Ações caem, commodities sobem com angústia da guerra

Especialistas veem sanções contra a Rússia mais como uma punição ao crescimento global do que uma contenção à agressão russa.

Inflação das commodities avança e podem compensar sanções e prejuízos contra a Rússia

A turbulência nos mercados financeiros globais se intensificou nesta segunda-feira, com as ações dos EUA despencando mais em 17 meses e os preços das commodities aumentando implacavelmente com as consequências da guerra na Ucrânia ameaçando a economia global.

A guerra da Rússia contra a Ucrânia e as sanções de aliados dos EUA e da Europa aos ativos russos provocaram um abalo nos mercados financeiros que já estavam instáveis ​​após dois anos da pandemia e a ameaça de bancos centrais recuarem no estímulo. Os investidores ficaram desconfiados de possuir ativos mais arriscados, já que o aumento dos preços das commodities exacerba as pressões inflacionárias que podem forçar os formuladores de políticas a conter o crescimento.

O S&P 500 afundou quase 3% em seu pior dia desde outubro de 2020, enquanto o índice Nasdaq 100, de tecnologia pesada, caiu 3,7%. O níquel subiu 90% para um recorde de preocupação com a potencial escassez, o petróleo atingiu o nível mais alto em uma década e o trigo se aproximou dos recordes após um salto de 7%. Anteriormente, o Euro Stoxx 50 e o índice DAX da Alemanha fecharam mercados em baixa. O spread entre os títulos de dois anos e de 10 anos caiu brevemente abaixo de 20 pontos-base, um nível não visto desde março de 2020 e um sinal de baixa para a economia.

Os mercados emergiram do fim de semana em alerta após relatos de que o governo Biden está considerando proibir a importação de petróleo e produtos energéticos russos, uma medida que pode aumentar a pressão econômica à medida que mais empresas se retiram do país em resposta à invasão da Ucrânia por Moscou. Governos da União Europeia estavam divididos sobre se deveriam se juntar aos EUA

A previsão de inflação de 10 anos do mercado de títulos dos EUA saltou para um recorde de 2,785%, enquanto o rendimento do título do Tesouro de referência subiu 5 pontos base para 1,78%. Um indicador do dólar subiu pelo terceiro dia, sendo negociado no maior nível desde 2020.

O conflito na Ucrânia também ameaça o abastecimento de alimentos em algumas regiões, incluindo Europa, África e Ásia, que dependem das vastas e férteis terras agrícolas da região do Mar Negro, conhecida como o “celeiro do mundo”.

Medidor de expectativas de inflação do mercado de títulos sobe para alta de todos os tempos

Os preços globais do petróleo aumentaram cerca de 60% desde o início de 2022, levantando preocupações sobre o crescimento econômico global e a estagflação. A China, segunda economia do mundo, tem como meta um crescimento mais lento de 5,5% neste ano.

O preço do petróleo bruto saltou mais de US$ 10 o barril e as ações caíram acentuadamente à medida que o conflito na Ucrânia se aprofundava em meio a pedidos crescentes de sanções mais duras contra a Rússia.

O petróleo bruto Brent subiu mais de US $ 10 na segunda-feira. O petróleo de referência dos EUA subiu quase US$ 9, a mais de US$ 124 o barril.

Os preços do petróleo podem subir para mais de US$ 300 por barril se os Estados Unidos e a União Europeia proibirem as importações de petróleo da Rússia, disse hoje o vice-primeiro-ministro Alexander Novak.

Os preços do petróleo ficaram sob pressão adicional depois que a companhia nacional de petróleo da Líbia disse que um grupo armado fechou dois campos petrolíferos cruciais. A medida fez com que a produção diária de petróleo do país caísse 330.000 barris.

Os custos mais altos de combustível são devastadores para o Japão, que importa quase toda a sua energia. O índice de referência do Japão, Nikkei 225, caiu 3,5 por cento nas negociações da manhã, para 25.091,93.

Não houve declaração imediata dos negociadores russos. Com o presidente Vladimir Putin dizendo que Kiev deve concordar com suas demandas para que os combates terminem, as discussões enfrentam sérios desafios.

Putin assinou um decreto permitindo que o governo e as empresas paguem os credores estrangeiros em rublos, buscando evitar inadimplências enquanto os controles de capital permanecem em vigor. Ainda assim, alguns detentores de títulos de US$ 1,3 bilhão da Gazprom PJSC com vencimento na segunda-feira disseram que receberam o pagamento em dólares.

Mais empresas recuaram em suas operações na Rússia, incluindo a gigante de streaming Netflix Inc. e o serviço de mídia social TikTok, de propriedade da ByteDance Ltd., com sede na China.

Analistas avaliam que vai ficando claro que as sanções econômicas prejudicarão mais o crescimento global do que impedirão qualquer agressão dos russos, punindo todo o mundo. Os preços elevados do petróleo podem representar uma ameaça às margens das empresas e às perspectivas de gastos do consumidor.

Alguns analistas dizem que sancionar o petróleo russo não necessariamente prejudicará Moscou. Se a Rússia exportar um terço a menos de seu petróleo, mas se os preços forem muito mais altos, eles podem realmente ter balança positiva e semelhantes em outras commodities.

Enquanto isso, a China alertou os EUA contra a tentativa de construir o que chamou de uma versão do Pacífico da OTAN, enquanto declarava que as disputas de segurança sobre Taiwan e a Ucrânia “não eram comparáveis”.

A economia global já estava lutando com a alta inflação devido à pandemia. O Federal Reserve e outros bancos centrais importantes agora enfrentam a difícil tarefa de apertar a política monetária para conter o custo de vida sem derrubar a expansão econômica ou agitar ativos de risco.

No Brasil

Os receios em torno do aumento da inflação e das possíveis mudanças na política de preços da Petrobras afetaram o mercado financeiro nesta segunda. A bolsa teve a maior queda diária do ano. O dólar, que se aproximou de R$ 5 durante a manhã, fechou com estabilidade, influenciado pelas turbulências no mercado global.

O índice Ibovespa, da B3, encerrou aos 111.593 pontos, com recuo de 2,52%. Essa foi a maior queda diária desde 26 de novembro do ano passado. O desempenho negativo foi puxado por ações de empresas aéreas e pela Petrobras, cujos papéis são os mais negociados na bolsa.

As movimentações para que a Petrobras mude a política de preços fizeram as ações da estatal cair. As ações preferenciais (com preferência na distribuição de dividendos) despencaram 7,1%. As ações ordinárias (com direito a voto em assembleia de acionistas) caíram 7,65%. Por causa da restrição da oferta de petróleo provocada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, o presidente Jair Bolsonaro manifestou-se favorável à mudança nos preços dos combustíveis, que teriam preços abaixo do mercado, reduzindo o lucro da companhia.

No caso do dólar, a valorização do preço das matérias-primas e das commodities (bens primários com cotação internacional) tem segurado a alta da moeda. Isso porque a entrada de divisas no país tem aumentado com a subida da demanda por produtos agrícolas e minerais.

Com informações de agências internacionais.

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