Em SP, ato presta solidariedade e celebra a resistência do povo cubano

No encontro, Frei Betto, o cônsul-geral de Cuba em São Paulo Pedro Monzón, o membro do MST Marcelo Buzetto e a integrante do Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba (MPSC) Vivian Mendes participaram de debate.

Foto: Murilo da Silva

Aconteceu na sexta-feira (29), na sede nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), em São Paulo, o ato em solidariedade a Cuba e ao povo cubano. Na ocasião, aproximadamente cem pessoas se reuniram para um debate seguido de apresentação musical cubana. A mesa do debate foi composta pelo cônsul-geral de Cuba em São Paulo, Pedro Monzón, o membro da Coordenação Estadual do MST em São Paulo, Marcelo Buzetto, a integrante do Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba (MPSC) Vivian Mendes e como convidado especial, Frei Betto.

O encontro organizado pelo MPSC acontece no ensejo das comemorações do “26 de julho”, dia em que o processo revolucionário, liderado por Fidel Castro, investiu contra o quartel Moncada e marcou o início do Movimento Revolucionário 26 de Julho (MR26).  A partir da data os rebeldes cubanos iniciaram o processo que viria a desaguar na vitória em 1° de janeiro de 1959. Todos os anos a data é celebrada não só pelos cubanos, mas pelos amigos da causa cubana.

Dia da Rebeldia Nacional

Cônsul-geral de Cuba em São Paulo, Pedro Monzón. Foto: Murilo da Silva

No encontro, o cônsul de Cuba agradeceu a todos pelo ato e por todas as iniciativas de apoio. “Sentimos que a solidariedade no âmbito material é muito importante, mas a companhia espiritual é mil vezes mais importante.”

Em sua fala, Pedro Monzón explicou que em 26 de julho de 1953 foi o ano que se comemorou o centenário de nascimento do apóstolo cubano da independência José Martí, ocasião em que um grupo de rebeldes encabeçados por Fidel Castro atacou importantes baluartes militares da tirania do ditador Fulgêncio Batista, na zona oriental de Cuba: os quartéis militares Moncada e Cespedes.

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“Mesmo que esta ação tenha terminado em derrota, na realidade constituiu o início da última etapa da luta pela independência do país que começou em 1868. Naquela longínqua data o objetivo dos rebeldes foi colocar fim ao domínio colonial espanhol, no qual estivemos submetidos por mais de 400 anos. De fato, Cuba foi a última colônia a separar-se do controle espanhol”, salientou Monzón.

Assim, os acontecimentos de 26 de julho, que ocasionaram a constituição do MR26, são simbólicos para o povo cubano, por isso a data é conhecida como o Dia da Rebeldia Nacional.

“Essa atitude rebelde dos companheiros marcou para sempre a conduta do povo cubano, que não se rendeu e não se renderá. Nunca daremos espaço à ideia de derrota, nem sacrificaremos a unidade do povo, essas são lições que aprendemos das ideias de Fidel”, exaltou o cônsul.

Não se derruba um povo

Frei Betto fala em ato de solidariedade a Cuba. Foto: Murilo da Silva

O ato em solidariedade ao povo cubano contou com a presença de Frei Betto, que há 41 anos desenvolve trabalhos em Cuba. O autor de mais de 70 livros, entre eles Batismo de Sangue (1982), pelo qual ganhou o Jabuti, principal prêmio literário do Brasil, contou que atualmente assessora o governo cubano e a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) em um programa de soberania alimentar e educação nutricional.

“É um programa iniciado em 2019, considerado como prioritário pelo governo cubano e já foi transformado em Lei. O MST tem dado ajuda substancial na questão das sementes e do intercâmbio. Acabou de chegar ao Brasil uma missão cubana enviada pela FAO para conhecer inovações agrícolas, plantações e manejo de sementes”, relatou.

Sobre a situação de Cuba, Frei Betto explicou que quatro fatores afetam o país: o aperto do bloqueio econômico pelos EUA com 243 novas medidas de Trump mantidas por Biden; a pandemia de covid-19 que afetou o turismo; a guerra entre Ucrânia e Rússia, fornecedores de insumos para o país; e as mudanças climáticas que aumentaram o período de secas.

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Apesar desses fatores, o Frei indica que o povo cubano tem uma resiliência muito grande e a Casa Branca sabe disso.  “Muitos amigos me perguntam por que os Estados Unidos, que já invadiram tantos países, não acabam com Cuba?”.

Situação em que responde: “Os EUA não são idiotas. Eles aprenderam com a história que é fácil derrubar governos, mas não se derruba um povo. Eles aprenderam isto na Baía dos Porcos e no Vietnã.  Portanto, sabem que agredir Cuba diretamente é enfrentar não um governo, mas sim enfrentar um povo. E esse povo tem muito orgulho da sua cubanidade. Tem muito orgulho da sua independência, da sua soberania, de ser o único país totalmente livre da interferência do imperialismo na América Latina e no Caribe”, exaltou Frei Betto.

Resistência

Vivian Mendes do Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba (MPSC). Foto: Murilo da Silva

Já a representante do MPSC, Vivian Mendes, destacou que o povo brasileiro precisa se inspirar nos ensinamentos de Cuba para combater o fascismo.

“Eles [cubanos] deram o exemplo para nós mais uma vez. E mais uma vez está na nossa hora de se inspirar e seguir o exemplo cubano para mobilizar o nosso povo e impedir as ameaças golpistas que enfrentamos em nosso país. Assim podemos construir, de fato, uma nova realidade a partir de tantas dificuldades que vemos o nosso povo passar”, aponta.

De acordo com Mendes, o fascismo precisa do medo e da intimidação para criar o clima de repressão na sociedade. Nesse ponto, o povo cubano é o exemplo de que é possível resistir às ameaças, com a população na rua, de forma organizada, utilizando a alegria como ferramenta.

“Aprendemos todos os dias com o povo cubano, que enfrenta todas as suas dificuldades, todos os desafios com muita alegria, com muita altivez e muita autoridade. Essa é a autoridade daqueles que constroem um mundo novo, constroem o socialismo”, falou Mendes ao indicar a superação enfrentada por Cuba ao embargo econômico com o isolamento promovido por potências internacionais encabeçada pelos Estados Unidos.

“Eu vi a revolução cubana chegando”

Marcelo Buzetto do MST-SP. Foto: Murilo da Silva

Em sua fala, Marcelo Buzetto falou das iniciativas do MST em São Bernardo do Campo, precisamente no bairro do Montanhão. O local recebeu, recentemente, uma delegação cubana conduzida pelo cônsul Mónzon.

Há 20 anos é desenvolvido um trabalho de base no Montanhão pelo MST. Na localidade funciona a biblioteca popular Carlos Marighella, o cursinho popular Marielle Franco, uma horta comunitária e uma cozinha solidária junto aos companheiros do MTST.

Na oportunidade da visita, uma ação conjunta do MST e do MTST inaugurou no bairro o espaço cultural Fidel Castro.

“O companheiro Pedro Monzón e a delegação do consulado estiveram presentes na inauguração. Ali eu tive a dimensão do que é a Revolução Cubana. Fiquei olhando o Pedro falar para as pessoas do Montanhão sobre como o povo cubano resolveu problemas fundamentais da saúde e educação. Como investiu em cultura e esporte e na melhoria da qualidade de vida. Eu vi a revolução cubana chegando nesse bairro”, relatou Buzetto.

“Uma cidade como São Bernardo do Campo, que já foi chamada de a Detroit brasileira pela quantidade de empresas automobilísticas, a gente vê que muitas lideranças políticas da cidade nunca pisaram no chão desse bairro chamado Montanhão. Porém, ali estavam representantes da Revolução Cubana”, completou o membro do MST de São Paulo.