“Em Casa com os Gil” reúne arte, família e política. Você já assistiu?
A turnê internacional da família Gil acabou esta semana. Mas o documentário é um verdadeiro tesouro para os dias atuais. Nele é lembrado quando Gilberto Gil, ministro da cultura, tocou Touche Pas à Mon Pote e Toda menina baiana na sede da ONU, em Nova York – época em que o Brasil era respeito no mundo.
Publicado 06/08/2022 10:00 | Editado 05/08/2022 16:17

Um adepto da bondade radical! É assim que Gilberto Gil se define na série com a sua família: Em Casa com os Gil. O documentário estreou no final de junho pela plataforma Amazon Prime Video e mostra o dia a dia da família em preparação para uma turnê mundial. A proposta da turnê que rodou por diversos países e foi encerrada esta semana foi ter somente a família no palco.
E para isso não faltou talento, pois todos os membros da família têm musicalidade de berço.
Nos 5 episódios é possível se deleitar com as canções escolhidas, e defendidas, um por um por, além de saber mais sobre momentos especiais na vida de Gilberto Gil e da sua família.
Ideia da turnê
Preta Gil lançou a ideia, quase sem querer, em um grupo da família de Whataspp, enquanto acontecia a turnê Refavela 40 na Europa. Ela disse que tinha o sonho em realizar uma turnê com o pai ou uma viagem, pois nunca tinha visitado o velho continente com ele. A partir daí Flora Gil, empresária e esposa do cantor, começou a dar corpo ao projeto.
“A gente deve à Preta essa ideia de tudo”, disse Flora.
Assim, a família esteve em Araras, região serrana do Rio de Janeiro, na ocasião do aniversário de 79 anos de Gilberto Gil (hoje ele já completou 80 anos). Com isso, o encontro que reuniu do bisavô à bisneta foi onde o repertório foi deliberado e ensaiado para a turnê que viria se chamar “Nós, a Gente”.
Período no exílio
Durante a série Gilberto Gil fala sobre diversos momento da sua vida e, consequentemente, da família. Em certa passagem trata sobre a sua prisão durante a ditadura militar e o período que ficou exilado em Londres.
“Era um sentimento de constrangimento permanente, sua liberdade tolhida, o seu destino, de certa forma interrompido. Até ali era a vida em diálogo comigo, mas eu com as rédeas do próprio destino, aonde eu vou, o que é que eu faço, o que eu quero fazer das minhas escolhas e tal. E quando você é preso tudo isso acaba”, manifesta o cantor.
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Ao longo dos episódios são recuperadas cenas da visita que Gilberto Gil fez em 2012 a Londres. Por lá foi até a rua em que ficava a sua residência na Kensington Park Mews, 9, e visitou uma loja de instrumentos que frequentava naquela época.
Na recente turnê europeia “Nós, a Gente”, em passagem por Liverpool, Gilberto Gil ganhou um tijolo com o seu nome na famosa parede da fama do Cavern Club, local onde os Beatles ganharam notoriedade. Na parede estão grafados os grandes nomes da música mundial.

Ministério da Cultura
Outro ponto alto da série traz o período em que Gilberto Gil se tornou ministro da Cultura do governo Lula. Sua filha, Maria Gil, que esteve como assessora particular dele lembrou: “Tinha um bolão que Gil não duraria 6 meses no ministério”. Gil ficou cinco anos e meio como ministro, entre 2003 e julho de 2008.
Em trecho recuperado, Gil como ministro diz: “Precisa acabar com essa história de achar que cultura é uma coisa extraordinária. Cultura é ordinária, cultura é igual a feijão com arroz, é necessidade básica. Tem que estar na mesa. Tem que estar na cesta básica de todo mundo”.
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Também é trazido quando Gil como ministro se apresentou no Dia Internacional da Paz na sede da ONU, em Nova York. No inesquecível momento, o ministro tocou Toda menina baiana com o ex-secretário geral da ONU e Nobel da Paz, Koffi Annan (1938-2018), na percussão.
No repertório também”Touche Pas À Mon Pote”, título de música de Gil que remete ao manifesto contra o racismo na França.
Enquanto ministro, Gil e Lula estiveram “portão do nunca mais”, na ilha de Gorée, no Senegal, ponto de saída dos navios negreiros. Com o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, Lula falou: “Milhões deixaram esse continente por essa ‘porta do nunca mais’: a porta da morte. Não tenho nenhuma responsabilidade pelo que aconteceu nos séculos 16, 17 e 18. Mas penso que é uma boa política dizer ao povo do Senegal e da África: perdão pelo que fizemos”.

Luta antirracista
Em diversos momentos o racismo e a luta antirracista são debatidos pela família. Gilberto Gil durante os dias em Araras participa de um ato online contra o racismo e a censura na Fundação Palmares, realizado pela Alma Preta Jornalismo.
Próxima temporada?
Agora a Amazon pretende lançar a segunda temporada retratando como foi a turnê da família. Enquanto isso esperamos assistindo mais uma vez a primeira leva de episódios e curtindo as músicas escolhidas para a turnê.