As mulheres na construção do centenário do PCdoB, por Vanessa Grazziotin

Entre os 9 delegados fundantes do PCdoB, nenhum era mulher. Mas naquele ano, Rosa de Bittencourt, líder operária de Petrópolis, ingressaria no partido, sendo a primeira de muitas a construir uma rica história

Militante do PCdoB Helenira Rezende, presa no Congresso da UNE e depois assassinada na guerrilha do Araguaia (Foto: Memórias da Ditadura)

O Partido Comunista do Brasil completa um século de existência na próxima sexta-feira, 25 de março. Em 1922, um grupo de nove delegados fundou o Partido dos comunistas e, nestes cem anos, é imensa a lista de contribuições que deram ao desenvolvimento do país, à democracia e à conquista de direitos para o povo trabalhador e para as mulheres.

Entre os nove delegados fundantes do PCdoB, nenhum era mulher. Mas naquele ano, Rosa de Bittencourt, líder operária de Petrópolis, ingressaria no partido, sendo a primeira de muitas a construir uma rica história, de coragem e compromisso com o Brasil.

Ao legado de incentivo à participação política, o Partido agregou crescente e pioneira elaboração sobre a emancipação das mulheres: por um lado, a presença feminina na agremiação, e, por outro, a elaboração institucional do partido sobre a luta das mulheres.

Hoje, o PCdoB se orgulha de ter uma mulher como presidente nacional, duas vice-presidentes e, historicamente, ser uma das bancadas com o maior percentual de mulheres deputadas.

Ao olhar para as conquistas percebemos quantas verdadeiras heroínas pavimentaram a estrada para que chegássemos até aqui. Já em 1917, as mulheres estiveram na linha de frente da grande greve geral. Elas eram a maioria da classe trabalhadora e reivindicavam melhores condições de trabalho, aumento salarial, fim do trabalho infantil e redução das cargas horárias exaustivas.

Passando pela ebulição da década de 20, o PCdoB expressa a necessidade de filiar mais mulheres, conforme resolução de seu 2º Congresso. Em 1930, Erecina Borges de Lacerda foi a primeira mulher a integrar a instância máxima de direção partidária. Alguns meses antes da Revolução de 1930, os comunistas reivindicaram, a propósito do 8 de Março: salário igual para trabalho igual; dia de 6 horas; repouso pago de quatro meses para as parturientes; proteção ao trabalho feminino; creches junto aos locais de trabalho; licença para amamentar os filhos; direito de voto e direitos de família iguais aos dos homens. Bandeiras avançadas, encampadas pela militância comunista com coragem e pioneirismo.

Nos anos 1930, muitas intelectuais e artistas ingressaram no Partido, entre elas, as escritoras Eneida Moraes da Costa, Patrícia Galvão (Pagu) e Raquel de Queiroz; e a pintora Tarsila do Amaral. As mulheres foram ocupando espaços entre os comunistas.

Em 1947, o Partido, pela primeira vez, elege várias mulheres, muitas delas pioneiras da política institucional:  Adalgisa Cavalcanti, primeira deputada estadual de Pernambuco; Odila Schmidt e Arcelina Rodrigues Mochel – duas das quatro eleitas para a Câmara do Distrito Federal, à época, o Rio de Janeiro; No 4º Congresso do PCdoB o tema Mulher é tratado em um ponto separado e sensivelmente mais detalhado que os registros partidários anteriores. Nele, várias mulheres foram eleitas para o Comitê Central.

Em 1956, é realizada a Conferência Nacional Sobre o Trabalho do Partido entre as Mulheres, 4ª Conferência do Partido.

Após um período de intenso debate interno, o PCdoB se reorganizou em 1962 e, a partir de 1964, muitas militantes comunistas se engajaram na resistência à ditadura. Algumas foram presas no Congresso da UNE de Ibiúna, em dezembro de 1968 como Helenira Rezende, assassinada depois na guerrilha do Araguaia. Outras tantas cairiam em circunstâncias diversas nas mãos dos órgãos de repressão.

No início de 1979 o Comitê Central intensifica a tarefa de organizar o movimento de mulheres do PCdoB e, a partir daí, ampliou-se sobremaneira o trabalho das comunistas. Em 1982, ainda na clandestinidade, o Partido elege, várias mulheres pela sigla do partido oposicionista, o  MDB.

Neste último período de democracia no país, e juntamente com Dilma Rousseff, a primeira mulher presidenta do Brasil, fui eleita a primeira senadora comunista, compartilhando os espaços políticos com muitas mulheres guerreiras de diversos partidos. Pelo PCdoB já ocuparam ou ocupam cadeiras no parlamento federal, Alice Portugal, Ângela Albino, Lídice da Mata, Luciana Santos (hoje vice-governadora de Pernambuco e presidente nacional do PCdoB), Jandira Feghali, Manuela D´Ávila, Jô Moraes, Socorro Gomes, Tania Soares, Professora Marcivânia e Perpétua Almeida.  Mas são apenas algumas que destaco entre as muitas mulheres que também foram ou são protagonistas nessa história de cem anos.

E para celebrar a nossa histórica centenária, realizaremos nos dias 25 e 26 próximos, o Festival Vermelho, em Nitérói, cidade onde nosso Partido foi fundado. As mulheres terão uma programação especial no evento e esperamos todas e todos de braços abertos, para juntos comemorar essa data tão especial.

Com informações de estudo realizado pela pesquisadora Mariana Venturini

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