Protesto indígena derruba quatro ministros do Equador

O governo de Lasso, um ex-banqueiro de direita que assumiu há 13 meses, enfrentou uma onda de protestos organizados pela Confederação de Nacionalidades Indígenas. Ministros de Economia, Saúde, Obras Públicas e Ensino Superior do Equador renunciam

Protestos da Conaie já foram responsáveis pela queda de três presidentes do Equador de 1997 a 2005.

O governo do presidente do Equador, Guillermo Lasso, anunciou nesta terça-feira (5) que o ministro da Economia, Simón Cueva, e outros três membros do gabinete renunciaram após os protestos contra o alto custo de vida no país, que deixaram seis mortos e mais de 600 feridos. Também renunciaram os titulares das pastas de Saúde, Ximena Garzón, de Transporte e Obras Públicas, Marcelo Cabrera, e da Educação Superior, Alejandro Ribadeneira.

A Secretaria de Educação não conseguiu retomar as aulas presenciais após a pandemia, já que não há orçamento suficiente para o básico. Na Saúde, os profissionais dos hospitais reclamam que não há insumos mínimos para funcionamento. Na Economia, o ministro só sabe fazer ajuste fiscal para manter todas as demais pastas sem orçamento, enquanto aumenta impostos para manter metas de US$ 6,5 bi com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O governo de Lasso, um ex-banqueiro de direita que assumiu há 13 meses, enfrenta a onda de protestos organizados pela Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), há 18 dias. Com bloqueio de estradas federais e marchas em várias cidades, incluindo Quito, os indígenas apresentaram uma série de demandas como a redução nos preços de combustíveis em 21% e limites à expansão da mineração.

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As manifestações foram encerradas após a assinatura, na última quinta-feira, de uma “ata de paz” na qual o Executivo se comprometeu a reduzir em até 8% os preços dos combustíveis mais utilizados no país, desconto que entrou em vigor na sexta-feira (1). O acordo afastou a possibilidade de impeachment de Lasso.

Com o acordo firmado na semana passada, a Conaie, maior organização indígena do país, afirmou que considera oficialmente encerrada o que chama de primeira etapa dos atos e que, em 90 dias, avaliará o cumprimento dos compromissos firmados.

O governo conservador aprovou outras compensações para agricultores e desfavorecidos que lhe custarão US$ 700 milhões por ano. As medidas incluem aumento de um bônus de assistência aos mais pobres, subsídios para insumos agrícolas e o perdão de dívidas com entidades públicas de até US$ 3.000.

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O Executivo também revogou um decreto para a entrega de novos campos de petróleo, que era um pedido da Conaie. O decreto permitia ao Estado ampliar as fronteiras de extração de combustíveis fósseis, em grande parte na região da Amazônia equatoriana.

Entre os compromissos, a administração de Lasso também deverá definir a canalização de mais subsídios para combustíveis do setor rural.

As manifestações causaram prejuízos de cerca de US$ 1 bilhão, boa parte no setor petroleiro, segundo o Banco Central.

O governo chegou a decretar estado de exceção em quatro províncias. A medida permitia o uso de militares nas ruas e a suspensão do direito de livre associação, além de instituir toque de recolher.

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