhões (R$ 571 bi), e um aumento do orçamento de defesa para 2% do PIB, conforme exigido pela adesão à OTAN.

O “despertar” da Alemanha e o rearmamento de outros países europeus resultarão certamente em novos pedidos. Este é um movimento que já vem acontecendo há vários meses, como testemunham os recentes pedidos feitos pela Holanda e Polônia; no que diz respeito ao anúncio alemão, levará algum tempo até que eles se concretizem.

Neste setor, muitas vezes são necessários anos de negociações e discussões políticas antes que uma ordem se torne efetiva. Até agora, a Alemanha focalizou em grandes projetos industriais europeus, como o sistema de defesa aérea ou a próxima geração de tanques franco-alemães, mas, no domingo, o chanceler alemão mudou de tom e claramente se comprometeu a acelerar a realização desses programas, que custarão dezenas ou até centenas de bilhões de euros.

O repasse de armas para a Ucrânia também está alimentando a efervescência deste mercado. Segundo a jornalista especializada em economia da Rádio França Internacional, Dominique, Baillard, os anúncios estão se multiplicando. Depois da União Europeia, França e Reino Unido, a Itália anunciou que está enviando equipamentos militares, assim como a Finlândia, país que não integra a OTAN. A Suécia também confirmou que enviará lançadores de foguetes e equipamentos para os soldados ucranianos. Isto, naturalmente, beneficia a empresa Saab, o que também explica o seu boom no mercado de ações.

Escalada armamentista

Deve-se notar que Oslo irá acabar com seu compromisso de não exportar equipamentos militares. O mesmo vale para a Alemanha, que até agora proibiu a venda de armas para regiões devastadas pela guerra. A empresa Rheinmetal aumentará em seis vezes sua produção anual de munição para tanques.

Grupos europeus estão, portanto, em pé de guerra no mercado bélico, assim como seus concorrentes: os cinco maiores fabricantes são norte-americanos e representam mais da metade da indústria de armas, e eles também esperam se beneficiar deste rearmamento europeu.

Fonte: RFI