Milícias colombianas ameaçam assassinar líder indígena Wayú e sua família
Miguel Iván Ramírez Boscán ouviu pelo celular seu nome completo, identidade e endereço, antes de ser intimidado e declarado “alvo militar”.
Publicado 07/06/2022 19:02 | Editado 07/06/2022 19:03
O líder indígena Wayú, Miguel Iván Ramírez Boscán, irmão da representante eleita à Câmara pelos colombianos no exterior, Carmem Ramírez, foi ameaçado de morte por milicianos nesta segunda-feira (6). Esta é a terceira tentativa de intimidar explicitamente a atuação política do dirigente, que tem destacada atuação na área comunitária e de defesa dos direitos humanos no departamento (Estado) Guajira, no Mar do Caribe. Nas duas primeiras vezes, o grupo paramilitar Águias Negras – o chamado Clã do Golfo – emitiu panfletos assinados, amplamente divulgados nas redes sociais.
Agora, informou Miguel, um homem com sotaque interiorano, que dizia ser membro do Clã do Golfo, ligou para ele repetindo o seu nome completo, informou o número da carteira de identidade e o endereço de sua residência em Maicao, cidade localizada no centro-leste de La Guajira.
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Quando o dirigente utilizou o celular para gravar a chamada, o miliciano disse: ‘Não se preocupe, Don Miguel, não se preocupe, grave a ligação, patrão, eu tenho, são requisitos, você entende… Não se preocupe, Don Miguel, porque se você é uma pessoa que gosta de informar a polícia, eu imediatamente dou a ordem para declará-lo alvo militar…’. Depois disso, a pessoa ameaçadora encerrou a ligação”, relatou.
Diante do ocorrido, a Força Feminina Wayú fez uma conclamação para que sejam garantidos mecanismos para salvaguardar a vida de Miguel, que realiza um reconhecido trabalho comunitário, bem como da sua família. “Urgente e imediatamente, solicita-se a prestação de garantias investigativas e de proteção para Miguel Ramírez Boscán, bem como para a mãe”, esclarece a entidade.
A irmã, Carmem Ramírez, é uma ativista feminista e ambientalista do partido Colômbia Humana e do Pacto Histórico. Ela teve que deixar o país em 2011 após receber sucessivas ameaças de morte, passando a viver em Berna, na Suíça.
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Reunião urgente
Com o segundo turno das eleições presidenciais marcadas para o próximo dia 19 de junho, começaram a circular novos grupos armados no departamento – onde o candidato oposicionista Gustavo Petro, do Pacto Histórico, venceu a ultradireita. Ocorreram incursões aterrorizantes nas comunidades, o que torna fundamental a presença da Unidade Nacional de Proteção (UNP) no âmbito de um sistema de segurança coletiva, alertam os Wayú.
Com o voto não sendo obrigatório na Colômbia, há quase duzentas cidades dominadas pelos paramilitares que impõem toque de recolher, na tentativa de evitar a vitória de Petro.
Pela inoperância – e complacência – do governo de Iván Duque, que aposta todas as suas fichas na candidatura de Rodolfo Hernández, que já se confessou um admirador de Adolf Hitler, a Força Feminina Wayú faz um apelo à solidariedade.
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“Pedimos às organizações departamentais, nacionais e internacionais que demonstrem e estendam este apelo à paz, para que o trabalho dos nossos processos comunitários não seja silenciado pelo fuzilamento daqueles que se opõem a viver num território mais justo, livre dos ultrajes da corrupção e interesses transnacionais alheios às nossas lutas e lemas de vida”, concluiu o comunicado.
A campanha de Petro defende um governo que faça respeitar o artigo 12 da Constituição colombiana, que estabelece que “ninguém será submetido à desaparição forçada, a torturas nem a maus tratos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes”. Na tradução dos Wayú: “Ninguém poderá levar por cima de seu coração a ninguém e nem poderá fazer-lhe mal, ainda que pense e fale diferente”.