Gasolina de 2 dígitos é a exorbitância de Bolsonaro, por Perpétua Almeida

“Bolsonaro gosta de terceirizar culpas e aponta para Rússia e Ucrânia. Mas em 2021, sem essa guerra, foram pelo menos 12 reajustes nos combustíveis”

Foto: Arquivo/Agência Brasil

Além da inflação, com o IPCA batendo em 10,54%, o governo de Jair Bolsonaro (PL) já pode ostentar a marca histórica do preço da gasolina de 2 dígitos. Por enquanto, essa exorbitância é vista no interior do Acre, onde a única bomba de gasolina da isolada cidadezinha do Jordão ostenta o preço de R$ 11,56. Mas, persistindo a política de preços dolarizados da Petrobras, a leitora ou leitor em breve verá a gasolina de dois dígitos no posto mais perto da sua casa.

O preço do combustível dolarizado é dolorido e contamina tudo: o frete, o transporte público e os alimentos — encarecendo ainda mais o feijão, o arroz, o ovo, o frango. Isso vai ajudar a bombar ainda mais a inflação dos alimentos da cesta básica, que no acumulado de 12 meses já atingiu 12,67%. Assim, o recente tarifaço dos combustíveis é um tapa na cara brasileiros e uma verdadeira crueldade com os mais pobres, já forçados a entrar na fila do osso e usar lenha para economizar no gás.

Bolsonaro gosta de terceirizar culpas e aponta para Rússia e Ucrânia. Mas em 2021, sem essa guerra, foram pelo menos 12 reajustes nos combustíveis. Dá na vista que o problema está na política de preços imposta pela Petrobras desde 2016, depois do golpe que botou Michel Temer (MDB) na Presidência da República. E o presidente Bolsonaro manteve isso aí, que chama de Preço de Paridade de Importação (PPI), um eufemismo para suavizar o embuste de agir como se 100% dos combustíveis usados ​​no país fossem importados, mesmo sendo o Brasil autossuficiente em petróleo.

O Brasil produz mais de 3 milhões de barris de petróleo por dia, mas exporta metade desse óleo bruto e importa 170 mil barris de derivado de petróleo por dia. O lógico seria a Petrobras investir nas suas refinarias para importar menos e exportar mais combustíveis. Mas o governo Bolsonaro faz exatamente o oposto, vende refinarias e campos no Pré-sal a preços “promocionais”. Uma delícia para as petroleiras estrangeiras que vão mandar o nosso petróleo para suas matrizes no exterior e depois trazer gasolina, diesel e outros derivados para nos vender em dólar, de acordo com o Preço de Paridade de Importação.

E falta transparência. Não se divulga o preço médio do barril de petróleo produzido pela Petrobras, só não negam que é muito mais barato que o valor do mercado internacional. É um crime de lesa-pátria desmantelar a Petrobras e deixar o Brasil dependente das grandes petroleiras transnacionais. Bolsonaro dissimula culpando governadores, o ICMS e até a própria Petrobras. Agora frita mais um militar de alta patente, o general Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobras. Nunca as Forças Armadas foram tão manipuladas, expostas, humilhadas. E justo pela incontinência de um capitão chamado de “mau militar” por ninguém menos que o presidente general Ernesto Geisel.

Desde 2016, quando do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), a inflação acumulou 31,5%, enquanto a gasolina e o diesel encareceram 157%, em média, e o gás de cozinha 349%. Nada justifica isso. O litro da gasolina custa R$ 3,63. Hoje custa R$ 7,40. Lá no Jordão, no coração da floresta, o canoeiro abastece seu motor de popa com gasolina de R$ 12. No interior do Acre, a mãe de família paga até R$ 150 no botijão de gás. E não pense que essa exorbitância está longe de você. Bolsonaro pode segurar os preços dos combustíveis até a eleição, mas com ele a gasolina de dois dígitos virá mais cedo ou mais tarde. Só uma mudança em outubro evita isso.

Artigo publicado originalmente no Poder 360

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