Zelensky cassa 11 partidos políticos na Ucrânia

A pretexto da lei marcial, Zelensky proibiu hoje 11 partidos políticos, do centro à esquerda, na Ucrânia, incluindo o maior da oposição. A extrema-direita, por seu lado, não vê qualquer restrição à sua atividade.

O autoritarismo do personagem de ficção que metralha o parlamento se materializa no presidente que cassa partidos políticos l Foto: Reprodução

“Primeiro vieram buscar os comunistas (…)”, lembrava Bertolt Brecht, e agora, por fim, levam o que restava do centro/centro-esquerda ucraniano. O processo de “descomunização”, em marcha desde 2015, que resultou na cassação e perseguição do Partido Comunista da Ucrânia, aproveita o contexto da guerra para afastar os restantes rostos da oposição anti-OTAN/anti-corrupção ao governo de Zelensky.

Sob pretexto de se tratarem de partidos “pró-russos”, uma narrativa rapidamente adotada pelos meios de comunicação ocidentais, 11 partidos, com ou sem assento parlamentar, foram impedidos de exercer a sua função principal numa democracia: exercer a representação política dos seus eleitores e militantes.

O Ministério da Justiça da Ucrãnia terá agora de “tomar imediatamente medidas abrangentes para proibir as atividades desses partidos políticos”.

A explicação dada pelo presidente ucraniano, numa declaração proferida no domingo (20), na qual anuncia o prolongamento da lei marcial por um novo período de 30 dias, falha na prova dos fatos. Muitos destes partidos, acusados de pró-russos, participam ativamente na defesa da Ucrânia. Há pouca margem para interpretar esta ação que não seja a de afastar o que resta da oposição ao seu mandato, e aos interesses que ele serve.

A Plataforma de Oposição – Pela Vida, que nas eleições parlamentares de 2019 ficou em segundo lugar, com 13,05% dos votos e 43 assentos no parlamento, não só denunciou publicamente a invasão da Rússia, chegando mesmo a expulsar um deputado por não o fazer e remover um vice-presidente com ligações a Vladimir Putin, como incitou à participação nas milícias de defesa do país. Nada impediu a suspensão.

No caso do Socialistas, um pequeno partido político que defende a reintegração da Crimeia na Ucrânia, ao mesmo tempo que defende a nacionalização de vários importantes setores da economia ucraniana e o combate à corrupção nas instituições governamentais.

O verdadeiro crime destas formações políticas, algumas com quase 30 anos de atividade, foi, em alguns casos, continuarem a defender posições anti-OTAN ou representarem as populações russófilas do país,  enquanto outros, apoiadores do projeto europeu, se limitam a defender uma solução pacífica para o conflito no Donbass e se opõem aos ímpetos privatizantes do governo de Zelensky.

O projeto iniciado em nas manifestações da Praça Maidan, em 2014/15, concluiu finalmente um dos seus principais objetivos políticos: afastar todos os grupos partidários que contestem a hegemonia dos interesses econômicos norte-americanos na Ucrânia.

Para além da Plataforma de Oposição – Pela Vida, também os partidos Sharia, Nosso, Bloco de Oposição, Oposição de Esquerda, União das Forças de Esquerda, Estado, Partido Socialista Progressista da Ucrânia, Partido Socialista, Socialistas e Bloco de Volodymyr Saldo, foram suspensos.

A necessidade de uma “política de informação unificada” levou Zelensky a assinar um decreto que funde todos os canais de informação, públicos e privados, num único órgão informativo, sob gestão da presidência da república da Ucrânia.

Fonte: AbrilAbril