“Em Casa com os Gil” reúne arte, família e política. Você já assistiu?

A turnê internacional da família Gil acabou esta semana. Mas o documentário é um verdadeiro tesouro para os dias atuais. Nele é lembrado quando Gilberto Gil, ministro da cultura, tocou Touche Pas à Mon Pote e Toda menina baiana na sede da ONU, em Nova York – época em que o Brasil era respeito no mundo.

Foto: Reprodução Amazon Prime Video

Um adepto da bondade radical! É assim que Gilberto Gil se define na série com a sua família: Em Casa com os Gil. O documentário estreou no final de junho pela plataforma Amazon Prime Video e mostra o dia a dia da família em preparação para uma turnê mundial. A proposta da turnê que rodou por diversos países e foi encerrada esta semana foi ter somente a família no palco.

E para isso não faltou talento, pois todos os membros da família têm musicalidade de berço.

Nos 5 episódios é possível se deleitar com as canções escolhidas, e defendidas, um por um por, além de saber mais sobre momentos especiais na vida de Gilberto Gil e da sua família.

Ideia da turnê

Preta Gil lançou a ideia, quase sem querer, em um grupo da família de Whataspp, enquanto acontecia a turnê Refavela 40 na Europa. Ela disse que tinha o sonho em realizar uma turnê com o pai ou uma viagem, pois nunca tinha visitado o velho continente com ele. A partir daí Flora Gil, empresária e esposa do cantor, começou a dar corpo ao projeto.

“A gente deve à Preta essa ideia de tudo”, disse Flora.

Assim, a família esteve em Araras, região serrana do Rio de Janeiro, na ocasião do aniversário de 79 anos de Gilberto Gil (hoje ele já completou 80 anos). Com isso, o encontro que reuniu do bisavô à bisneta foi onde o repertório foi deliberado e ensaiado para a turnê que viria se chamar “Nós, a Gente”.

Período no exílio

Durante a série Gilberto Gil fala sobre diversos momento da sua vida e, consequentemente, da família. Em certa passagem trata sobre a sua prisão durante a ditadura militar e o período que ficou exilado em Londres.

“Era um sentimento de constrangimento permanente, sua liberdade tolhida, o seu destino, de certa forma interrompido. Até ali era a vida em diálogo comigo, mas eu com as rédeas do próprio destino, aonde eu vou, o que é que eu faço, o que eu quero fazer das minhas escolhas e tal. E quando você é preso tudo isso acaba”, manifesta o cantor.

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Ao longo dos episódios são recuperadas cenas da visita que Gilberto Gil fez em 2012 a Londres. Por lá foi até a rua em que ficava a sua residência na Kensington Park Mews, 9, e visitou uma loja de instrumentos que frequentava naquela época.

Na recente turnê europeia “Nós, a Gente”, em passagem por Liverpool, Gilberto Gil ganhou um tijolo com o seu nome na famosa parede da fama do Cavern Club, local onde os Beatles ganharam notoriedade. Na parede estão grafados os grandes nomes da música mundial.

Foto: Redes Sociais Gilberto Gil

Ministério da Cultura

Outro ponto alto da série traz o período em que Gilberto Gil se tornou ministro da Cultura do governo Lula. Sua filha, Maria Gil, que esteve como assessora particular dele lembrou: “Tinha um bolão que Gil não duraria 6 meses no ministério”. Gil ficou cinco anos e meio como ministro, entre 2003 e julho de 2008.

Em trecho recuperado, Gil como ministro diz: “Precisa acabar com essa história de achar que cultura é uma coisa extraordinária. Cultura é ordinária, cultura é igual a feijão com arroz, é necessidade básica. Tem que estar na mesa. Tem que estar na cesta básica de todo mundo”.

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Também é trazido quando Gil como ministro se apresentou no Dia Internacional da Paz na sede da ONU, em Nova York. No inesquecível momento, o ministro tocou Toda menina baiana com o ex-secretário geral da ONU e Nobel da Paz, Koffi Annan (1938-2018), na percussão.

No repertório também”Touche Pas À Mon Pote”, título de música de Gil que remete ao manifesto contra o racismo na França.

Enquanto ministro, Gil e Lula estiveram “portão do nunca mais”, na ilha de Gorée, no Senegal, ponto de saída dos navios negreiros. Com o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, Lula falou: “Milhões deixaram esse continente por essa ‘porta do nunca mais’: a porta da morte. Não tenho nenhuma responsabilidade pelo que aconteceu nos séculos 16, 17 e 18. Mas penso que é uma boa política dizer ao povo do Senegal e da África: perdão pelo que fizemos”.

Ilha de Gorée/Senegal – Ministro Gilberto Gil acompanhado pelo presidente Lula e pelo presidente do Senegal, Abdoulaye Wade. Foto: Ricardo Stuckert.

Luta antirracista

Em diversos momentos o racismo e a luta antirracista são debatidos pela família. Gilberto Gil durante os dias em Araras participa de um ato online contra o racismo e a censura na Fundação Palmares, realizado pela Alma Preta Jornalismo.

Próxima temporada?

Agora a Amazon pretende lançar a segunda temporada retratando como foi a turnê da família. Enquanto isso esperamos assistindo mais uma vez a primeira leva de episódios e curtindo as músicas escolhidas para a turnê.