Inflação dos combustíveis é o novo tormento de Bolsonaro, diz pesquisa

Rejeição ao governo é mais alta (55%) entre quem ganha até um salário mínimo e ainda maior (58%) entre quem ganha de um a dois salários mínimos

A pesquisa BTG/FSB divulgada nesta segunda-feira (21) não deixa dúvidas: a inflação sem fim dos combustíveis se tornou o novo tormento do presidente Jair Bolsonaro. O pagamento das primeiras mensalidades do Auxílio Brasil era a aposta do governo para reduzir sua elevada rejeição. Ao que o levantamento indica, porém, a inflação anulou o trunfo eleitoreiro de Bolsonaro.

O principal indício desse descompasso é a sondagem de intenção de votos dos brasileiros nas eleições presidenciais de outubro. Na pesquisa estimulada, o ex-presidente Lula lidera com 43%, bem à frente de Bolsonaro, que tem 29%.

Mas, entre os eleitores que receberam ao menos uma parcela do Auxílio Brasil, a vantagem de Lula é ainda mais dilatada: 59% a 17%. Os beneficiários do programa correspondem a 9% dos brasileiros. Outros 9% não recebem, mas moram com algum beneficiário. Nesse segmento, o ex-presidente bate o atual mandatário por 58% a 25%.

Bolsonaro se sai melhor, curiosamente, no conjunto dos 82% que nem recebem o Auxílio Brasil nem moram com um beneficiário. O presidente tem 30% de intenções de votos nesse grupo, ante 40% de Lula.

Outro dado da pesquisa sugere uma explicação para a ineficácia do Auxílio Brasil como a “bala de prata” do bolsonarismo. Hoje, 53% consideram a gestão Bolsonaro “ruim” ou “péssima”. A rejeição ao governo é mais alta (55%) entre quem ganha até um salário mínimo e ainda maior (58%) entre quem ganha de um a dois salários mínimos.

Embora esse seja o público-alvo do Auxílio Brasil, trata-se também dos mais afetados pela inflação de Bolsonaro. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o impacto da alta de preços em 2021, alta para todos, foi 6% maior para os brasileiros de renda baixa (inferior a R$ 1.808,79).

Diante de notícias como a disparada dos preços dos combustíveis – que mostram a dramática persistência da inflação –, os mais pobres “dão o troco” em Bolsonaro. Além de ficarem mais convictos na desaprovação ao governo, eles associam cada vez mais o presidente à crise econômica.

Essa tendência fica clara na pesquisa BTG/FSB. Entre os que rejeitam o governo, 45% atribuem a ele a responsabilidade pelo aumento no preço dos combustíveis, e 21% culpam a política de preços de Petrobras. São dois terços de brasileiros anti-Bolsonaro, portanto, que enxergam um DNA do governo federal, direta ou indiretamente, na alta dos preços.

Já na faixa dos 29% que apoiam o governo, apenas 5% o responsabilizam pela inflação da gasolina, do álcool e do gás de cozinha. Para 35% desses apoiadores, os governadores é que são os principais responsáveis pela crise dos combustíveis, em virtude dos impostos estaduais. Outros 25% dos pró-Bolsonaro acreditam que a guerra na Ucrânia é que provocou o novo pico inflacionário.

Polarização

Do ponto de vista eleitoral, afora a contundente vantagem de Lula sobre Bolsonaro, sobressai na pesquisa o encolhimento da terceira via. Os pré-candidatos Ciro Gomes (PDT, 9%) e Sergio Moro (Podemos, 8%) se mostram um pouco mais competitivos. Na faixa dos 2%, encontram-se empatados João Doria (PSDB), André Janones (Avante) e Eduardo Leite (PSDB). Simone Tebet (MDB) tem 1%, e Felipe D’Ávila (Novo) não pontuou.   

“A primeira rodada da pesquisa BTG/FSB consolida o favoritismo de Lula e Bolsonaro na corrida por uma vaga no 2º turno”, resume o Instituto FSB na apresentação do levantamento. “Todos os demais sete nomes somam, juntos, apenas 24%.”

Conforme a sondagem, na hora de definir o voto, os atributos que os eleitores mais valorizam nos presidenciáveis são “o programa de governo” (29%) e “a experiência prévia do candidato como gestor público” (27%). Uma e outra opção favorecem os nomes mais conhecidos do eleitorado, acentuando a polarização. Somente 11% afirmam que jamais votariam nem em Bolsonaro nem em Lula

“O contexto de polarização política antecipou as decisões dos eleitores. Com isso, as possibilidades para candidatos fora Lula e Bolsonaro hoje são bem mais restritas”, diz André Jácomo, diretor da FSB Pesquisa.

O fator econômico, de qualquer maneira, estanca a força eleitoral do bolsonarismo. A pesquisa pergunta aos eleitores quem é o candidato mais preparado para “reduzir a pobreza”, “manter ou mesmo ampliar os programas sociais de distribuição de renda”, “gerar empregos”, “controlar o aumento dos preços”, entre outras ações. Lula é o nome mais citado em todos os quesitos. Não à toa, num eventual segundo turno, o petista venceria Bolsonaro por 54% a 35%.

A pesquisa BTG/FSB ouviu 2 mil eleitores, de 18 a 20 de março. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Autor