Lula x Bolsonaro: 3 leituras da nova pesquisa sobre a eleição 2022
Embora aparente certa estabilidade em relação a levantamentos anteriores, esta nova rodada nos permite esboçar leituras sobre o quadro político-eleitoral no Brasil
Publicado 16/03/2022 17:30 | Editado 17/03/2022 12:05
Saiu do forno, nesta quarta-feira (16), mais uma pesquisa sobre as eleições presidenciais de 2022. No novo levantamento do instituto Quaest, contratado pela Genial Investimentos, as posições dos pré-candidatos se cristalizam: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue à frente, com Jair Bolsonaro (PL) em segundo lugar. Na sequência, os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Sergio Moro (Podemos) se mantêm num empate técnico, dentro da margem de erro.
A pesquisa projetou três cenários de primeiro turno. Nos dois primeiros, mais pulverizados, com oito e nove candidatos na disputa, Lula oscila entre 44% e 45%, e Bolsonaro, entre 25% e 26%. Ciro mantém 7%, nas duas simulações; enquanto Moro tem entre 6% e 7%. Bem mais atrás, o governador paulista, Joao Doria (PSDB-SP), não passa de 2%, em empate numérico com o deputado federal André Janones (Avante-MG).
Num terceiro cenário, mais enxuto e mais improvável, com apenas quatro candidatos – incluindo o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) –, Lula vai a 48%; Bolsonaro; a 28%; e Ciro, a 8%. Já no segundo turno, Lula continua a superar todos os adversários com ampla vantagem. Se a eleição fosse hoje, ele derrotaria Bolsonaro (54% a 32%); Moro (53% a 26%); Ciro (51% a 23%); e Doria (56% a 15%);
Embora aparente certa estabilidade em relação a levantamentos anteriores, esta nova rodada nos permite esboçar leituras sobre o quadro político-eleitoral no Brasil. A sete meses do pleito de outubro, três conclusões saltam os olhos na pesquisa Quaest/Genial – e estão em sintonia com sondagens recentes de outros institutos.
1) Lula parte com piso alto
Nas eleições 2018, apesar da prisão injusta de Lula e das ondas antipolítica, antipetista e anticomunista, Fernando Haddad (PT) conquistou quase 30% dos votos válidos no primeiro turno – mais precisamente, 29,28%. Ciro, por sua vez, obteve 12,47%. Juntos, esses dois candidatos do campo progressista somaram 41,75% dos votos.
Quatro anos depois, o piso de Lula nas pesquisas é superior a essa soma. Nos votos totais, Lula parte, no pior dos cenários, com 44%. Ciro, nesse mesmo cenário, tem 7%. Somados, eles abrangem 51% dos votos totais – e algo próximo de 54% dos votos válidos.
Os números, portanto, indicam um avanço tanto da candidatura principal da esquerda, liderada pelo PT, quando do conjunto do campo progressista. A candidatura Lula tira votos de Ciro – mas também avança sobre um eleitorado que, em 2018, optou por Bolsonaro ou por candidatos de centro ou de direita.
Quando se aplica a margem de erro – que, nesse caso, é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos –, o levantamento mostra que, hoje, Lula poderia ser eleito já no primeiro turno. Mas o que sobressai é que a candidatura do ex-presidente atrai adesões para além da esquerda tradicional.
“Para 58% dos eleitores, Lula fez um governo ótimo ou bom quando foi presidente. Mas quase metade (46%) acredita que ele foi condenado corretamente nos processos da Lava-Jato”, escreveu, no Twitter, Felipe Nunes, CEO da Quaest. “Esse seja talvez o maior problema que Lula tenha para fazer campanha hoje. Ao fim e ao cabo, Lula consegue apoio da maior parte do eleitorado que acredita que foi tudo uma armação contra ele!”
2) Bolsonaro avança, mas…
A crer nas manchetes da grande mídia, a candidatura Bolsonaro deveria soltar fogos com os resultados da nova pesquisa Quaest/Genial. A vantagem do ex-presidente da República sobre o atual caiu, alerta o noticiário. Em um mês, comparando-se os cenários com mais candidatos, Bolsonaro teria reduzido a distância para Lula de 22 pontos percentuais para 18.
Para além disso, o dado mais favorável ao presidente está em outra pergunta do levantamento – a que mede a popularidade da gestão Bolsonaro. De fevereiro a março, a rejeição ao governo passou de 51% para 49%, enquanto a aprovação foi de 22% para 24%. As oscilações estão dentro da margem de erro, mas, em um e outro caso, são positivas para o bolsonarismo.
Ainda assim, não se trata – ainda – de uma tendência. O recorte mais revelador da pesquisa aponta que a ligeira recuperação de Bolsonaro está concentrada num único segmento – o de eleitores que recebem o Auxílio Brasil. Programa eleitoreiro que passou a destinar R$ 400 por mês na conta de 18 milhões de brasileiros, sem as contrapartidas que eram exigidas no Bolsa Família, o Auxílio Brasil responde praticamente sozinho pelas mudanças pontuais na pesquisa.
Entre seus beneficiários, a desaprovação ao governo Bolsonaro caiu de 45% para 23%. Em outras palavras, se essa era a “bala de prata” do governo – a aposta para uma recuperação mais consistente e constante –, o resultado é modesto, porque limitado a um nicho específico demais. Não há margem, acrescente-se, para outra tacada do gênero. De resto, como a pesquisa foi feita entre 10 e 13 de março, provavelmente não captou o impacto do último reajuste exorbitante no preço dos combustíveis.
“Há uma tendência natural de que antigos eleitores do presidente que estavam insatisfeitos com o seu desempenho, mas repudiam o ex-presidente Lula, voltem a indicar voto em Bolsonaro. Mas o pagamento dos benefícios faz com que a curva de mudança de percepção sobre o governo seja mais íngreme”, avalia, em seu blog, o jornalista Leonardo Sakamoto.
“O tamanho do ganho eleitoral do presidente com o Auxílio Brasil é, contudo, incerto por conta da corrosão trazida pela inflação”, agrega. Daí a razão pela qual Bolsonaro tenta driblar a nefasta política de preços da Petrobras e reverter a escalada dos preços dos combustíveis no País.
3) Os dilemas da “terceira via”
Nunca houve no Brasil um pleito no qual o presidente da República, buscando a reeleição, concorresse contra um ex-presidente. E essas duas figuras ainda estão no centro de uma intensa polarização que opõe visões ora mais ideológicas e racionais, ora mais apaixonadas e emocionais. Com isso, parece minorar-se o interesse do eleitor por uma candidatura de terceira via, que não esteja alinhada nem à esquerda nem ao bolsonarismo.
Entre os nomes sondados, Ciro e Moro vão melhor, mas nem por isso encontram nichos para crescer e despontar. A seu favor, Ciro pode citar a preocupação com um programa de governo mais avançado, que enfrenta os gargalos para o crescimento e o desenvolvimento do Brasil. Moro conta com a indisfarçável simpatia de setores da mídia e do Judiciário, o que não foi suficiente, até aqui, para impulsionar seu projeto eleitoral conservador.
Em 2014, a presidenciável Marina Silva (Rede Sustentabilidade) amealhou 21,32% dos votos válidos, pouco mais que 19,33% que ela própria registrou em 2010, pelo PV. Nessas duas eleições, ela terminou em terceiro lugar, mas ajudou a levar a disputa ao segundo turno. Em 2018, de cada cem eleitores, apenas 19 declaram preferência por um candidato que não seja Lula ou Bolsonaro – e esses votos ainda são compartilhados entre sete candidatos. A terceira via, ao que parece, não deve decolar neste ano – e corre o risco de ficar apagada caso não encontre eixos de campanha mais atrativos.
O levantamento da Quaest para a Genial Investimentos ouviu 2 mil eleitores brasileiros, presencialmente, em todas as regiões do Brasil. No final, conforme sintetiza Felipe Nunes, da Quaest, “a pesquisa traz dados muito interessantes para mostrar como Bolsonaro e Lula conseguiram vencer a batalha dos discursos – cada um no seu campo”. Com uma ressalva: “Bolsonaro pode continuar crescendo no vácuo deixado pela terceira via”.