Prisão de ex-ministro de Bolsonaro escancara corrupção no governo

Milton Ribeiro, por quem o presidente colocaria “a cara no fogo”, foi pego em gravação dizendo que atendia pedido do pastor Gilmar Santos, também preso, a pedido do presidente

O ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, com os pastores Arilton Moura (ao fundo) e Gilmar Santos em culto em Goiânia - Reprodução/Redes sociais

A prisão nesta quarta-feira (22) do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e o pastor Gilmar Santos tem potencial devastador para a imagem de Bolsonaro. O presidente, que se elegeu com a bandeira de combate à corrupção, tem ligação direta com o caso que resultou na operação “balcão” da Polícia Federal (PF).    

Antes de deixar o cargo, após o escândalo envolvendo a liberação de verbas da pasta por influência de pastores, Ribeiro foi gravado com a seguinte declaração: “Minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar, porque foi um pedido especial que o presidente fez para mim”.

Na ocasião, Bolsonaro afirmou que colocaria “a cara no fogo” pelo ministro que confessou atender os pedidos de Gilmar e Arilton Moura. Os pastores pediam propina a prefeitos em troca de liberação de verbas da pasta.

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A oposição no Congresso reagiu de imediato. “Ministro do governo sem corrupção indo preso por ter instalado uma quadrilha do corruptos no MEC. Bolsonaro colocou a mão no fogo por Milton Ribeiro e acabou incinerado”, afirmou o vice-líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Orlando Silva (SP).

“Lembra quando Bolsonaro disse que colocava ‘a cara no fogo’ por Milton Ribeiro? Pois é, o ex-ministro acaba de ser preso”, recordou também a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) disse que são vários escândalos de corrupção marcaram a gestão de Ribeiro no MEC: corrupção na liberação de recursos públicos e tráfico de influência. “A educação não é mercadoria!”, criticou.

“Balcão do MEC é quebrado!!! Ex-ministro Milton Ribeiro e mais quatros suspeitos de operar esquema de corrupção no ministério são presos pela PF!”, postou a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA).

Na avaliação da deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT, trata-se de um péssimo dia para o “governo corrupto de Jair Bolsonaro”. “PF prende ex-ministro Milton Ribeiro e pastor cabeça da organização criminosa, que cobrava propina em barra de ouro pra liberar verba da educação. Até outro dia Bolsonaro dizia que colocava que colocava a cara no fogo por ele”, diz.

O deputado Zeca Dirceu (PT-PR) destacou que o pastor preso na operação esteve 45 vezes visitando Bolsonaro no Palácio do Planalto. “Corrupção nunca foi tão grande!”, disse.

Bolsonaro com o pastor Gilmar (Foto: Marcos Corrêa/PR)

CPI

No Senado, o caso deu gás para a instalação de um CPI. O líder da oposição na Casa, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), lembrou que faltam poucas assinaturas para dar entrada no pedido. “Aos interessados quero lembrar que faltam apenas duas assinaturas para pedirmos a CPI do MEC. Por tudo que conseguimos apurar através da Comissão de Educação do Senado, o #BolsolaodoMEC é ainda maior do que parece. Tem que prender quem manda também!”, escreveu no Twitter.

De acordo com ele, é compreensível agora por que o Governo Bolsonaro se esforçou tanto para retirar assinaturas da CPI do MEC. “Ainda em abril, nós precisávamos apenas de mais duas. Agora sabemos a razão! O Bolsolão do MEC já é o maior escândalo de corrupção da história!”, disse.

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