Guerra na Ucrânia e erros de Bolsonaro podem causar recessão no Brasil

“O começo do ano não tem sido bom. Na verdade, tem sido pior do que o esperado”, afirma Marcelle Chauvet

A instabilidade política e econômica no Brasil sob o governo Jair Bolsonaro pode piorar com o cenário de guerra na Ucrânia. Segundo a professora Marcelle Chauvet, do Departamento de Economia da Universidade da Califórnia, em Riverside, erros do bolsonarismo podem acarretar em uma nova recessão.

“No momento, temos vários fatores se movimentando em lados opostos”, diz Marcelle, em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada nesta segunda-feira (7). “Há, sim, possibilidade de recessão, como também há de crescimento. Neste momento, estamos em um ponto de inflexão. O PIB pode ser algo entre -0,5% e 1,2%”, agrega a economista, que também integra o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Conforme Marcelle, a retomada da economia brasileira, em 2021, se deveu, acima de tudo, “à vacinação e à normalização das atividades”. Para 2022, porém, a situação não é alentadora. “O começo do ano não tem sido bom. Na verdade, tem sido pior do que o esperado”, afirma. “Herdamos vários problemas de 2021, como a inflação alta, que está cada vez maior, o que implica continuidade do aumento de juros. E os juros vão seguir estagnando a economia.”

“Adiciona-se a alta das commodities, que também vai levar a maior aumento da inflação – apesar de que tem um lado positivo para atividade, já que o Brasil é exportador. Mas, em termos de inflação, é um cenário mais difícil”, acrescenta. “Junta-se a isso, agora, a dificuldade geopolítica com a guerra Rússia-Ucrânia, que também leva a incertezas grandes e, provavelmente, a uma desaceleração da economia mundial, o que afetaria o Brasil. Com o conflito, no fim do trimestre, em março, acho que podemos ter uma desaceleração.”

Marcelle conclui que o momento é “de grande incerteza” para o Brasil e para o mundo. “A valorização do real devido ao aumento de exportações, provavelmente, não deve compensar a grande alta de preços de alimentos e da gasolina, que são fatores importantíssimos para a inflação brasileira. Se olhar o núcleo – que exclui itens de alimentos e energia –, ele pode ser menos impactado, mas a inflação cheia deve ser mais afetada negativamente pela alta dos preços de commodities.”

Com informações do Valor Econômico

Autor